'Eu fiz aborto': capa da Veja de 1997 com mulheres que abortaram viraliza
Após a Câmara aprovar, em votação-relâmpago, a urgência do projeto de lei antiaborto, que equipara a interrupção da gestação acima de 22 semanas a homicídio no Brasil, uma capa da revista Veja de 1997 circulou nas redes sociais. Na publicação, mulheres famosas, como as apresentadoras Hebe Camargo e Marília Gabriela, a atriz Cássia Kis e a cantora Elba Ramalho, e anônimas dão seu depoimento sobre a própria experiência com o aborto.
O que aconteceu
Oitenta mulheres contaram como e por que abortaram. Em setembro de 1997, reportagem de capa da revista Veja trazia depoimento de 80 mulheres que aceitaram contar como e por que fizeram aborto. "Falaram atrizes, cantoras, intelectuais —mas também operárias, domésticas, donas de casa. Falaram de angústia, de culpa, de dor e de solidão. Também falaram de clínicas mal equipadas, de médicos sem escrúpulos, de enfermeiras sem preparo, de maridos e namorados ausentes", dizia a reportagem.
Maioria não fez aborto pelos motivos previstos em lei. De acordo com o texto, grande parte das entrevistadas considerou as circunstâncias e concluiu que interromper a gravidez era uma saída menos dolorosa do que ter um filho que não poderia criar.
Celebridades também decidiram falar. Entre os nomes conhecidos que compartilharam sua história à reportagem, estavam Cássia Kis, Maria Adelaide Amaral, Elba Ramalho, Ruth Escobar, Marília Gabriela, Tata Amaral, Aracy Balabanian e Zezé Polessa.
História de Hebe chocou. A apresentadora Hebe Camargo contou que, quando tinha 18 anos e começava a carreira de cantora no rádio, ficou grávida em sua primeira relação sexual. "Não podia contar para ninguém. Meus pais sempre foram muito severos e naquela época era uma perversão ter relação sexual sem se casar. Contei para uma amiga, uma vizinha. Ela soube de um local onde uma mulher fazia aborto. Ela não era médica. Numa sala pequena, sem anestesia, sem medicamento nenhum, fez a curetagem. A dor era tão intensa que ameacei gritar. Jamais vou esquecer-me daquela voz falando em tom alto e áspero para eu calar a boca", disse.
Capa mostra que discussão é antiga. Na época, a discussão era a regulamentação de uma legislação que autorizasse a realização de aborto apenas em caso de estupro e de risco de vida para a mãe, como estava previsto no Código Penal desde 1940.
Quando o aborto é permitido hoje no Brasil?
Hoje, o aborto é permitido pela lei em três casos no país:
- gravidez decorrente de estupro;
- risco à vida da mulher
- anencefalia do feto.
Entenda o que mudaria com aprovação do PL debatido hoje
O PL antiaborto propõe mudar quatro artigos do Código Penal. Veja abaixo como é hoje cada um e como fica se o projeto for aprovado no Congresso:
Artigo 124
Como é hoje: Proíbe a pessoa de fazer aborto ou consentir que alguém faça aborto nela, exceto em situações permitidas por lei.
Como ficaria: Quando houver viabilidade do feto em gestações acima de 22 semanas, as penas serão iguais ao crime de homicídio. A pena pode ser cancelada quando as consequências do aborto forem tão graves que a punição se torna desnecessária.
Artigo 125
Como é: Caracteriza como crime provocar aborto não legal sem consentimento da gestante. Pena de três a dez anos.
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Quero receberComo ficaria: Em casos de feto viável, a interrupção da gravidez feita após 22 semanas de gestação será crime com pena igual ao homicídio —de seis a 20 anos.
Artigo 126
Como é: Prevê pena de um a quatro anos de prisão para quem provocar aborto ilegal com consentimento da gestante depois de 22 semanas.
Como fica: Estipula punição igual ao crime de homicídio.
Artigo 128
Como é: Não pune o médico que interromper gravidez decorrente de estupro.
Como fica: Se a gestação resultante de estupro tiver viabilidade e passar das 22 semanas, o médico não estará isento de punição.
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