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'Via minha mãe cansada e sem paciência, hoje a entendo', diz Nathalia Dill

Nathalia Dill conta um pouco de como é sua relação com sua família Imagem: Fotos: Priscila Haefeli / Styling: Mari Barreto / Beleza: Carol Ribeiro

De Universa, em São Paulo

09/05/2024 04h05

Nathalia Dill passou cinco anos longe das telas, mas não da atuação. Enquanto não a víamos nas novelas, ela estava ocupando os palcos do teatro e gravando uma nova série, "Guerreiros do Sol", que deve estrear na Globoplay em 2025. Agora está de volta às telinhas no papel de Vênus na novela "Família é Tudo".

"Estava morrendo de saudade. Adoro essa linguagem de novela, estou feliz em voltar", disse em entrevista a Universa.

Na trama, ela é a irmã mais velha e conciliadora. Na vida, a caçula que garante que não foi mimada. Para a reportagem, Nathalia falou um pouco da dinâmica da família Dill.

Universa: "Família é tudo" é focada em relações familiares, em diferentes círculos. Como é a sua relação com a sua família?
Nathalia Dill:
O público-alvo desta novela são as famílias que estão reunidas nesse horário. É o momento em que todos chegaram em casa, onde as pessoas estão jantando e confraternizando. Ela tem essa tangente, como se estivesse agrupando as pessoas e fosse quase um símbolo de união.

Não moro mais com meus pais, mas éramos assim quando estávamos juntos. Tínhamos esse ponto em comum de ver TV. Para mim, é muito simbólico a novela se chamar 'Família é Tudo' e ter essa conexão com a minha vida.

Você é a irmã mais nova, ao contrário da Vênus, que é a mais velha. Como você era com seus irmãos?
Dividi quarto com a minha irmã por 20 anos. Ela é apenas um ano mais velha, então tínhamos uma relação meio intensa. Tudo era nosso e dividido, o que tornava as sensações mais fortes. Eu tenho um irmão que é cinco anos mais velho, mas como era homem, ele tinha o próprio quarto e não dividia nada. Minha irmã e eu tínhamos essa relação mais dinâmica.

Na vida você é a caçula, na novela, irmã mais velha. E aí, como fez pra mudar esse comportamento, que eu sei que é diferente nas famílias?

Vênus (Nathalia Dill) em 'Família é Tudo' Imagem: Reprodução/Globo

É engraçado porque sempre fui a mais nova entre meus irmãos e primos. Na família do meu pai, somos 10 primos e eu sou a mais nova. Quando entrei no teatro, também era a mais jovem. Foram muitos anos assim, comigo sendo a mais novinha da turma.

Esse jogo vira quando entrei pela primeira vez em "Malhação", em que estava na categoria das pessoas mais velhas. Aí entendi um pouco esse lugar onde você viveu mais e tem mais experiência que as pessoas ao seu redor. A Vênus é a mais velha e a graça dela está ali. Ela é o coração daquela família. Cada irmão é um planeta completamente diferente e ela faz essa união de todos, sem julgar. Ela faz essa conexão por amor, não por imposição.

Você era a mais mimada por ser mais nova? Seus irmãos a acusavam disso?
Eles diziam que eu era, mas não sentia isso, não. [risos] Minha teoria é totalmente o contrário. Sou a terceira filha, já nasci quase na maior idade. [risos] Brinco que o primeiro filho tem todo um cuidado, o segundo é um pouco confuso, mas a terceira chega com 18 anos, se virando em uma guerra já estabelecida. Não sobram mãos para o terceiro: elas estão cuidando dos outros dois.

Nathalia Dill diz entender o cansaço da mãe sobre a maternidade Imagem: Fotos: Priscila Haefeli / Styling: Mari Barreto / Beleza: Carol Ribeiro

Na sua família você era a mais conciliadora, como a Vênus?
Acho que sim. Gosto de brincar que lá em casa somos três do signo de fogo --meus irmãos são de Leão, e eu de Áries--, enquanto meus pais são de signos de água. É uma energia completamente diferente.

Acho que se meus irmãos não fossem dois Leões eu não seria tão mediadora. Era tudo um grande fogaréu. Mas a gente aprende a dinâmica.

Agora que você é mãe, você entende mais as atitudes que a sua mãe e seu pai tinham com você e com os seus irmãos?
Totalmente. Hoje a gente vê como é complexo a maternidade e a paternidade. É algo que você tem que debruçar, dedicar e querer compreender. Temos cada vez mais estudos e conversas sobre o assunto.

Antigamente, só se reproduzia o que se via, sem parar para pensar. Na verdade, nem era indicada essa reflexão. A vida era muito difícil, as pessoas tinham outros problemas e desafios. E tudo ia se empilhando.

Brinco que se a gente tivesse todos esses pilares resolvidos, maternar seria muito fácil. Mas vivemos sobrecarregados. Por isso acredito ser algo que você precisa se dedicar. Não temos mais aquele conhecimento quase empírico de antigamente, onde nascia-se sabendo. O mundo mudou, temos mais informações e dinâmicas familiares.

Tem algo que você se pegou fazendo, assim como seus pais faziam, e pensou: 'meu Deus, me tornei meus pais'?
Talvez o estado de cansaço.

Via minha mãe cansada e sem paciência e quando me vejo nesse lugar eu consigo entender como era cansativo —e é eternamente cansativo. Lembro da minha mãe chegando em casa, eu e meus irmãos correndo pra cima dela e ela dizendo: 'Deixa eu chegar primeiro'. Eu não entendia, ela já tinha chegado. Mas hoje faz sentido ter esse tempo de chegar. Com filhos não tem mais isso.

Nathalia Dill e sua flha, Eva Imagem: Reprodução/Instagram

A Eva tem toques da sua personalidade? No que vocês são parecidas?
Não sei, tenho uma amiga que me disse que estava vendo a novela, que eu era boa atriz e que entendia porque a Eva já era boa nisso também. [risos] Mas calma! Para tudo a Eva faz uma cena, demonstra. Ela é muito expressiva e engraçada. Tem dias que acho que ela tem muito de mim. Tem outros que acho que não tem nada.

Ela te vê na novela? Sabe que é uma personagem e não a mamãe?

Mostrei algumas coisas para ela, meus pais acabaram mostrando uma cena de novela antiga que teve um acidente. Aí ela ficou assustada e foi um horror. Ela entende que não sou eu, mas para a faixa etária dela, novela tem acidente, briga, não é legal. Não assisto com ela para não causar confusão.

Você voltou para a novela só agora, com ela tendo 3 anos. Como foi essa mudança de ver a mãe mais tempo fora de casa?
Para nós foi um processo. Estava em cartaz no teatro quando ela tinha apenas um ano e meio. Então foi uma volta gradativa, porque me apresentava aos finais de semana e viajava com a peça. A Eva foi entendendo que eu tenho que sair de casa para trabalhar.

Depois fiz 'Guerreiros do Sol', onde gravava, com pouco volume. Agora sou protagonista, gravo muito, mas estou no Rio de Janeiro. Volto para casa todas as noites. Todos os momentos que posso, fico com ela. Uma amiga, que é atriz, me falou que o bom de eu voltar para casa é que posso passar todo meu tempo livre com ela. Mas, olha, é só se a Eva quiser [risos]. Esses dias, fui acordá-la para dar 'bom dia' antes de sair para trabalhar e ela me disse: 'mamãe, eu quero acordar sozinha'. Eu que me vire, achei que só ia ouvir isso na adolescência. [risos]

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