Pastor usava Bíblia para aproximação de vítima de importunação, diz polícia
Do UOL, em São Paulo
05/04/2024 14h25Atualizada em 05/04/2024 14h32
O pastor preso por suspeita de importunar sexualmente fiéis usava da hierarquia religiosa e versículos bíblicos para se aproximar das vítimas, afirmou a polícia.
O que aconteceu
Aproximação após relato de decepção amorosa. Uma das fiéis que denunciou Davi Passamani contou que ele passou a procurá-la pelas redes sociais após ela relatar um "problema emocional de relacionamento".
Prática sexual delituosa ocorreu virtualmente. Após ganhar confiança da vítima, o suspeito teria cometido a importunação sexual por ligação de vídeo.
Terceira investigação do tipo. Segundo a polícia, esta é a terceira vez que Davi Passamani é investigado por crimes sexuais cometidos contra fiéis. Em uma delas, ele precisou pagar uma indenização à vítima.
Prisão foi pedida por risco a outras fiéis, afirmou a polícia. A delegada responsável pelas investigações, Amanda Mennucci, afirmou que as diligências policiais mostraram que Davi oferecia risco às outras fiéis da igreja liderada por ele. Ele renunciou ao cargo de presidente da igreja após o início das investigações.
Ele se valeu da vulnerabilidade dela, que já havia descrito um problema emocional de relacionamento, então o pastor abordou ela nesse sentido, trazendo versículos bíblicos, uma conotação religiosa para o discurso, para o diálogo, ganhando ainda mais a confiança da vítima.
Delegada Amanda Mennucci, da Polícia Civil de Goiás
Defesa contesta alegações
Em nota, a defesa do pastor informou que prisão foi motivada pela presença dele em louvores. "A autoridade policial informou verbalmente a este advogado que o motivo da prisão seria o fato de Davi Passamani estar presente em louvores, e que isso representa risco à sociedade de ocorrência de possíveis novas vítimas de assédio", disse o advogado Leandro Silva, que defende o líder religioso.
O defensor disse que polícia se recusou a entregar a cópia da decisão judicial que fundamentou a prisão. "Esta prisão, segundo a delegada, está relacionada ao inquérito policial inaugurado no final do ano de 2023 por suspeita de assédio. Porém, embora esgotado o prazo de 30 dias para a conclusão dele, a autoridade policial foi omissa e não o concluiu, provavelmente, aguardando o momento oportuno para o espetáculo público. A defesa qualifica as informações contidas nesse inquérito de vazias, lacunosas e genéricas", declarou o advogado.
Advogado disse ainda que Passamani nunca foi condenado criminalmente por assédio sexual. "Tudo não passa de uma conspiração para destruição de sua imagem e investida ilegítima de seu patrimônio, ruína financeira, bem como o impedimento de qualquer prática religiosa".
A defesa desconhece qualquer ordem judicial que o impeça de qualquer prática religiosa e não descumpriu ele nenhuma ordem judicial. Providências serão tomadas para a retomada de sua liberdade.
Advogado Leandro Silva
Pastor terá que indenizar mulher por assédio
O pastor foi condenado a indenizar em R$ 50 mil uma outra vítima de assédio sexual. A mulher chegou a ser chamada de "sonsa" por um desembargador.
"Essa moça mesmo falou que é sonsa, ela mesma usou essa expressão. [Queria perguntar] se ela não foi muito sonsa, no século em que a gente está. É outra dúvida", disse o desembargador do TJGO (Tribunal de Justiça de Goiás) Silvânio de Alvarenga durante a sessão, que aconteceu no último dia 19.
Magistrado também cita uma suposta "caça aos homens". "Com esse rigor processual, essa caça às bruxas, caça aos homens, daqui a pouco não vai ter nem encontro. Como você vai ter um relacionamento com uma mulher se não tiver um ataque? Vamos colocar ataque entre aspas", afirmou.
Sexta Câmara Cível do TJGO julgou o recurso de uma mulher que diz ter sofrido danos morais de um pastor após denunciar assédio sexual. Ela relatou o que aconteceu nas redes sociais, e disse que teve de trocar de igreja porque outros membros a culparam pela conduta. O processo não julga se houve assédio sexual, o que fica na esfera criminal, só o dano moral.
Delegada do caso, Ministério Público e a juíza do 1º grau consideraram que não houve assédio sexual, pois houve reciprocidade. Pastor pediu telefone da requerente para falar sobre cestas básicas, mas fez chamadas de vídeo mostrando o corpo e pedindo que a mulher se tocasse. A vítima disse ter consentido com parte das ações para produzir provas contra o pastor.
Como denunciar violência sexual
Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.
Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.
Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.