Momentos de terror: 'Tive minhas fotos divulgadas em site de prostituição'
Jéssica Nascimento
Colaboração para Universa
02/05/2024 04h00
A empresária e influenciadora digital Eleni Soares Ribeiro, 45, teve suas fotos divulgadas em um site de anúncios de acompanhantes. A publicação oferecia encontros com ela em um local discreto no Distrito Federal por R$100. Eleni, que trabalha divulgando festas e shows, diz ter sido abordada de forma agressiva por homens, sem entender o motivo, até que sua sobrinha descobriu a postagem.
Os momentos de terror foram vividos a partir de janeiro, quando passei a ser disputada por homens que talvez tivessem pago adiantado pelo serviço e queriam ser atendidos. Em alguns lugares onde estive divulgando eventos, me deparei com homens enlouquecidos querendo falar comigo. Alguns chegavam a parar e pegar em meu braço, cabelo, ou tentavam me beijar, ou me agarrar. Comecei a desconfiar de onde tantos homens teriam vindo, já que não tinha intimidade com nenhum deles.
O que aconteceu:
Eleni percebeu um aumento significativo de seguidores masculinos em suas redes sociais. Com o assédio, ela parou de publicar os locais onde estava e começou a ficar mais em casa. Mas, as investidas sexuais não pararam.
No dia 20 de abril, tive uma conversa com um rapaz e notei que ele não pediu meu contato. Então, comentei que estava achando ele estranho. 'Você não anotou meu número, não tem Instagram, nada?' e ele respondeu: 'Calma, vou pegar'. Logo em seguida, ele disse: 'Queria te levar para um lugar reservado e depois te trago de volta'. Eu respondi: Você está louco, nem te conheço. Se quiser, te passo meu número.
No dia seguinte, a sobrinha da digital influencer contou a Eleni que havia visto, em janeiro, um anúncio de prostituição com a foto dela, mas com o nome de outra mulher, Lívia. A menina não havia contado antes por não querer se intrometer na vida íntima da tia.
Fiquei arrasada quando descobri isso, pois nós mulheres já sofremos bastante com falta de respeito. Me senti terrível, chorei muito e fiquei pensando em quem poderia ter feito essa maldade comigo.
Após saber do anúncio, Eleni procurou a 21ª Delegacia de Polícia, localizada em Águas Claras, que investiga o caso como difamação. Ela também procurou o site que retirou o anúncio do ar.
Meus dias estão péssimos, pois estou com cansaço mental de tanto pensar. Estou evitando sair de casa, por medo e insegurança, e consequentemente perdendo meus trabalhos. Não durmo, quando cochilo tenho pesadelos de homens querendo fazer algo de ruim comigo. Minha vida está de ponta à cabeça, virou um pesadelo.
O que diz o site
Procurado pelo UOL, o site Skokka disse que "lamenta profundamente o incidente e que está comprometido em cooperar para garantir a segurança de todos os usuários". A página também informou que reforçou que medidas rigorosas foram tomadas como:
? Registro obrigatório na plataforma para publicar anúncios: essa medida garante que os usuários sejam identificados e que haja rastreabilidade em caso de problemas ou reclamações.
? Verificação do telefone de contato por SMS: esse processo ajuda a garantir que os usuários forneçam informações de contato válidas e verificáveis, impedindo assim aqueles que tentam publicar anúncios de forma fraudulenta.
? Verificação de idade: o Skokka verifica a idade dos usuários para garantir que somente pessoas maiores de idade possam publicar anúncios na plataforma, cumprindo assim as normas legais e promovendo um ambiente adulto seguro.
? Uso de ferramentas de TI e equipe especializada para detectar fotos roubadas: essa medida ajuda a evitar a publicação de anúncios com imagens roubadas, reduzindo o risco de roubo de identidade.
? Investigação minuciosa de denúncias: o Skokka tem uma equipe dedicada que investiga todas as denúncias ou suspeitas de atividades impróprias. Se for confirmado o uso indevido de fotos falsas ou informações pessoais, o anúncio é imediatamente removido e o anunciante é bloqueado na plataforma.
? Departamento dedicado ao tratamento de reclamações e um protocolo estabelecido: o Skokka tem um departamento que age rapidamente em resposta às reclamações recebidas.
O que diz a lei
O advogado especialista em direito criminal Tiago Oliveira explica que o direito à imagem é garantido pela Constituição Federal e dá o controle sobre como sua imagem é usada, incluindo fotos, vídeos, gravações de voz e até sua silhueta.
As medidas que podem ser tomadas incluem enviar uma notificação extrajudicial ao responsável pela violação exigindo a retirada da sua imagem e indenização por danos morais, ou entrar com uma ação judicial. Se a imagem estiver em um site, você pode solicitar diretamente a retirada ou entrar com uma ação judicial se o site se recusar a fazê-lo.
Segundo Tiago, a vítima deve reunir provas, como capturas de tela e links de páginas da internet, e procurar um advogado especializado em direito à imagem, além de registrar um boletim de ocorrência. No caso de Eleni, o responsável - se condenado - pode ficar preso no período de seis meses até um ano.
"É importante ressaltar que a divulgação de cenas de estupro ou de sexo sem consentimento da vítima também é crime, sujeito a pena de reclusão de 1 a 5 anos", reforça o especialista.