'Meus músculos ficavam todos contraídos': ela teve vaginismo após abusos
De Universa*
02/04/2024 04h00Atualizada em 02/04/2024 17h03
O abuso sexual que sofreu do próprio pai aos oito anos desencadeou em Esther* diversos traumas. Um deles é o vaginismo: uma dor extrema na hora da relação sexual, causada muitas vezes pelo medo e estresse excessivos, e que se caracteriza pela contração involuntária dos músculos da vagina —o que dificulta muito a penetração.
Esther descobriu o problema quando casou. Na noite de lua de mel não conseguiu ter relação com o marido. Foi preciso um ano de terapia para que o casal pudesse fazer sexo com penetração.
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"Aos oito anos sofri vários abusos do meu pai. Ele não me estuprou, mas aproveitava quando estávamos sozinhos para passar a mão em mim, me mostrar 'as coisas'. Não contei nada para minha mãe porque ele me ameaçava e dizia que ia matá-la. Até hoje ela não sabe. Meses depois, nasceu a minha irmã e ele parou. Os dois se separaram quando eu já tinha 20 anos e nunca mais o vi", diz Esther.
Ela conheceu o marido com 27 anos e, dois anos depois, se casaram. "Não consegui ter nenhuma relação com ele porque meus músculos ficavam todos contraídos, era algo involuntário. Ele só se masturbava. Como sabia dos abusos, compreendeu minha situação."
Demorou pouco mais de um ano até Esther receber o diagnóstico de vaginismo da ginecologista. Ela a encaminhou para a terapia sexual. Foram diversas sessões e exercícios, inclusive com dilatadores para o canal vaginal. No entanto, seu maior problema era o bloqueio emocional.
"Logo depois da primeira sessão, consegui ficar mais à vontade e ter relação com meu marido, mas me ardia muito. O sexo foi melhorando gradativamente. Precisei fazer muitos exercícios diariamente, principalmente com dilatadores. As dores passaram totalmente após dois meses. Hoje estou 90% bem. Ainda tenho um pouco de medo de sentir dor, e daquela sensação ruim do passado, mas prefiro seguir em frente", completou.
Medos e traumas
O vaginismo não tem uma causa orgânica, nem ocorre por causa de processos inflamatórios. Ele acomete de 3 a 5% das mulheres. Normalmente, parte de um medo ou trauma pelo qual a mulher passou. O problema pode acontecer em diferentes fases da vida, como por exemplo, depois de um parto malsucedido.
Depois do diagnóstico, que precisa ser feito por um ginecologista, o tratamento recomendado é a terapia. E uma das vertentes utilizadas nesses casos é a sexual. Nesse tipo de tratamento, são utilizados exercícios com dilatadores para relaxar a musculatura vaginal, entre outras técnicas.
A estudante Camila*, de 24 anos, não tinha um trauma, mas o relacionamento abusivo com o primeiro namorado dificultou sua vida sexual. Ela relata que sentia "uma dor absurda" durante o relacionamento, que não passava nem com anestésico ou bebida alcoólica.
Para completar, ela ainda se sentia culpada por não dar prazer para o companheiro. "Ele sempre dava um jeito de me fazer sentir mal", afirma. Após quatro meses de fisioterapia e com um novo namorado, mais delicado, as dores praticamente deixaram de existir.
"Comecei a namorar outra pessoa, e contei do vaginismo. Não deu certo na nossa primeira vez, até que um dia, despretensiosamente, conseguimos. Fiquei muito emocionada, ele foi um fofo e deu tudo certo".
Tabu e repressão
É importante lembrar que o vaginismo ou o bloqueio emocional que envolve o ato sexual pode ter a ver não só com abusos, mas com a repressão de sentimentos e emoções.
Isso porque muitas meninas são desencorajadas a se tocarem e acabam se distanciando do próprio corpo. Isso favorece a criação do medo de tudo que é íntimo, como a própria sexualidade.
A falta de educação sexual e o desencorajamento do autoconhecimento também são outros fatores que podem levar ao vaginismo.
Fonte: Paulo Tessarioli, psicólogo e especialista em sexualidade humana
*Com matéria publicada em 12/10/2018