'Tive trompa obstruída, fiz tratamento e fiquei grávida de surpresa'
Luciana Bugni
Colaboração para Universa
23/04/2024 14h29
"Em agosto de 2017, minha sogra descobriu um câncer no intestino e eu e meu marido começamos a refletir sobre a vida e a fragilidade do ser humano. Você descobre uma doença na família e percebe que pode morrer. Sempre tivemos planos de ter filhos, mas nunca achávamos que era o momento certo, porque estávamos sempre esperando melhorar a situação financeira.
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Quando decidimos que era o momento, passei por muitos exames e consultas de rotina. Minha ginecologista pediu para passar em um especialista, em janeiro de 2018. Eu tinha feito 37 anos no mês anterior. Ele descobriu que minha trompa esquerda estava obstruída e a direita era enovelada — caso engravidasse, eu corria risco de ter uma gestação ectópica, fora do útero. Ele orientou a não fazer cirurgia e a procurar uma clínica de fertilização devido à idade.
Não conhecia ninguém que tivesse passado por isso, nem fui buscar uma segunda opinião. Talvez outro médico tivesse sugerido a cirurgia. Estava mais preocupada em fazer orçamentos, pois o tratamento é muito caro — e um investimento que você não sabe se vai dar certo.
A ansiedade fica muito grande: quando você não sabe se consegue engravidar, quer ainda mais. Descobri uma clínica na Faculdade de Medicina de Santo André, em que eu só pagaria pela medicação. O pacote era viável, meu marido fez muita hora extra e conseguimos pagar.
Quando começamos a primeira tentativa, os médicos não encontraram o ovário direito, só o esquerdo. Eu tinha os dois, pois ele estava lá em um exame antigo. No dia de colher os óvulos, entretanto, não havia nenhum no ovário esquerdo. Fiquei arrasada. Concluíram que seria necessário puncionar o direito também — descobriram que ele estava preso por uma aderência atrás do meu útero. Fiz uma cirurgia para soltá-lo e o médico aproveitou para desobstruir minha trompa. Eu agradeci.
Depois disso, estava apta para seguir o processo de fertilização. Já havia pagado mais duas tentativas. Deveria ficar em repouso em dezembro e voltar à clínica no mês seguinte para as novas tentativas. Continuamos como estávamos, sem usar proteção nas relações sexuais.
No dia 1º de janeiro de 2019, entretanto, minha menstruação estava atrasada havia dois dias. Comprei um teste pensando 'não é possível'. Já tinha tido atraso por nervosismo e, quando comprovava que não estava grávida, descia a menstruação. Quando deu positivo, minhas pernas ficaram bambas. Comprei outro teste e estava mesmo grávida.
Foi um momento de emoção muito grande. E veio aquela sensação de 'e agora?'.
A gestação correu bem — tive diabetes gestacional, mas controlei, e pré-eclâmpsia no final, mas correu tudo bem na cesárea e o médico me deu alta em dois dias. A gravidez é uma explosão de hormônios: eu chorava vendo uma propaganda na TV durante toda a gestação e até o Thales fazer 4 meses. Enjoei do cheiro de algumas pessoas, mas ninguém falava desaforos para mim sobre meu peso, por exemplo, porque eu responderia na lata. Nada me incomodava — o que importava era o bebê ser saudável.
Queria tentar engravidar outra vez quando o Thales tivesse 2 anos. Mas quando ele completou 9 meses, minha menstruação, que ainda estava desregulada, atrasou muito. Fiz um teste, para tirar isso da cabeça: grávida de novo. E de gêmeos!
Logo depois, eu perdi um dos bebês. Senti uma culpa muito grande, porque quando fiquei sabendo que eram dois, ficava achando que não caberiam três bebês em casa, que não conseguiria cuidar de tantas crianças. Era como se eu tivesse culpa pela perda. Hoje, sei que meus pensamentos em nada têm a ver com isso, foi a vontade de Deus. Mas ainda fico pensando: 'será que era menino ou menina?' É meu jeito de processar as coisas.
Quando você passa por situação de risco na gravidez, como pré-eclâmpsia na primeira e aborto espontâneo na segunda, você se sente frágil, mas tira a força do nada e pensa que fará e enfrentará o que for necessário.
Tive situações muito difíceis e fiquei muito triste, mas passaria por tudo outra vez: meus filhos são a razão do meu viver."
Aline Nunes Costa Monte, 43 anos, assistente administrativa, mãe de Thales, 4 anos, e Noah, 3