Atriz fala de nova novela das 6 e crenças no amor: 'Sou feliz na monogamia'
O Brasil se apaixonou por Clara Moneke, 25, após sua estreia em novela com seu papel em "Vai na Fé". Kate era carismática, energética e chegou como um rolo compressor para marcar a história da teledramaturgia. De volta à TV em "No Rancho Fundo", nova novela das 18h, ela fará um papel mais sério, mas não menos encantador.
"Estou animadíssima para voltar às novelas e acredito na Caridade [nome da personagem]. Todo mundo vai querer vencer na vida como ela, abandonar o emprego com chefe escroto... Espero que sirva de inspiração, de força de vontade para as pessoas", disse em entrevista a Universa.
À reportagem, Clara contou o que vê de similaridade entre suas personagens e sua vida, e a vontade que tem de aprender mais sobre jornalismo e entretenimento.
Universa: Você tem pouco tempo de carreira e só uma novela no currículo. Mesmo assim, seu nome já é conhecido como o de uma atriz de grande sucesso. "Vai na Fé" mudou sua vida?
Clara Moneke: Nossa, completamente. E não só a minha, mas a da minha família e amigos também. Faço parte de uma agência que tem como cliente 99,9% de jovens negros, a maioria que veio da comunidade. Estamos fazendo um trabalho legal comigo e com os outros artistas. Tá dando muito certo.
"No Rancho Fundo", para mim, foi um presente e é uma resposta de que tudo será ainda melhor este ano. Foi uma surpresa boa depois de "Vai na Fé". É um projeto que eu acredito muito e estou apostando todas as minhas fichas de que será mais um grande sucesso. Estou muito feliz.
Você acredita que a sua participação e sucesso na novela ajudou a alavancar seus amigos?
Eu sou fruto do que vem acontecendo há anos, do reconhecimento, da batalha travada pela minha comunidade, das mulheres negras artistas que se humilharam, apanharam e sofreram demais --e por muito tempo-- para que eu pudesse ter essa oportunidade de ser vista.
Eu entro nessa luta em um momento muito confortável, com um ambiente menos agressivo para corpos como o meu. As pessoas já estão acostumadas com mulheres negras e conseguem ver nosso talento, que merecemos respeito e reconhecimento. Tudo o que faço, em relação à arte, tem muito o princípio da continuidade da ancestralidade.
Me inspiro nas minhas ancestrais e espero que um dia possa ser um pouco do que elas foram. É um processo muito bonito que está acontecendo e me sinto poderosa fazendo parte dele. Estamos vencendo.
Você estava preparada para a fama que "Vai na Fé" te trouxe?
Jamais. Acho que quem tem o sonho de ser famoso pode até se preparar de alguma forma, mas não estariam prontos para algo desta magnitude, que é estar em uma novela da Globo, a maior emissora de novela que temos.
Eu nunca poderia me preparar para essa situação, eu nunca imaginei. Quando era mais jovem não via tanta novela e não entendia o alcance dessas obras, até mesmo em representatividade social. Cada dia era uma nova surpresa. Foi uma montanha-russa de coisas boas.
O que você considera o lado ruim da fama?
Não sei se 'ruim' seria a palavra certa, mas tem o lado desconfortável que toda a exposição traz. Algumas pessoas passam a ter opiniões equivocadas sobre sua vida e o que você está fazendo. E com mais liberdade de expressão na internet, por exemplo, há muita gente falando inverdades.
Procuro não consumir esse tipo de entretenimento, de veículos e pessoas que usam sua influência para disseminar informações falsas. Também trabalho com internet, me considero uma atriz com influência e acho esse ambiente importante, porque também tenho recursos financeiros que são fruto das redes sociais. Mas não quero me tornar refém desse mundo e da opinião dos outros. A internet é importante, mas preciso saber que ela não me define.
Como a Caridade, de "No Rancho Fundo", é diferente de Kate, de "Vai na Fé"?
Sou um corpo negro feminino, então acredito que todas as personagens que faço, independentemente da novela, são um retrato da nossa sociedade. Acredito que a vida imita a arte, então nos tornamos algo como um exemplo para quem assiste.
Todo o personagem que fizer, enquanto mulher negra, tem essa singularidade. Acho que ambas se encontram nesse lugar de mulher negra e jovem, mas elas também são diferentes. Kate é uma jovem carioca que leva a vida mais leve. Caridade é nordestina e traz a carga do povo e suas histórias. Nesse papel, estou me desafiando, mas diria que elas têm singularidade em serem jovens negras e sonhadoras. Ambas estão em busca de um futuro melhor.
Na trama, a Caridade perdeu a mãe e precisa prover para sua família. Vi que você também perdeu a sua recentemente. A dinâmica de sua família mudou com isso?
Quando minha mãe faleceu eu já não morava mais com ela, mas a perda de um ente querido sempre deixa uma lacuna. De alguma forma, a gente supera e vai vivendo, né? Minha religião também me ajudou muito a entender essa perda. Minha mãe sempre vai fazer falta, mas é diferente da situação da Caridade. Nem eu e nem meus irmãos precisávamos de alguém pra nos sustentar. Para nós, o que falta é o apoio emocional e afetivo.
Minha personagem perdeu a mãe aos cinco anos e cresceu somente com o pai, que era amoroso e sensível. Mas ela assumiu muitas responsabilidades, tem o peso de cozinhar, trabalhar para prover. Se torna praticamente a mãe daquela família.
Você ficou preocupada com a reação que o público teria com a sua nova personagem, já que Kate foi tão carismática e conquistou o Brasil?
Eu pensei sobre isso. As pessoas já acham que eu sou a Kate e esperam que eu esteja a todo momento na pegada dela. Na minha cabeça, sabia que seria um grande desafio mostrar para o público que posso fazer outros papéis. A Caridade parece séria, mas também tem seu carisma.
Confio na capacidade dela de cativar as pessoas. E confio no meu talento. Todo mundo vai querer vencer na vida como ela, abandonar emprego com chefe escroto... Espero que ela sirva de inspiração de força de vontade para a vida das pessoas.
Mudando de assunto, dei muita risada quando vi você falando no podcast do Tinder que ia abrir o Sindicato da Monogamia...
Acho o poliamor uma ideia até legal e é uma evolução que gostaria de ter, mas não consigo nem me visualizar nesta situação. Não consigo me encontrar. Sei que existe uma galera que embasa a relação monogâmica como algo que foi construído e padronizado, mas me sinto bem aqui, estou confortável neste lugar. Sou feliz.
Você tem vontade de explorar mais esse lado apresentadora?
Tenho vontade e achei a experiência muito legal. Amo programas de auditório, que falam com o público e recebem convidados. Sempre adorei! Adorava ver o Faustão, gosto do Luciano Huck, Rodrigo Faro, amo o programa da Eliana, mas nunca estive na posição de apresentadora.
Quando chegou o convite do Tinder fiquei até um pouco em dúvida, porque seria um desafio, já que a pegada é bem diferente. Mas sou bem faladeira. Decidi tentar e foi maravilhoso. As pessoas eram legais, o roteiro também, o público se identificava. Adorei!
Meu foco é me desenvolver como atriz, mas se eu tiver tempo hábil e oportunidades, apresentar seria uma experiência muito legal. Quero aprender mais sobre jornalismo e entretenimento. Acho muito legal!