Usar filtro é esconder uma dor? Pontuar retoques em foto deve ser obrigação
Quem ama o universo de maquiagem também ama o 'Lab da Beleza', programa nas redes de Universa comandado pela supermaquiadora Vanessa Rozan. Na 8ª edição de Universa Talks, ela adaptou o formato do programa para apresentar uma conversa profunda e interessante com duas mulheres poderosíssimas do mercado de make: Magô Tonhon, maquiadora, educadora e consultora de beleza, e Daniele da Mata, CEO da Damata Makeup e expert em pele negra.
Vanessa já começou questionando sobre estereótipos de beleza - que privilegiam mulheres magras, de nariz fino, cabelo liso e sobrancelhas arqueadas - e como as duas mulheres levam isso para os seguidores nas redes sociais.
"Escolho o caminho de falar todos os dias para mulheres pretas, nas minhas redes sociais, que elas são lindas", respondeu Daniele da Mata. E acrescentou que, embora haja essa imagem ideal de beleza branca vigente, as mulheres pretas têm uma estética própria.
Trançar o cabelo ou não, ter uma unha gigante ou não, é uma estética nossa [mulheres pretas]. Temos referências próprias. Esse lugar sempre existiu, mas nunca fomos vistas como bonitas nele. Tem coisas que a branquitude acha que são bonitas para gente, mas nós sabemos o que é bonito para nós.Daniele da Mata, CEO da Damata Makeup
Para Magô, além dos estereótipos, beleza tem a ver com "escavar o próprio lugar de pertencimento. Beleza é abrir espaço, e falo isso a partir de uma experiência muito pessoal da minha transição. Eu vivi o 'auto-ódio' durante 28 anos, e hoje me sinto muito bem na minha pele", contou.
Afinar o nariz para quê?
Vanessa perguntou sobre filtros, um tema que estuda profundamente. "Antigamente, havia uma separação física entre a foto de mulher linda numa revista e você. Hoje, com o filtro, você se vê alterada com um botão. Mas é uma alteração pré-definida, de como acham que você deveria ser. E quando você desliga o filtro, passa a achar que tem algo errado com você."
Para Magô, todo uso de filtro esconde uma dor. "Tudo bem recorrer ao filtro, porque como chegar para uma pessoa que se odeia há 30 anos e falar, 'agora você vai ter que se amar'? É preciso, no entanto, profundidade e responsabilização para usá-los", disse.
Sinalizar uso de Photoshop deveria ser uma obrigação. É uma questão de saúde pública. Não se trata do seu gosto pessoal ou do seu ódio pelo seu nariz ou perna. É uma questão maior, coletiva. As saídas são coletivas.Magô Tohnon, maquiadora e educadora
Daniele confessou: "Eu uso filtros loucamente. Mas nos vídeos não, porque minhas seguidoras precisam ver o meu tom exato de pele". Porém, ela é enfática em relação a limites: "Na hora de maquiar uma cliente, eu não afino o nariz nem que ela peça. Para quê? Mudar a estrutura e uma estética que é nossa só para ter um nariz fininho como uma Kardashian? Não! Assim como clarear a pele com maquiagem. Não faço".
O debate aconteceu no último sábado (08/06), durante a edição do Universa Talks 2024, na Pocket House, em São Paulo.
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