Daniele da Mata diz que segurança abordou 50 alunas pretas ao comprar make

Quem ama o universo de maquiagem também ama o 'Lab da Beleza', programa nas redes sociais de Universa comandado pela supermaquiadora Vanessa Rozan. Na 8ª edição de Universa Talks, ela adaptou o formato do programa para apresentar uma conversa profunda e interessante com duas mulheres poderosíssimas do mercado de make: Magô Tonhon, maquiadora, educadora e consultora de beleza, e Daniele da Mata, CEO da Damata Makeup e expert em pele negra.

Existe make para mulheres maduras ou crianças?

Durante o encontro, o microfone foi aberto para perguntas das participantes. Uma delas perguntou como o mercado de make enxerga mulheres acima dos 40 anos. Para Vanessa, toda a comunicação e criação de produtos é voltado para um público muito jovem. "Eu percebo que hoje, aos 43 anos, eu sou mais chamada para falar de skin care do que de maquiagem. É como se make não fosse mais pra mim. E mesmo sendo uma mulher branca, padrão, me vejo invisível", desabafou.

Para ela, é como se a mensagem de beleza fosse: combata os sinais do tempo e cuide para que eles sejam os mais amenos possíveis. "Essa palavra 'combater' foi usada durante muito tempo para se referir aos cuidados com a pele madura, como se a gente fosse a responsável por envelhecer, mas envelhecer é algo natural, aliás, é a única saída", completou.

Outra participante compartilhou sua angústia: sua irmã, de 8 anos, só tira fotos se tiver filtro, e veta a postagem de imagens nas quais ela acredita que está feia. "Isso me assusta muito. Como podemos ter uma conversa honesta com nossas meninas sobre isso?", perguntou. Magô respondeu:

Precisamos produzir o amor, o autoamor não é algo que se consegue de um dia para o outro. Então pega o celular e pede pra ela te mostrar o que incomoda nela, quais filtros ela usa e porquê. E, por fim, diria que é preciso tempo e disponibilidade para desconstruir isso que a gente construiu.

Daniele ainda sugeriu prestar atenção nos ingredientes que compõem os produtos de beleza, pois a maioria deles não foi testada para serem usados por menores de idade. "Use apenas aqueles que são específicos para crianças, e leia os rótulos. Em algum cantinho, eles indicam a partir de qual idade o produto pode ser usado."

Mercado que exclui

Vanessa Rozan trouxe à tona um caso acontecido com Daniele há alguns anos em uma loja de maquiagem famosa, quando a maquiadora encabeçava o projeto 'Negras do Brasil', por meio do qual rodou o país falando de maquiagem para pele negra.

"Uma vez, em Salvador, tive a ideia de lotar um ônibus com 50 mulheres pretas e levá-las para a loja de maquiagem, num shopping da cidade. Falei com a marca - que inclusive apoiava o projeto - e assim fizemos", contou.

Chegando ao shopping, o grupo de mulheres foi abordado pelos seguranças: "É um arrastão?", quiseram saber. Surpresa, Daniele explicou a presença das mulheres ali e seguiram até a loja, onde passearam, viram todos os produtos, compraram bastante... Até serem abordadas novamente pelo pessoal do shopping, que avisou que "aquele tipo de movimentação não era permitido ali".

Depois que as mulheres foram embora, Daniele procurou a administração do shopping para conversar. "Afinal, eles tinham que me agradecer por ter levado 50 mulheres até lá. Todas gastaram, e não foi pouco. Disse que me senti desrespeitada", contou. Por fim, o shopping enviou vouchers para as participantes voltarem, numa espécie de pedido de desculpas.

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