Chantagem e ameaças: o que é estupro virtual e como identificar os casos?
Colaboração para Universa*
11/06/2024 04h00
Casos de estupro virtual têm crescido sem lei específica de combate no país. Nos últimos seis anos, em São Paulo, os registros de casos semelhantes aumentaram 12 vezes — de três boletins de ocorrência em 2017 para 35 em 2023. No auge da pandemia, em 2020, a polícia registrou 45 casos.
O que é estupro virtual
O estupro virtual é caracterizado por ameaças, chantagens e constrangimentos para praticar ato libidinoso. É um crime hediondo, inafiançável e não pode receber indulto, anistia ou liberdade provisória. A pena é de 6 a 10 anos de reclusão.
Apesar de o termo "estupro virtual" não estar no Código Penal, as definições do crime fora da internet também valem para ele. Afinal, para configurar estupro, não é necessário haver penetração. Em 2009, o Código Penal passou por alterações e ampliou esse conceito para:
Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar, ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
Por "ato libidinoso" entende-se qualquer gesto destinado a satisfazer a lascívia e o apetite sexual de alguém. Os ambientes virtuais não permitem a "conjunção carnal", mas permitem atos libidinosos sem contato físico.
Se no estupro físico geralmente se usa a força bruta para dominação da vítima, no virtual prevalece a psicológica — é o caso da chantagem, das ameaças e do constrangimento.
Por exemplo: você manda nudes para alguém, que acredita ser de confiança, e começa a receber mensagens dessa pessoa ameaçando a divulgação do conteúdo. Com medo, é induzida a registrar mais conteúdos íntimos em troca de não ter suas imagens divulgadas.
A vergonha e o medo de denunciar são frequentes, o que faz com que agressores, em geral, fiquem impunes. Mas é importante destacar que, ainda que aconteça no ambiente virtual, o crime de estupro deve ser denunciado.
A tecnologia, inclusive, facilita a investigação do crime — tudo fica registrado nos endereços de IP dos computadores e celulares ou em backups das redes sociais. Conversas e imagens usadas nas chantagens podem virar provas de possíveis crimes.
*Com reportagens publicadas em 26/04/2023 e 08/06/2024