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'Sangramento, fissura e mais: Matteo foi o milagre da minha vida'

Dani, o marido Diego e os filhos Imagem: Acervo Pessoal

Luciana Bugni

Colaboração para Universa

23/04/2024 14h29

"Eu tinha um filho de 2 anos, Lucca, quando descobri que estava grávida de Matteo. Dias depois da descoberta, senti dores abdominais fortes e conversei com a médica, que estava em um congresso nos Estados Unidos. Ela orientou que, que caso de emergência, era importante ir até o hospital, mas disse que voltaria na mesma semana.

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Alguns dias depois, no Dia das Mães, ao completar cinco semanas, tive um sangramento forte na madrugada de domingo pra segunda e fui até a maternidade conforme orientação da médica. Cheguei lá, fiz mil exames, fiz ultrassom e tive o diagnóstico que estava tudo ok com o feto. Ele ainda não tinha batimentos cardíacos, mas isso era supernormal para essa fase. Os médicos do hospital ligaram para a obstetra, e ambos decidiram que era bom ficar afastada por mais alguns dias, até que ela voltasse do congresso para o Brasil.

Dois dias depois, estava no consultório da obstetra e fiz ultrassom. A expressão dela não foi nada animadora. Ela disse que eu tinha um descolamento muito grande e que nunca havia visto uma gestação nesta fase com um descolamento deste tamanho evoluir bem. Pediu que fosse para casa, fizesse o repouso absoluto o máximo que pudesse — já que, com um filho de 2 anos, não há mãe que consiga fazer repouso algum.

A decisão era acompanhar com ultrassons semanalmente e ficar afastada do trabalho. O período coincidiu com uma promoção do meu marido, que assumiria uma chefia no Rio de Janeiro. Só nos veríamos aos fins de semana. Triste, eu não entendia por que o hospital não havia comunicado sobre o descolamento dois dias antes. Dei a notícia para meu marido por telefone da maneira mais otimista possível pois não queria que ele largasse tudo. Ele já havia ficado resistente a aceitar o cargo, quase não tinha ido de tão preocupado que estava. Insisti muito para que ele aceitasse aquela oportunidade. Era muito merecida.

Sozinha, segui naquela semana eterna fazendo o repouso mais absoluto possível, tendo que cuidar do Lucca. Eu tinha muito sangramento, muito! Todas as vezes que sentava e fazia o Lucca dormir, tinha de colocar duas toalhas gigantes para conter e não sujar a poltrona que ficava do lado do bercinho dele. E assim passou a primeira semana.

Ao chegar à consulta, na semana seguinte, a médica colocou o ultrassom e começou a chorar. Ela é a médica mais sensível e humana que já conheci. Aumentou o som quase que no último volume e disse: você está ouvindo isso? São os batimentos cardíacos do bebê! Ele se desenvolveu muito bem nesta semana, milagrosamente seu descolamento diminuiu consideravelmente!

Também chorei. O acompanhamento seguiria sendo semanal até a 12ª semana, mas o bebê estava bem e os batimentos estavam de acordo com a fase. A semana tinha sido muito difícil, mas estava tudo evoluindo bem! Na 12ª semana, a médica me disse que o meu filho era um milagre e que Deus tinha um propósito lindo na vida da minha família. Ela falou que, se naquela segunda-feira na maternidade eles tivessem visto o tamanho do descolamento com o sangramento que tinha, ficaria totalmente a critério do médico do plantão me encaminhar para curetagem. E ele não teria nascido.

Novo sangramento e muito enjoo

A gestação ia bem, apesar de ter vomitado em ambas as gravidezes pelos nove meses inteiros. Com 20 semanas, novo sangramento. Corri para a maternidade e descobri um descolamento de placenta considerável também. Tive mais um afastamento do trabalho: na época, era secretária executiva e tinha regime CLT. Voltamos a acompanhar a gestação semanalmente... O sangramento era grande, mas parecia que Matteo não sentia absolutamente nada do que eu sentia. Seguia pleno e se desenvolvendo perfeitamente.

Com 24 semanas, tive alta novamente. Lucca, o mais velho, se desenvolveu muito no período, virou um mocinho. Ele sabia que eu não podia pegá-lo no colo. Entrava no carro sozinho, subia na cadeirinha dele e aguardava eu fechar o cinto. Era um parceirão que me ajudava em tudo. Quando eu ia dar banho, ele entrava no ofurô de bebê e eu sentava em um banquinho. Ficava um tempão dando banho nele e contando como Matteo estava na minha barriga. Ele conversava com o irmão e falava que tudo ia ficar bem. Meu anjo, o primogênito.

Dois dias depois de completar 31 semanas, tive uma infecção na laringe e faringe, com febre de 40 graus de madrugada. Não tinha como sair correndo para o hospital com o Lucca, então esperei amanhecer, levei pra escola e nem sei como fui dirigindo sozinha para o hospital.

Lá, fiz exames e fui internada. Tinha perdido muito líquido amniótico e os médicos achavam que ele teria que nascer naquele dia. A médica foi até o hospital, analisou todos os exames e decidiu que poderia ir pra casa, desde que tomasse pelo menos três litros de água por dia. Dia sim, dia não, ia para a maternidade controlar o líquido.

Na consulta de 36 semanas, estava com tudo certo e a possibilidade de parto normal. Ele estava em posição ótima, piscininha cheia e tudo caminhando pra que minha vontade se realizasse. Meu marido tiraria férias em 23 de dezembro, três dias antes de completarmos 38 semanas. Deu certo, Matteo estava indo muito bem. O Natal foi ótimo e dia 26 fomos para a consulta. Ali, descobriram uma fissura na bolsa e decidiram que o parto seria ali mesmo. Estava com um ótimo peso, já não era mais prematuro. Acho que apenas estava com pressa para vir ao mundo. De lá, fomos para a maternidade e às 22h do dia 26 chegou esse figura que mata todo mundo de amor, na cesárea mais humanizada de que já tive notícias. Foi o maior milagre da minha vida!"

Daniela Feixas Molinaro, 41 anos, empresária, é mãe de Lucca, 8, e Matteo, 6

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