Thalita Rebouças escolheu não ser mãe: 'Confiei em minha intuição'
Imagine um dia acordar e resolver fazer tudo rimado.
Foi assim que a Thalita decidiu que seria o seu novo babado.
A aventura literária foi uma viagem lendária.
Escritora focada nos jovenzinhos, pensou: 'Vou lá eu falar com a turma dos mais velhinhos'.
Assim surgiu o livro "Felicidade Inegociável e Outras Rimas", que, só para constar, está muito por cima.
Aos 49, a escritora Thalita Rebouças, que também é apresentadora de TV e jornalista, já publicou mais de 20 livros voltados ao público adolescente. Só que em março de 2024, ela resolveu lançar algo diferente: um livro de rimas voltado para mulheres um pouco mais velhas do que ela estava acostumada. Por isso a tentativa frustrada de iniciar este texto com rimas.
Aí nasceu o "Felicidade Inegociável e Outras Rimas" (Editora HarperCollins). E tem sido um sucesso. Os textos curtos e ritmados envolvem e, quando você se dá conta, já terminou de ler o livro, que trata de menopausa, a decisão da jornalista de não ter filhos, divórcio e o encontro de um novo amor com mais de 40 anos e o processo de luto.
Sobre a decisão de escrever para mulheres 40+ e todos os temas que envolvem o livro, Thalita conversou com Universa.
Universa: Como você decidiu se tornar escritora e focar no público adolescente?
Thalita Rebouças: A decisão de me tornar escritora e focar no público adolescente foi mais uma jornada do que uma decisão consciente. Tudo começou há quase 25 anos, quando lancei "A Traição entre Amigas", em 2000. Na época, não tinha uma visão clara de que esse público seria o meu principal foco. A verdade é que o livro foi bem recebido pelo pessoal de 10 a 14 anos, e até meninas mais novas, de 8 e 9 anos, que vinham até mim com feedbacks inspiradores.
Não planejei isso, na verdade. Foi como se o público adolescente me escolhesse. E considero isso um privilégio incrível.
Desde então, muitas histórias marcantes surgiram ao longo dos anos, histórias de leitores que encontraram conforto, inspiração e até mesmo mudança de vida através dos meus livros. Essas interações significativas, esses laços que criamos, são o que mais me motiva como escritora.
Seu novo livro parece uma mudança de direção, voltada para mulheres mais velhas. O que te motivou a explorar esse novo público?
Na verdade, ela não foi totalmente planejada. Surgiu como uma oportunidade. A Audible [plataforma de produtos em áudio da Amazon] me encomendou um livro voltado para um público mais adulto. No início, confesso que relutei um pouco, afinal, estava imersa em diversos projetos. Mas, ao mesmo tempo, havia muitos leitores com deficiência visual que me pediam audiolivros meus. Então, pensei que seria uma forma de atender a essa demanda.
A ideia de escrever rimas surgiu como uma tentativa de algo novo. Começou como um desabafo sobre as cobranças que recebi ao longo da vida por não ser mãe. Depois, fui explorando outras experiências pessoais, como minha separação e até minha paixão por um vibrador.
À medida que me aprofundava nesses temas, percebi que estava abordando algo importante, algo que muitas mulheres poderiam se identificar. Foi uma transição natural e emocionante.
Você também tem experiência na TV, com programas como o "The Voice Kids". Como foi essa transição da escrita para a televisão?
A experiência na TV foi algo que surgiu de forma inesperada, mas que adorei. Sempre fui bastante comunicativa e adoro estar diante das câmeras. Tive a oportunidade de participar de programas como o "Vídeo Show" e o "Esporte Espetacular" antes de chegar ao "The Voice Kids".
Foi uma experiência incrível trabalhar em um programa que trazia tanta alegria para as pessoas. O contato com as crianças e adolescentes, tanto durante as gravações quanto depois, quando elas me reconheciam na rua, foi algo realmente gratificante. Acredito que, mesmo na TV, meu objetivo sempre foi o mesmo: conectar-me com o público de forma positiva e inspiradora.
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Quero receberVocê sentiu pressão estética na TV?
Lido bem com meu corpo e nunca sofri pressão estética na TV. Mas, curiosamente, no meu novo livro, abordo justamente essa pressão que as mulheres sentem em relação à aparência. Acredito que é uma questão importante que precisa ser discutida. É incrível como a sociedade impõe tantas expectativas às mulheres, principalmente em relação à aparência, não é mesmo?
No entanto, acredito firmemente que a idade traz consigo sabedoria e experiência, e essas são qualidades muito mais valiosas do que qualquer padrão de beleza superficial.
Como você encara o processo de envelhecimento, especialmente em uma sociedade que muitas vezes valoriza a juventude?
Vejo o envelhecimento como um privilégio e uma oportunidade para crescer e se redescobrir. Em uma sociedade que muitas vezes coloca um grande foco na juventude e na beleza física, é fácil se sentir pressionado a se encaixar em certos padrões.
No entanto, ao longo dos anos, aprendi a valorizar cada ruga, cada marca que a vida deixou em mim. Em vez de temer o envelhecimento, prefiro abraçá-lo como uma parte natural da vida. Acredito que cada fase da vida traz consigo sua própria beleza e sabedoria, e é importante celebrar isso.
Qual é a sua perspectiva sobre a menopausa e como você lida com esse processo?
Minha experiência com a menopausa foi desafiadora. No entanto, aprendi que é crucial falar abertamente sobre isso para ajudar outras mulheres a se sentirem menos isoladas e mais capacitadas a buscar o apoio médico necessário. A menopausa é muitas vezes vista como um tabu na sociedade, e muitas mulheres sofrem em silêncio por medo de serem julgadas ou mal compreendidas.
Acredito que é essencial normalizar a conversa sobre a menopausa e fornecer um espaço seguro para compartilhar experiências e buscar suporte mútuo. Quanto ao tratamento, reconheço a importância da reposição hormonal para aliviar os sintomas, mas também entendo que cada mulher é única e que o tratamento deve ser personalizado de acordo com suas necessidades e condições de saúde específicas.
Como você enfrenta a pressão social em relação à maternidade e a ideia de que ser mãe é essencial para a realização feminina?
Enfrentei uma grande pressão social em relação à maternidade ao longo da minha vida. Desde muito jovem, fui questionada sobre meus planos de ter filhos e frequentemente me senti incomodada com a expectativa de que todas as mulheres devem ser mães para se sentirem realizadas.
No entanto, com o tempo, aprendi a confiar em minha própria intuição e a entender que a maternidade não é a única forma de realização feminina. Decidi não ter filhos e compartilho abertamente minha decisão para encorajar outras mulheres a se sentirem confortáveis com suas escolhas.
Acredito que é fundamental desafiar a ideia de que a maternidade é obrigatória para a felicidade feminina e criar um espaço seguro para mulheres que optam por não seguir esse caminho. Cada mulher é única, e suas escolhas de vida devem ser respeitadas e celebradas, independentemente de se tornarem mães ou não.
Como você lida com os desafios do relacionamento pós-divórcio e qual conselho você daria para outras mulheres que enfrentam situações semelhantes?
Após meu divórcio, percebi a importância de passar um tempo sozinha para me redescobrir e curar. O processo de separação pode ser emocionalmente desafiador e muitas vezes vem acompanhado de sentimentos de solidão e incerteza sobre o futuro. No entanto, também é uma oportunidade para crescimento pessoal e autodescoberta. Para outras mulheres que enfrentam situações semelhantes, eu encorajaria a buscar apoio em uma rede de mulheres que entendem e compartilham suas experiências.
É fundamental lembrar que estar solteira após os 40 anos não é um fracasso, mas sim uma oportunidade de crescer e se fortalecer.
Ao invés de se cobrar ou se sentir pressionada a entrar em um novo relacionamento rapidamente, é importante permitir-se tempo para curar e se reconectar consigo mesma. O amor próprio é a base de relacionamentos saudáveis, e aprender a amar a si mesma é um passo essencial para encontrar um parceiro que valorize e respeite quem você é.
Como você lida com o papel de madrasta e como você enxerga essa dinâmica familiar?
Ser madrasta é uma experiência incrível para mim. Embora nunca tenha planejado ser mãe, acabei me tornando madrasta de dois meninos, um pequeno e um mais velho, e eu amo essa experiência. A relação que tenho com eles é maravilhosa e eu vejo isso como uma grande bênção.
Já tinha uma amiga que passou por uma situação semelhante, e ela compartilhou comigo como era desafiador, mas decidi abraçar essa oportunidade. Acredito que é importante assumir esse papel com responsabilidade e amor, garantindo que os meninos sintam-se amados e protegidos.
Um dos capítulos do livro é sobre a perda do seu pai. Como você lida com a morte e o processo de luto?
Lidar com a morte tem sido extremamente desafiador para mim. Recentemente, perdi meu pai, minha madrinha e minha avó em um curto período de tempo. Essas perdas foram devastadoras e ainda estou em processo de luto.
Admito que não lido bem com a morte; é uma experiência dolorosa e difícil de aceitar. No entanto, escrever sobre essas experiências tem sido uma forma de cura para mim. Cada perda me afetou de maneira única, desde a saudade profunda até a revolta pela forma como alguns entes queridos partiram. Mas ao compartilhar essas histórias através da escrita, tenho encontrado algum alívio e consolo.
Como você mantém seu bem-estar físico e emocional?
Cuidar de mim mesma é uma prioridade, então faço terapia regularmente e me exercito cinco vezes por semana. A atividade física, especialmente, é uma parte crucial da minha rotina, pois me proporciona não apenas benefícios físicos, mas também emocionais. Embora haja dias em que malhar seja uma luta, sei que é algo que me faz bem.
Além disso, tento manter uma mentalidade positiva e encontrar momentos de alegria no dia a dia. A felicidade pode ser negociável em algumas situações, mas é algo que valorizo profundamente e estou constantemente buscando cultivar em minha vida.
Você poderia compartilhar mais sobre o significado por trás da expressão "felicidade inegociável"? E, pra finalizar, você é feliz?
Claro! Essa expressão surgiu de uma reflexão sobre a importância de proteger nossa própria felicidade. A vida muitas vezes nos coloca diante de situações em que somos tentados a sacrificar nossa felicidade em nome de outras coisas, como relacionamentos tóxicos ou expectativas externas.
"Felicidade inegociável" é um lembrete de que nossa felicidade não deve ser comprometida ou subestimada. Devemos ser assertivos em proteger nossa própria felicidade e não aceitar nada que a ameace.
Nossa, e eu sou muito feliz. Eu sei que ser feliz é para poucos Claro que eu não sou feliz toda hora, mas se eu pudesse te dar o balanço, eu sou muito mais feliz que triste.
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