Após orar pela 'cura gay', ela rompeu com tudo e criou igreja lesbiteriana

A cantora, compositora e multi-instrumentista Bia Ferreira, 31, tem rodado o país e o mundo com sua música e suas ideias. A relação dela com a arte começou a partir do seu antigo vínculo com a fé cristã e a igreja evangélica.

Ex-evangélica

Filha de missionários, Bia teve na sua mãe, que era regente de coral, pianista e professora de canto, a primeira referência musical. Logo cedo, aos três anos, começou a estudar piano e mais tarde estudou no Conservatório Brasileiro de Música.

Hoje a artista toca, além do piano, outros 24 instrumentos.

A relação da filha de um casal de religiosos com a igreja não foi fácil. O motivo? Sua sexualidade. Bia conta que, aos 12 anos, escreveu sua primeira canção, cuja letra era um pedido a Deus para ela não ser lésbica.

A música, segundo a cantora, era resultante de sua educação religiosa.

A angústia sobre como a igreja interpretava sua sexualidade levou Bia a romper com a religião evangélica e a transformar a sua música em uma pregação "sobre política, liberdade de raça e gênero e principalmente sobre afeto".

Aquele Deus que era pregado lá [na igreja], teoricamente não aceitava pessoas como eu.
Bia Ferreira

Bia diz que foi "condicionada a seguir a religião dos pais", mas reconhece que a igreja promove iniciativas de acesso a direitos básicos e de transformação, especialmente nos lugares em que há a ausência do Estado.

Igreja Lesbiteriana

A cantora, compositora e multi-instrumentista Bia Ferreira
A cantora, compositora e multi-instrumentista Bia Ferreira Imagem: Arquivo pessoal / Pedro Barros
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Em 2011, a artista escreveu a canção "Cota não é esmola", mas foi em 2018 que ela viralizou na internet por meio do Sofar Sounds, um programa em que os músicos se inscrevem para um show privado.

O vídeo, que já ultrapassou 13 milhões de visualizações, é o mais visto no canal do projeto na América Latina.

Em 2019, Bia viralizou outra vez nas redes sociais ao lançar o seu primeiro álbum de estúdio, intitulado de "Igreja Lesbiteriana: um chamado". A cantora explica que "a igreja referida no título remete a um espaço de acolhimento às pessoas que o cristianismo rejeitou".

Na concepção de Bia, igreja é um lugar onde pessoas que professam a mesma fé se reúnem com objetivos em comum. No caso da sua Igreja Lesbiteriana, o propósito é promover uma reflexão a partir das letras de suas músicas.

Eu defendo a existência e a vida de pessoas LGBTQIA+ como um avanço social, defendo essas pessoas vivas no país que mais mata essa população no mundo; então é uma igreja porque reúne pessoas que compactuam da mesma fé e a gente tem fé na emancipação social, política e afetiva dessas pessoas.
Bia Ferreira

A Igreja Lesbiteriana, diz Bia, não tem um endereço físico, não usa textos sagrados, não tem sacerdotes.

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"É um movimento político que pauta direitos, acesso, oportunidades e respeito a pessoas que se parecem comigo."

Suas reuniões acontecem nos shows da cantora. "Cada show que eu faço é um culto diferente, a gente tem uma média de 200 pessoas por culto no Brasil. Fora do Brasil a nossa média é um pouco maior."

Amor contra o ódio

Ela conta que anualmente suas turnês têm passado por mais de 13 países —onde ela, além de fazer shows, também dá palestras. Para Bia, o nome "igreja" foi uma escolha por algo com que os brasileiros têm grande ligação. "A cada esquina tem uma", afirma.

Na perspectiva da compositora, há muita pregação de ódio e intolerância religiosa dentro de igrejas brasileiras e, justamente como resposta a isso, surgiu a Igreja Lesbiteriana.

"Eu criei um espaço onde isso não é cabível. E esse espaço não precisa ser físico, esse espaço é todo lugar onde a gente consegue se encontrar para trocar ideias sobre tecnologias de sobrevivência."

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