'Após duas FIVs e três cesáreas de emergência, tive que confiar no corpo'
"Depois de alguns anos de casados, decidimos engravidar. Tentamos por alguns meses e nada. Seguimos para a fertilização in vitro. Iniciamos o tratamento, que dura em média um mês, com muito medo, insegurança, expectativas a mil, muita ansiedade, mas também muita fé. Conseguimos fertilizar quatro embriões, fizemos a transferência de dois e mantivemos os outros dois congelados. O positivo já veio na primeira tentativa.
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Foi uma gravidez mais do que planejada, mas bem delicada. Com oito semanas, tive um forte sangramento devido ao descolamento de 50% da placenta. Fiz um período de repouso e muitos exames até tudo se normalizar. Eu trabalhava como assistente executiva do presidente de uma multinacional, então, além de tudo, tinha que lidar com a grande responsabilidade que meu trabalho requeria.
Vinícius nasceu com 30 semanas. Como eu havia feito o curso de gestantes uma semana antes, consegui entender bem os sinais que meu corpo estava dando. Foi uma baita correria; o pai estava no trabalho, em uma reunião e correu para o hospital. Não tínhamos nada pronto — o chá de bebê estava programado para o sábado seguinte. Ele nasceu com 1,6 kg e nos ensinou muito! Ficamos 27 dias na UTI, acompanhando cada evolução até a tão esperada alta. Vivemos dias intensos — uma realidade até então desconhecida e que nos assustava.
Meu maior medo era não poder levar meu filho para casa. Quando saía do hospital e via outras crianças na rua, eu caía no choro, pensando se meu filho teria chance de sair de lá e fazer o que todas as outras crianças faziam.
A segunda gestação foi ainda mais programada. Já tínhamos nosso 'picolezinho' congelado e quando decidimos aumentar a família iniciamos o processo novamente. Desta vez, não seria tão complexo como da primeira, mas exigiu bastante emocionalmente de todos nós. Eu seguia trabalhando na mesma empresa e já tinha um filho que me esperava em casa.
Fizemos a preparação necessária e transferimos os últimos embriões... expectativa novamente a mil até recebermos o positivo.
Com o histórico de um parto prematuro com cesárea de emergência, a chance de outro prematuro seria grande. Então adiantamos toda a organização, o quartinho, as roupinhas... Junto ao RH da empresa, iniciamos o processo de recrutamento e seleção da minha substituta com calma e tudo caminhava bem. Até que comecei a sentir os sinais de que Eduardo também viria antes.
Eu havia pagado um pacote de fotos da primeira gestação e não tive tempo de fazer porque Vinicius nasceu muito antes. Na gravidez do Eduardo, decidi que faria de qualquer jeito: estava no estúdio, sendo maquiada e sentindo dores. A maquiadora até perguntou se eu queria continuar, mas eu disse: 'nem que eu saia da sessão fotográfica direto pro hospital, desta vez eu terei as fotos de gestante'. E assim foi. Entrei no hospital maquiada!
Conseguimos segurar mais uma semana, em que fiquei de repouso em casa, mas precisei ser internada novamente para tentar reverter o quadro de contrações e, após alguns dias, tivemos que fazer mais uma cesárea às pressas porque estava com insuficiência placentária.
Eduardo nasceu com 34 semanas. Mais uma UTI que teríamos que enfrentar: foram 17 dias revivendo todo aquele pesadelo.
Dessa vez ainda foi um pouco mais difícil, porque Vinicius tinha 4 anos e ficou até doente por não poder ver o irmão que ele tanto esperava. Tivemos que ir administrando toda a situação até o dia em que pudemos levá-lo para casa.
Depois de duas gestações via FIV nosso projeto familiar já estava muito bem concretizado. Estávamos morando no Panamá, e em um período passando férias no Brasil comecei a me sentir muito mal. Cheguei a ir ao pronto atendimento, mas o mal-estar só piorava. Estávamos em um parque aquático e eu mal conseguia entrar no restaurante. Meu marido estranhou muito e levantou a suspeita: 'Você deve estar grávida'. Na minha cabeça isso era impossível — ainda assim, compramos um teste de farmácia e, para minha surpresa, deu positivo.
Saímos correndo buscando um laboratório para fazer o exame de sangue, que confirmou. Fiquei muito abalada, não foi uma gravidez esperada. Eu havia acabado de fazer uma grande cirurgia de lipoaspiração, com troca de implante mamário. Não era o cenário que eu havia imaginado. Por todo meu histórico das outras gestações, acionei minha médica para me orientar sobre os cuidados e próximos passos até que ela pudesse me receber em seu consultório. Ainda teria que enfrentar mais de sete horas de avião até em casa. Fiquei muito assustada, pois nas outras gestações, pelo processo de FIV, sempre foi muito monitorado, para que a gestação fosse adiante.
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Quero receberA médica pediu exames para serem realizados ainda no Brasíl para avaliar o quadro. Fiz os exames, pude voltar pra casa e, então, já em solo panamenho, fiz a primeira ultrassonografia. Enquanto a ficha ia caindo, eu me deprimi. Não foi um processo fácil. Retomei a terapia para cuidar do lado emocional e a gestação foi fluindo melhor.
Já estava com quase 40, o protocolo de exames é um pouco diferente, a gestação era considerada de risco e meu histórico não ajudava muito. Nos primeiros meses, houve grande preocupação com exames alterados justamente pela minha idade: havia suspeita de uma síndrome no bebê, mas desconfiei. Pedi a opinião da minha obstetra aqui do Brasil e descartamos a possibilidade.
Mudei de médico no Panamá e conseguimos seguir com a gestação mais tranquila até o dia em que completei 36 semanas. Comecei a sentir contrações, fui para uma avaliação médica e já fiquei internada com parto de emergência. Como sabíamos que poderia ser prematuro, minha mãe já estava no Panamá para ajudar com as crianças durante nossa ausência. Gabriela ficou um dia apenas em cuidados semi-intensivos, e pôde vir e ficar no quarto conosco, o que era uma novidade para a gente. Tivemos alta no quarto dia e pudemos iniciar uma nova fase em casa.
Após três gestações, duas FIV e uma natural, três partos prematuros, dois com UTI, três cesáreas às pressas, se eu pudesse dar um conselho para mulheres que estão inseguras na gestação seria: não se deixe influenciar por histórias alheias. Cada experiência é única. Confie no seu corpo, nos sinais que ele te dá e viva cada momento, porque é mágico. Por mais que tenhamos momentos difíceis, tudo passa."
Karen Jabur, secretária executiva, 42 anos, mãe de Vinícius, 11 anos, Eduardo, 7, e Gabriela, 2
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