Lubrificação é excitação? Ficar molhada nem sempre é estar pronta pro sexo
Colaboração para Universa*
04/05/2024 04h00
Geralmente a lubrificação e a excitação feminina andam juntas, mas nem sempre o caminho para o orgasmo é percorrido simultaneamente. Muitos fatores influenciam na lubrificação e na excitação, isoladamente, e compreender como ambas atuam em seu corpo é fundamental para desfrutar de uma sexualidade sadia e prazerosa.
Selecionamos 8 informações fundamentais nesse sentido. Veja a seguir
Podem andar juntas, mas são diferentes
A lubrificação é a forma com que o corpo feminino responde à excitação; no entanto, não significa excitação por si só. Toda mulher saudável produz uma lubrificação no canal vaginal - que consiste em uma mucosa, ou seja, produz muco. Além disso, há ainda o muco produzido pelo colo do útero e pelas glândulas de Skene e de Bartholin, nas paredes vaginais.
As secreções sexuais femininas podem conter carboidratos, aminoácidos, proteínas e outros ácidos produzidos pelos lactobacilos da flora vaginal normal. Assim, quando a mulher está excitada, uma das possíveis manifestações corporais em resposta a essa excitação é o aumento da lubrificação vaginal, uma vez que a região fica mais vascularizada.
O que a maior parte das pessoas não sabe é que lubrificação é uma coisa e excitação é outra. Elas podem andar juntas, porque quando a mulher está excitada lubrifica mais. Por outro lado, o contrário nem sempre é verdade.
Funções definidas
A lubrificação vaginal tem funções específicas próprias. A primeira é aumentar a possibilidade de concepção. A natureza alcalina da lubrificação altera o estado normalmente ácido da vagina, criando assim um ambiente propício para o espermatozoide.
A segunda é aumentar o prazer dos parceiros. Uma vagina bem úmida, com suas paredes escorregadias, permite que o pênis entre com facilidade e o impulso seja agradável e gostoso para ambos, sem a dor do atrito e a "queimação" que poderiam surgir caso não houvesse lubrificação.
Lubrificação não sinaliza desejo
O desejo sexual pode não surgir junto com a excitação. Em alguns casos a mulher pode ficar lubrificada, mas não mental ou emocionalmente excitada. É como se o corpo estivesse disponível para o sexo, mas a cabeça não - por preocupações financeiras ou com o trabalho, por exemplo.
Em outros momentos sente muita vontade de transar, mas a lubrificação natural não acontece. Pode até ter o desejo, mas não excitada o suficiente para um aumento da lubrificação natural.
Estímulos necessários
A excitação depende de estímulos. Quais? Eles variam conforme cada mulher. Pode ser desde lembrar da última vez em que esteve com o crush até ler algum conto erótico ou, de fato, receber alguma carícia mais ousada.
O desejo, então, leva à excitação que provoca uma reação no sistema nervoso central que, por meio de neurotransmissores, coordena uma resposta física: aumento da frequência cardíaca, aumento da temperatura corporal, vasodilatação do sistema circulatório que conduz ao aumento do fluxo sanguíneo na região genital e, com isso, a consequente lubrificação.
Depende do momento
Às vezes, pode primeiro vir a excitação e só depois o desejo. Confuso, não? Para entender melhor, pense em alguma ocasião em que, por algum motivo (preguiça, cansaço, necessidade de acordar cedo no dia seguinte), você começou a transar com o parceiro sem estar muito a fim, mas entrou no clima depois de alguns beijos e amassos.
As duas primeiras etapas do orgasmo - que são quatro, a saber: desejo, excitação, clímax e resolução - nem sempre ocorrem de modo linear. Trata-se de algo natural - e que pode acontecer com ou sem lubrificação, porque ficar molhada depende de algumas circunstâncias.
Fatores externos
Existem vários fatores para diminuição da lubrificação. Uso contínuo de anticoncepcionais, depressão, estresse, medicamentos como antidepressivos ou anti-hipertensivos, fase de lactação, diabetes, infecções vaginais, alterações hormonais, higiene local excessiva com sabonete líquido (que altera pH natural) e menopausa são os principais. Durante a menstruação a lubrificação diminui, sendo que atinge seu ápice no período fértil.
Importante: lubrificação não é convite!
Ter a vagina úmida não implica em consentimento. A comunicação entre o casal deve ser clara e o sexo consensual, sempre. Segundo as especialistas consultadas para essa matéria, alguns sinais do corpo não devem ser interpretado como sendo um convite para o sexo porque podem ser involuntários. A leitura equivocada da lubrificação feminina como disponibilidade pode levar ao sexo não consentido, que é crime mesmo em relações afetivas e nos casamentos. Aliás, o nome correto para tal conduta é crime hediondo.
Se não houver entrega emocional e psicológica ao ato, a lubrificação não passa de uma resposta física. Em seu livro "S=EX2 - The Science of Sex", o bioquímico espanhol Pere Estupinyà cita um um estudo com um fato polêmico: vítimas de estupro podem ter uma resposta sexual física durante o abuso. Há duas explicações para isso e ambas passam bem longe da suposta percepção de que as vítimas estavam "gostando" da violência.
A primeira é que algumas mulheres têm um metabolismo diferente, que as leva a produzir lubrificação em maior quantidade e constância, mesmo em situações não sexualizadas. A outra remete à própria função da lubrificação, que é tornar a penetração mais confortável. Geralmente situações de grande estresse para o corpo como o crime do estupro causam uma diminuição da circulação sanguínea genital e a ausência de lubrificação, porém em alguns casos pode acontecer o efeito contrário como forma de defesa e tentativa de reduzir a dor física. O resultado é um aumento da circulação e a consequente lubrificação, mesmo sem excitação, desejo e, óbvio, consentimento. Por isso, lubrificação não é sinônimo de prazer ou permissão para a agressão.
A masturbação potencializa a lubrificação. Quando a mulher explora o próprio corpo, ela entende melhor o que a excita e consegue guiar o outro mais adequadamente na hora H. Nesse sentido, é possível dizer que a masturbação aumenta a lubrificação feminina. Afinal, é possível descobrir o que mais a excita e qual a melhor forma de se preparar para a penetração.
*Fontes: Ana Carolina Lúcio Pereira, ginecologista; Carla Cecarello, psicóloga, sexóloga, e fundadora da ABS (Associação Brasileira de Sexualidade); Debora Rosa, médica especialista em ginecologia natural; Isabela Barboza, ginecologista; Karina Tafner, ginecologista, obstetra, especialista em Endocrinologia Ginecológica, Reprodução Humana e Reprodução Assistida; e Lilian Fiorelli, ginecologista especialista em sexualidade feminina e uroginecologia
Com matéria publicada em 16/09/2020