Mulher frígida? Termo caiu em desuso, e falta de desejo tem várias causas

No início do século 20, a indisponibilidade feminina para fazer sexo com o marido era denominada frigidez. Não importava o motivo: dor de cabeça, falta de vontade, medo e, o mais comum, ausência de amor e desejo por um parceiro de vida frequentemente escolhido pelos pais.

Qualquer que fosse a razão para uma mulher não se mostrar muito animada na cama, a palavra assinalava a sentença: tratava-se de uma inútil, fria, uma pedra de gelo.

A maioria não recebia estimulação adequada ou tinha problemas de relacionamento com o cônjuge, mas, numa época machista, muitas vezes o problema era resolvido com o homem se envolvendo com outras mulheres em um relacionamento extraconjugal.

Ou, em casos mais graves, com violência física, psicológica e sexual contra a parceira.

'Frigidez' nos romances

Nos anos 1940 e 1950, senhoras frígidas eram personagens recorrentes nos romances e espetáculos. Na década de 1980, numa canção da banda Blitz, Betty Frígida não conseguia relaxar na cama e justificava para o parceiro, Roni Rústico: "Não foi sua a minha culpa".

Como a frigidez raramente era um problema atribuído aos homens, não é difícil concluir que a questão sempre foi permeada por altas doses de machismo e preconceito. Ou seja, o termo tinha uma finalidade moral, não científica ou profissional.

Na verdade, foi uma forma de destratar a mulher —um termo usado para xingar as mulheres, desclassificando-as da condição de biologicamente aptas.

Em desuso

Felizmente, o termo caiu em desuso em meados dos anos 1990, embora algumas pessoas insistam erroneamente em adotá-lo. Hoje, os especialistas se referem ao distúrbio como uma disfunção sexual chamada anafrodisia ou transtorno da excitação/do desejo.

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E essa disfunção pode também afetar os homens. Mas, como eles tendem a não falar sobre suas dificuldades sexuais e limitações, atribuir o problema à mulher é muito comum.

O termo frigidez também deixou de ser usado porque não deixava claro se a mulher não tinha libido, não se excitava, não lubrificava durante o ato sexual, ou porque não atingia orgasmos. O termo era, portanto, erroneamente utilizado para as três situações.

Diferenças entre anafrodisia, anorgasmia e vaginismo

Anafrodisia, anorgasmia e vaginismo são termos e distúrbios bem distintos. Enquanto a primeira disfunção significa a ausência do desejo sexual, a anorgasmia é a incapacidade de conseguir atingir o orgasmo.

Já o vaginismo é um espasmo descontrolado e involuntário dos músculos da vagina, que se fecha e provoca dor e desconforto na transa.

Incapacidade geral da busca pelo prazer

A anafrodisia nada mais é do que a negação da sexualidade no seu sentido mais amplo e erótico. É um estado de falta de interesse e de incapacidade geral da busca pelo prazer.

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A pessoa tem um curto-circuito não apenas na sua relação com o sexo, mas em vários outros aspectos da vida.

A grande maioria dos casos se deve a fatores emocionais. Conflitos com o parceiro, problemas de autoimagem (como se achar pouco atraente), questões culturais e religiosas muito rígidas quanto à sexualidade, problemas profissionais ou financeiros, bloqueios em se sentir à vontade na cama, entre outros fatores, devem ser abordados.

Diagnóstico

Para diagnosticar um distúrbio, ele deve se prolongar por um período de pelo menos seis meses em que a pessoa tem redução ou ausência de pelo menos três dos seguintes sintomas: interesse em sexo, fantasias e pensamentos eróticos, iniciativa para iniciar o sexo, excitação (lubrificação vaginal, no caso das mulheres) durante a transa, interesse ou excitação em resposta a estímulos internos ou externos (escritos, verbais ou visuais) e sensações genitais ou não genitais durante a transa.

Esses sintomas só caracterizam um transtorno se houver sofrimento e/ou prejuízo na relação com o par. Se a pessoa não tem desejo ou excitação sexual e não sente falta disso, ela é considerada apenas assexual, o que é uma orientação sexual.

Em nenhuma situação a mulher deve receber um diagnóstico apenas porque sente menos desejo do que o par.

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Os três distúrbios podem ser primários, quando começam no início da vida sexual e perduram até a busca por tratamento; secundários, quando a pessoa passa a ter dificuldade em determinada idade; situacional, quando ocorre apenas em determinadas situações, ambientes ou com determinados parceiros; e generalizado, quando ocorre em qualquer situação e com qualquer par.

Formas de tratamento

De modo geral, os distúrbios sexuais são tratados com terapias medicamentosas e não medicamentosas. Quando está associado a alguma disfunção hormonal, tratamentos à base de estrogênio e andrógenos podem ajudar a melhorar o tônus e a aumentar o fluxo sanguíneo da região, além de propiciar maior lubrificação.

Fontes: Andréa Ladislau, psicanalista; Breno Rosostolato, psicólogo, educador sexual e cofundador do projeto de imersão para casais LovePlan; Eduardo Aliende Perin, psiquiatra, terapeuta sexual e cognitivo-comportamental; e Oswaldo Martins Rodrigues Jr., terapeuta sexual, diretor do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade) e autor do livro "Parafilias - Das Perversões às Variações Sexuais" (Zagodoni Editora)

*Com matéria publicada em 18/06/2019

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