'Achava que não seria capaz de amar dois filhos da mesma maneira'
"Tenho dois filhos: o Pedro, de 6 anos, e o João, de 2. Entre os dois, tive uma perda gestacional. A primeira gravidez foi muito desejada e também surpreendente, pois foi mais rápido do que imaginei. A segunda, um misto: eu queria, já que tinha perdido um bebê. Mas meu marido queria muitos mais. Em ambas, sofri um pouco: na primeira gestação, porque a vida mudou completamente. Foi um baque. E na segunda eu só pensava em como seria a divisão do amor que eu sentia pelo Pedro agora por duas crianças.
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Eu até me sentia bem na segunda gravidez, mas ficava muito sozinha. Era como se não tivesse mais amigas. Por alguma razão, elas sumiram e não me convidavam mais para nada. Até acostumei não ser procurada para programas.
Os hormônios também me deixavam muito estranha. Embora eu estivesse fisicamente bem, os sentimentos eram confusos, talvez por alguns problemas na tireoide. Escutava, inclusive, uma piada de mau gosto que eu estava de TPM havia nove meses.
Meu trabalho ia bem. Sou advogada e trabalho com familiares. Só odiava ganhar presentes de grávida como pijamas e roupas que eu só usaria na gestação. Era muito útil, mas eu não curtia. A situação mais difícil foi ficar sentada no chão um dia, chorando depois de me fazer alguns questionamentos. Como será cuidar de dois filhos? Como vou gostar de duas crianças? Jesus!
Ainda sofri um acidente na rua, indo para a fisioterapia pélvica. Desci de um táxi em uma rua muito movimentada, me desequilibrei e caí — um risco, mas não aconteceu nada com o bebê. Só rasguei a calça e ralei os joelhos.
A reta final de ambas as gestações foi bem cansativa, mas eu sempre fui corajosa e forte. Na vez de Pedro, fiquei umas 13 horas em trabalho de parto e optamos por uma cesárea, pois o bebê corria risco. No de João, nem entrei em trabalho de parto: tive um problema no fígado e logo fui para cesárea. Foi bem pior que o primeiro parto, porque eu fiquei ansiosa e tensa o tempo todo e tive uma crise de adrenalina logo após o parto.
Hoje penso sobre filhos. Os dois me dão bastante trabalho, mas mudam a minha perspectiva de vida, pensamento, ideais, preocupações e vida profissional. Só penso em ter tempo para viver a primeira infância com eles. Amo estar pertinho e até me sinto muito culpada pela ausência em dias de trabalho. É de fato amar sem esperar nada em troca.
A conclusão é que você descobre ser possível amar duas crianças. Achava que não ia dar, mas é possível. Cada uma do seu jeitinho, com suas personalidades diferentes. Para suprir as necessidades, é preciso se dividir e isso é muito louco, mas é possível, embora seja complexo. Tem dias difíceis e outros mais fáceis. A gente não divide amor como eu pensava. É só amar sem medida.
Quem está passando por isso precisa ter paciência, resiliência, perseverança. Haverá um amor incondicional, mas os grandes desafios é que vão engrandecer a mãe como ser humano."
Mariana Moretti, 38 anos, advogada, mãe de Pedro, 6, e João, 2
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