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'Fui ao date com policiais': vítimas criam armadilha para golpista do amor

Tayara Banharo de Medeiros, 36, registrou boletim de ocorrência contra o suspeito Imagem: Arquivo Pessoal

Simone Machado

Colaboração para Universa, em São José do Rio Preto (SP)

03/04/2024 04h00Atualizada em 04/04/2024 10h45

Investigado por suspeita de aplicar golpes financeiros que totalizam R$ 1,6 milhão, Caio Henrique Camossato foi alvo de suas vítimas, treze mulheres que se juntaram para ajudar a Polícia Civil do Rio de Janeiro a prendê-lo.

Ele é acusado de cometer "golpes do amor", seduzindo mulheres em aplicativos de relacionamento.

O que aconteceu:

Camossato foi preso em um restaurante em Jacarepaguá, no dia 22 de março, ao ir para um encontro com uma mulher.

O que ele não sabia é que o encontro havia sido marcado por uma de suas vítimas. Ela criou um perfil falso e as conversas foram acompanhadas pela Polícia Civil.

Novo perfil em app motivou 'contragolpe'. A ideia de marcar um encontro e desmascarar o homem que praticava estelionato sentimental com diversas mulheres surgiu após a gerente de vendas Tayara Banharo de Medeiros, de 36 anos, descobrir que o suspeito havia feito um novo perfil em um aplicativo de relacionamento.

Ela e outras vítimas criaram um grupo de mensagens para trocar informações sobre o paradeiro dele.

Ao menos treze mulheres se uniram para expor que foram vítimas de Caio Henrique Camossato Imagem: Reprodução/Globoplay

"Fiz uma conta fake no aplicativo com a foto de uma amiga que sabia de tudo o que havia acontecido e fiz um WhatsApp falso, onde começamos a conversar. Comuniquei o advogado e a polícia. Fiquei conversando com ele e fiquei enrolando até sair o mandado de prisão.

Nesse tempo ele ficou nervoso porque eu enrolei para marcar um encontro presencial. Inventei desculpas como uma viagem, que meu filho ficou doente, sendo que nem tenho filho e assim fui ganhando tempo até sair o mandado de prisão. No dia do suposto encontro eu acompanhei os policiais e do carro vi tudo. Foi um momento de tensão, mas também alívio.
Tayara Banharo

Depósito de R$ 1.000 por 'CPF bloqueado'

Tayara conheceu o homem no ano passado. Ela depositou R$ 1.000 para ele, após ser seduzida.

Ele se mostrava muito atencioso. Quando comecei a conversar com ele por meio de um aplicativo, eu estava internada e ele logo quis me visitar no hospital. Quando tive alta, ele insistia para que nos encontrássemos. Mesmo no início eu não gostando muito dele, fui me envolvendo.
Tayara Banharo

Camossato se apresentava como empresário, produtor musical e agropecuarista, sempre falava dos trabalhos que dizia realizar e mostrava até mesmo supostas conversas com atores e cantores famosos.

Ele também buscava criar vínculos com as vítimas até mesmo apresentando as mulheres para a sua família e levando-as para seu suposto apartamento.

Quando conquistava a confiança, ele solicitava dinheiro a elas alegando problemas financeiros. Ele alegava ter contas bancárias bloqueadas e pedia ajuda às vítimas.

Um dia em que estava no apartamento dele, ele recebeu uma ligação. Dava a entender que era com um advogado e ele falava sobre problemas com o CPF, que isso teria causado o bloqueio de contas. Nesse dia ele me pediu R$ 1.000 emprestado para pagar um suposto funcionário, dizendo que me devolveria o valor até o final da semana, assim que resolvesse toda a situação.
Tayara Banharo

Término e a descoberta de novas vítimas

Após depositar o dinheiro em uma conta passada pelo suspeito, ele teria terminado o relacionamento. Ela conseguiu reaver o dinheiro após muita insistência e depois que registrou um boletim de ocorrência contra ele.

"Eu comecei a pesquisar sobre ele e não encontrava nada na internet. Entrei em contato com as assessorias dos atores e cantores que ele dizia trabalhar e ninguém o conhecia.

Então, descobri que ele havia me passado o sobrenome errado e quando busquei pelo nome verdadeiro vi que já havia processos contra ele. Quando falei que iria denunciá-lo à polícia e expor o caso ele passou a debochar de mim.
Tayara Banharo

Ainda no ano passado, após uma matéria sobre os supostos golpes aplicados por Camossato, Tayara conheceu outras mulheres que também haviam sido vítimas do homem. Elas criaram um grupo em um aplicativo de mensagens e passaram a compartilhar informações sobre o paradeiro dele.

Ao descobrirem que ele havia voltado a usar as redes sociais após meses afastado delas, as mulheres buscaram ajuda da Polícia Civil.

"Nesta semana, após a repercussão da prisão dele, mais dez mulheres que também teriam sido vítimas dele nos procuraram", conta Tayara.

Segundo O Globo, o homem fazia empréstimos com os nomes das vítimas, e o inquérito que rendeu o mandado da prisão foi de uma delas, que sofreu um golpe de R$ 500 mil — crime que pode dar cinco anos de prisão.

Ainda de acordo com o jornal, Caio foi condenado por estelionato em 2019, mas teve pena convertida em prestação de serviços comunitários.

Outro lado

Segundo a advogada de defesa Thaís Cremasco, a prisão é infundada e um pedido de liberdade já foi apresentado.

"Caio Henrique Camossato tem sido vítima de diversas acusações infundadas e, inclusive, algumas ações já foram julgadas improcedentes na esfera cível, área competente para análise de tais fatos. Os fatos em apuração dizem respeito a mero ilícito civil, resultado do descumprimento do que fora acordado entre as partes", afirmou ela, em nota.

Não há novas acusações contra o Caio e tudo o que se apura atualmente são fatos ocorridos, supostamente, há pelo menos dois anos. A defesa já apresentou pedido de liberdade uma vez que, diante da não contemporaneidade dos fatos, não se justifica a segregação cautelar", conclui o comunicado.

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