Claudia Raia: 'Sou budista, mas ecumênica, amo Jesus, que é capricorniano'
Atriz, cantora, bailarina, produtora. Elétrica, intensa, desconstruída, ecumênica. Mãe apegada, artista inquieta. Claudia Raia tem muitos adjetivos e, por tudo o que faz e é, podem até achar que é de outro planeta. Mas ela garante que são os olhos das outras pessoas. "Não me acho nada tão especial assim."
Entre as muitas facetas dela está a da maternidade, vivida de três maneiras diferentes pelo menos —porque ela é mãe postiça de outras artistas brasileiras.
A Universa, ela conta que se sentiu mãe de primeira viagem em alguns momentos com o nascimento de Luca, por isso gosta de ouvir outras mães, ainda mais agora que pode liderar um movimento de cuidado com o bebê junto a uma campanha da Pampers lançada em parceria com o Grupo Boticário.
A maturidade lhe trouxe o dom de ouvir e aprender constantemente. "Cada experiência é única e não dá para você impor qualquer coisa como uma certeza. Quanto mais madura eu fico, mais tenho certeza de que não sei nada." Confira alguns trechos.
Universa: Vamos começar falando do Luca? Você sentiu que sua bagagem de maternidade já tinha te preparado para todos os cuidados que um bebê precisa? Ou surgiu alguma insegurança?
Claudia Raia: Achei que estava incrível, sabendo de tudo ou da maioria das coisas. Mas me senti várias vezes uma mãe de primeira viagem, porque eu fiquei muito impressionada com as novidades que tem no mercado.
Eu pensava numa chupeta, não era mais aquela chupeta. Eu pensava na mamadeira, mas não dava mamadeira [antes] porque amamentei. Fiquei impressionada com as coisas em relação ao cuidado com o bebê, como essa linha nova de cuidados da Pampers, que tem produtos que podem ser usados desde os primeiros dias de vida, uma coisa que não existia na minha época.
Sobre isso, como foi com o Enzo e a Sophia, o que você costumava usar?
Como não tinha creme nem óleo corporal que pudesse usar no bebê, eu usava aquele famoso óleo de amêndoa doce, pouquinho também, só para deslizar a mão para conseguir fazer a shantala [técnica de massagem]
Hoje, acho muito importante a escuta que as marcas têm através de depoimentos maternos, porque, no fundo, é a gente que sabe qual é o perrengue do dia a dia. Isso faz muita diferença.
E você sentiu a necessidade de ouvir outras mães?
Total, porque isso [a maternidade] não é um passeio no parque. Não vamos romantizar e dizer que tudo são flores porque não são.
Quando você quer muito ser mãe, já é difícil. Quando você não quer ou quer mais ou menos, não tenha, porque é muito perrengue. Um perrengue maravilhoso, mas é um dia a dia puxado.
Quero sempre ouvir outras mães, estou sempre perguntando, porque com o Luca, agora, eu tenho várias gerações de mães conversando comigo. Sou de uma geração, tem mães um pouco mais maduras, mães muito jovens, mães de primeira viagem ou no segundo, terceiro filho. É muito legal trocar esse tipo de informação com várias gerações.
Cada experiência é única e não dá para você impor qualquer coisa como uma certeza, porque aquilo vale para você, não para os outros. Quanto mais madura eu fico, mais tenho certeza de que não sei nada.
Eu sempre cito a Fernanda Montenegro —trabalhei muito com ela, é uma pessoa de que gosto bastante— que fala que quando você vai ficando mais velha, vai ficando um pouco com certeza das coisas e começa a cagar regra. E na verdade não é assim.
A Fernandona tem 94 anos e é uma das pessoas de maior escuta que já vi na minha vida. A gente percebe que ela está escutando porque é curiosa, quer saber o que as outras pessoas pensam, o que as outras gerações imaginam. Amadurecer com essa curiosidade, com essa escuta aberta, é mais legal do que você ficar cagando regra.
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Quero receberÉ aquele clichê também de que a vida é um eterno aprendizado?
Total. E eu sempre falo isso: cada filho é um filho. Eu fui uma mãe para o Enzo, uma mãe para a Sophia e uma mãe para o Luca, completamente diferentes.
Você pode tentar dizer a mesma coisa, mas cada reação vai ser diferente. E você não tem como manter aquele discurso, porque sua fala é outra também. As coisas principais, os valores, você tenta manter, mas é introduzido de maneiras diferentes.
Nessa questão da maturidade, você tem algum tipo de preocupação com o envelhecimento, algo que te ronda a cabeça?
Se isso me rondasse, você acha que eu ia ter um filho com 56 anos? Outro dia eu falei com o Jarbas: 'eu sou muito inconsequente, como é que eu tenho um filho com 56 anos? Alguém tem que me parar'. Ele falou: 'a gente tenta parar você, mas você não para'.
Penso no agora, tenho uma certeza dentro de mim que vou chegar a 120 anos. Me cuido para isso, me alimento, faço atividade física, faço tudo que há de mais moderno para me manter de pé, manter os meus músculos firmes.
É a mesma certeza que tinha de que ia ter o terceiro filho. Não sei te explicar de onde vem essa certeza, que é a mesma certeza de que envelhecer é uma coisa da cabeça.
Conheço um monte de jovens que são velhos de cabeça e um monte de gente madura que é jovem de cabeça. O corpo vai se modificando, vai envelhecendo, depende também de como é a vida que você leva.
Quero viver muito, porque tenho três filhos e quero ver tudo acontecer com eles. Quero ver eles crescerem, casarem, quero ser avó, quero tudo que a vida tem para me oferecer. Quero continuar trabalhando, fazendo coisas muito legais, fazendo coisas adequadas para o meu momento de vida, para o que quero falar como artista, como produtora. Tenho muito assunto ainda.
Na verdade, estou iniciando o segundo ato. Tem o segundo ato inteiro ainda, tem o grand finale, tem muita coisa ainda para acontecer, muito espetáculo ainda para rolar.
Você falou que o envelhecimento é muito uma coisa da cabeça. Como você cuida da sua saúde mental?
Eu medito. Fui apresentada à meditação pela Fernandinha Souza, que é uma das 'filhas' que a profissão me deu, e fiquei apaixonada. Sou budista, então tenho um momento no dia que levo de 20 a 25 minutos para falar com o divino.
Sou budista, mas sou ecumênica, amo Nossa Senhora de Fátima, sou completamente apaixonada por ela e devota, adoro candomblé, umbanda, espiritismo. Amo Jesus, que é capricorniano dois dias depois de mim.
Então, tenho 25 minutos por dia que eu me tranco —às vezes é no banho, me lavando, me renovando— e converso com Nossa Senhora de Fátima. Tenho certeza que ela foi uma das pessoas que me ajudou muito nessa gravidez, nesse milagre, junto com a minha mãe que desencarnou em 2019 —ela deve ter feito a vida de Jesus um inferno para eu engravidar.
Com a maturidade, você vai entendendo os momentos da vida, não vai desafiando o destino. A gente vai só usufruindo, porque é tudo emprestado também, não é nada nosso.
Em um dos vídeos da campanha da Pampers você fala que mãe precisa de praticidade. Você é uma mulher prática geralmente, seja para tomar decisões grandes ou para fazer pequenas escolhas no dia a dia?
Sou super prática. Sou capricorniana, né. Para mim é tudo pá-pum, tudo rápido, e tudo já sei o que quero. Geralmente, não tenho dúvida, embora tenha ascendente em gêmeos, tem dia que estou geminiana, que estou um pouco indecisa, mas isso é um dia por ano.
Você está em cartaz no teatro com Tarsila, a Brasileira, de quinta a domingo. Como fica sua vida nessas temporadas?
E não faço só isso, faço publicidade, faço muita coisa. Estou produzindo mais duas peças, que é o Concerto para Dois, que eu volto no segundo semestre de 2024, um espetáculo de muito sucesso, só eu e Jarbas, um musical que é comédia. E mais um espetáculo que vou estrear em Portugal em 2025.
De quinta e sexta, eu consigo chegar no teatro às 18h, mas sábado e domingo chego às 14h. É uma confusão, porque ao mesmo tempo você tem que dormir, por causa da voz, para aguentar.
Tarsila é um espetáculo que me exige muito, é uma protagonista absoluta, não saio de cena hora nenhuma. É um papel dramático, bastante desgastante para mim.
Mas vou levando. Quando acordo, o Luca já está acordado, aí brinco com ele. Também tento não fazer nada naquele período para poder estar com ele. Às vezes, consigo fazer ele dormir antes de ir para o teatro.
A gente vai levando. Ele sabia que ia ser filho de artista, ele escolheu esses pais, sabia que eram artistas de musical, então a vida é essa e a gente vai levando e está tudo bem. Não sofro não. Com a Sophia e o Enzo sofria mais.
De sentir culpa?
Sim, mas fui trabalhando essa culpa, porque vejo o resultado de como ficou o Enzo e a Sophia, filhos muito amorosos, muito apegados a mim, muito gratos, então acho que fiz direito a minha parte.
Errei em muitas coisas, claro, mas acertei muitas coisas também. Não foi a minha falta de tempo que os deixou abandonados, absolutamente. Sempre me fazia presente.
Às vezes, saía do Projac nove da noite, eles já estavam indo dormir e eu do telefone contava história para eles dormirem.
E você é muito intensa nos seus personagens, em tudo o que você faz, você vive cada emoção, não é?
Sou muito intensa, mas tive que aprender a ser menos nesse papel, foi outro exercício muito maravilhoso, porque a personagem é muito introspectiva, muito tímida, totalmente diferente de mim. Inclusive a postura dela: ela tinha cifose, então ela andava com a cabeça para frente.
Mudou completamente a minha postura, o meu temperamento, o meu timbre de voz, a velocidade do meu andar, tudo, porque eu sou elétrica. É uma Claudia desconstruída, que nunca ninguém viu.
Em um vídeo do final da peça, você fala que "só uma brasileira para aguentar tudo o que ela aguentou". Você tem esse mesmo sentimento em relação a sua trajetória?
Não me acho nada tão especial assim. As pessoas falam: 'você é um ET. Agora você foi desmascarada. A gente já sabia disso, mas não tinha como provar. Depois do Luca, você está perdida, porque agora a gente sabe que você é um ET e não é desse planeta'.
Na verdade, é uma coisa muito mais que as pessoas falam do que o que acho mesmo. Acho que esse é o meu temperamento, é o meu jeito de desbravar a vida, de querer coisas novas, desafios novos. Tenho essa sede de me reinventar.
Me acharia uma artista inquieta, que quero coisas novas, mas não acho que seja tão especial assim. Acho que é um temperamento, um jeito de viver a vida. Talvez não seja tão comum, mas é pelo meu próprio temperamento, é minha vontade, minha ânsia de me reinventar.
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