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'Não sou insubordinada': Rita Batista supera rótulos e celebra 'Saia Justa'

Rita Batista entrará para o time de apresentadoras do programa do GNT no segundo semestre deste ano Imagem: Engels Miranda

Do UOL, em São Paulo

12/06/2024 04h00Atualizada em 12/06/2024 10h08

O ano de 2024 definitivamente será um dos mais especiais na vida de Rita Batista. Pelo menos no que diz respeito ao campo profissional. Além de completar dois anos como apresentadora do 'É de Casa', ela está prestes a estrear no segundo semestre no novo time do 'Saia Justa'. Achou pouco? Ela ainda lançou seu primeiro livro, que já é sucesso de vendas.

Mas não pense que foi fácil chegar até aqui. Baita Jornalista, com 'J' maiúsculo mesmo, Rita construiu uma carreira de credibilidade, seja no noticiário, nas coberturas do Carnaval e no extinto 'Muito Mais', sobre o mundo das celebridades.

Além de projetos na TV, Rita Batista lançou livro e tem podcast Imagem: Engels Miranda

Além dos desafios que se impõem aos profissionais da área, a apresentadora superou aqueles que se impõem às mulheres negras, especialmente como no caso de Rita, que são inteligentes e possuem opiniões fortes. Ao Universa, ela reflete sobre essas questões e celebra sua trajetória e projeta o que vem pela frente ainda.

Me conta um pouco das expectativas e como surgiu esse convite para o 'Saia Justa'?

Eu tenho aprendido ao longo da vida a esperar, a ter tranquilidade, ter calma, que não é uma característica minha, mas para essas coisas eu tenho. Porque se eu tenho uma certeza de que meu desejo vai ser realizado, eu não fico mais pensando em quando vai ser, em quanto tempo isso vai acontecer. Eu só sei que vai acontecer.

Sabe, tem um negócio que me diz assim, vai acontecer, vai rolar. E é isso que aconteceu agora em 2024. Estou muito feliz, ansiosa pra começar logo. Eu gosto de fazer as coisas, de realizar as coisas. Sou fominha mesmo de câmera, adoro, amo. E aí, eu fui convidada pela direção do canal nessa reformulação que o programa completa 22 anos.

Fico muito feliz, lisonjeada mesmo, de ter sido lembrada para fazer parte dessa nova formação. Eu fui repórter do 'Saia' em 2016, tive esse contato direto com a produção, com o produto, a gente gravava duas cidades, mulheres e histórias e projetos capitaneados por essas mulheres. E já foi muito bom, uma experiência incrível.

Você se junta a Bela Gil, Gabriela Prioli e um quarto nome misterioso. Vocês já tiveram a oportunidade de se encontrar e trocar figurinhas?

Ainda não, porque a gente tá esperando o nome da outra Saia pra juntar todo mundo. É um segredo aí que as pessoas acham que eu tenho alguma informação privilegiada. Não, eu tô aqui, igual vocês, aguardando, até por isso a gente não se encontrou ainda. Já tive conversas com a direção do canal, a direção do programa, com a produção executiva, mas só vamos nos reunir assim que a quarta Saia sair do guarda-roupa.

As apresentadoras do programa deixaram grandes marcas na história do 'Saia'. Você já consegue imaginar o que você quer levar para a atração?

Total, total. Eu tenho certeza do meu lugar nessa saia justa, naquele sofá. Porque, como eu disse, é uma coisa de construção, de sentimento, de desejo e também profissional. Acho que chego ali com uma maturidade profissional, 21 anos de carreira, o programa tem 22, eu tenho 45 de idade. Então, eu sempre fui uma telespectadora voraz do Saia.

Acho que vai ser uma experiência incrível, a gente tem uma possibilidade de troca, essa 'encomenda' para ser um programa de opinião, então acho que é um campo muito tranquilo para mim. Nunca foi um problema. As pessoas precisam ter opiniões e precisam, inclusive, ter a liberdade de mudá-las.

Às vezes, a gente fica cristalizado numa ideia que tínhamos quando, sei lá, éramos adolescentes ou na primeira fase da juventude. Mas aí chega a maturidade e as coisas mudam, gente. Não é demérito nenhum mudar de ideia, né?

É recorrente ver mulheres negras receberem o rótulo de raivosas e metidas por apenas terem opiniões. Esse tipo de rótulo já foi atribuído a você?

Sempre é preciso a gente fazer um recorte, que é muito importante no Brasil, que é o recorte racial. Porque mulheres pretas que têm opinião são [vistas como] metidas, as que são assertivas são violentas, são grosseiras, são reativas, são insubordinadas, as pessoas gostam muito de dizer: 'Ah, Rita Batista é insubordinada'.

Não, não sou insubordinada, eu chego no horário. Pode perguntar a qualquer pessoa que trabalha comigo, chego no horário, pronta, dou meu texto e o do colega, se for uma coisa de decorar.

Nunca precisei retirar um post ofensivo ou que degradasse a condição de alguém ou de alguma situação, ou mesmo tenha sido processada para reparar contra a honra de alguém. Em absoluto, fiz o contrário, processei gente por causa disso.

Quando se trata de mulheres pretas, é isso, é sempre um demérito, né? As pessoas estão sempre esperando que baixemos o olhar, que baixemos o pescoço, que nos curvemos diante do que nos é apresentado, que não questionemos em absoluto coisa alguma.

É como se na nossa condição de mulher preta, no meu caso nordestina, periférica, o que está sendo ofertado, o que está sendo oferecido para mim, [apenas] me dê por satisfeita. E quando são mulheres brancas, ah, são empoderadas, donas de si, cheias de opinião, não são as criadoras de casos, são as que resolvem. E nós, mulheres negras, somos as que procuramos confusão.

Inclusive, quando você entrou no 'É de Casa' já temia a vista grossa que viria a acontecer com possíveis erros. Você sentiu essa 'régua' mais alta em relação ao seu trabalho?

Tem um ditado que é da minha casa que diz assim: 'Quando a pessoa não tem o que falar, inventa'. E eu fico percebendo. Já que não tem problema na minha fala, na minha emissão, na informação que eu passo, não tem um erro crasso na minha comunicação, a questão é a minha unha que é grande, o problema é o cabelo que é branco, que é volumoso, é a roupa.

Olha, eu já sosseguei meu coração. Sempre haverá uma coisa. Ainda mais que eu sou mulher. Talvez, por exemplo, o Thiago [Oliveira, do 'É de Casa'], não receba esse tipo de crítica ou de cobrança. Vai para um outro olhar, uma outra perspectiva.

Ele pode, sim, sofrer com outros aspectos, mas esse principal da estética está muito ligado ao feminino. Eu fico impressionada com isso. A régua é bem alta para pessoas negras e para mulheres negras ainda com esse componente do machismo, da heteronormatividade, do sexismo e aqueles ismos todos que a gente fica o tempo todo combatendo.

Com dois anos de bagagem no 'É de Casa', como a experiência no programa tem transformado você?

É a experiência da TV Globo. É entender que você está num conglomerado de comunicação com a potência que o Grupo Globo tem. É impressionante como a gente tem essa possibilidade de contar histórias e mobilizar pessoas, agora, infelizmente, nessa tragédia do Rio Grande do Sul. As pessoas entram, participam, diante das suas possibilidades, o quanto puder.

Mas é impressionante, todo mundo assiste a esse programa. Qualquer coisa que você diga está sendo registrada por alguém, em algum momento. Como é um programa muito longo, a gente consegue manter essa peteca no ar, sendo jogada a quatro mãos ali, na frente da televisão, mas com a equipe de mais de 30 pessoas que trabalha a semana toda.

Me dá uma raiva quando dizem que eu só trabalho no sábado! A gente trabalha a semana toda, mas muito feliz, porque estamos cumprindo a encomenda que recebemos, nós aí falando do elenco, dos nossos diretores, da direção-geral e direção de núcleo, e também do público.

Não dá para dizer que não houve uma evolução, mas ainda assim é muito limitado o número de pessoas negras em lugares de destaque grandioso, seja na TV ou redes sociais. Você acha que essa evolução ficou presa num lugar de 'cota' que não tem se expandido ainda mais?

Enquanto não tivermos as canetas, enquanto não formos nós, aqueles e aquelas que assinam, que decidem? Porque o poder de decisão, infelizmente, ainda não é nosso. A gente tem força de trabalho, obviamente, muitos talentos. A gente tem competência. Sabemos fazer, mas ainda não temos o poder de decisão.

E aí, eu vou sair um pouquinho das empresas de comunicação, dessa comunicação que fazemos, mas vou para o mercado publicitário. Porque o mercado publicitário é balizador de todo o mercado.Enquanto não tivermos signos afrodescendentes, indígenas sendo esses expoentes do mercado publicitário, a gente não vai conseguir fazer essa correspondência com signos audiovisuais.

Então, é por isso que a gente precisa celebrar verdadeiramente quando um ou uma dos nossos está lá, chega lá. Comentar no post de Zezé Motta, sim. No post de Alcione, sim. Falar que maravilha, que beleza, que isso, que aquilo. Salvar, compartilhar. Falando de rede social, né? Se há uma marca que nos boicota, que a boicotemos também.

Que há uma marca que nos valoriza, que nos entende como ser humano como público consumidor potente, como vendedores, porque é isso que fazemos quando emprestamos as nossas imagens, que as utilizemos.

Você lançou o livro "A Vida é um Presente", reunindo seus principais mantras. Como foi esse processo e convite para escrever?

Foi uma junção de quereres. A minha comunidade de internet sempre me cobrava que eu escrevesse um livro dos mantras que recitava. E eu dizia: 'Gente, é só vocês copiarem'. Eu aprendi assim, copiando. Aí comecei a legendar os vídeos. Quando colocava post no feed, fazia a legenda com o mantra, mas nada disso era suficiente. As pessoas queriam que eu reunisse tudo num caderninho e vendesse como livro.

Isso tudo se originou por causa do podcast, o 'Tudo Odara' e tal. No final de 2022, a Planeta fez contato através do Selo Academia com a minha empresária da época, a Rita Dias. E ela falou: 'oh, tem um convite aqui pra você escrever um livro'. Ela disse assim, 'o tema tá aberto', mas eles sugeriram aqui uma coisa que eu acho que pode dar pé.

E foi assim, tudo escrito e enviado pelo WhatsApp, porque eu não paro em lugar nenhum. Não tinha esse momento de sentar e talz, eu transcrevia do meu bloco de notas. Eu escrevia nas madrugadas, entre uma viagem e outra e tal. No início do Carnaval desse ano recebi o livro pronto e fomos começar a pré-venda.

Graças a Deus, a primeira edição vendeu cinco mil exemplares, a gente já tá na segunda, tem uma proposta aí, uma coisa boa pra desenvolver um audiolivro, porque a gente percebe também que as pessoas gostam de me ouvir recitando os mantras, como faço na rede social, na televisão. Então a gente vai desenvolver esse projeto.

E como os mantras entraram na sua vida?

Quando comecei a fazer, claro, fazia meio sem acreditar. Três pessoas em três momentos diferentes da minha vida me induziram a isso, a ser despertada para a espiritualidade, sem estar intimamente ligada a uma religião. Porque eu entendia que uma coisa tinha que estar atrelada à outra e não precisa. E nem precisa ter uma religião.

A gente tá falando de espiritualidade. Esses três sábios e sábias, vieram pra fazer a diferença. Eu comecei meio fazendo assim com a testagem, falava um dia, não falava dois. E aí, quando eu comecei a ritualizar a vida? Quando eu comecei a sacralizar mesmo a existência, a entender que a gente não tá aqui somente carne, osso, pagamento de boleto.

Que a divindade, ou as divindades, a depender do que você acredite, atuam na nossa vida. Que os milagres cotidianos existem. Que essa fé prática, essa fé prática aplicada, acontece e mobiliza coisas. Que mesmo que não modifique a sua vida no tempo que você espera, da maneira que você espera, a gente cria uma ambiência positiva, sabe? As coisas não deixarão de acontecer.

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