'O dinheiro acaba, as conexões, não', diz Adriana Barbosa no Universa Talks
Diana Cortez e Carol Salles
15/06/2024 04h00
O que Adriana Barbosa, diretora executiva da Preta Hub e fundadora do Festival Feira Preta, maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina, tem a dizer sobre sonhos? Muito!
E para mostrar como entende do assunto, abriu seu painel na 8ª edição do Universa Talks contando, justamente, de um sonho que teve: "O músico Arlindo Cruz, que sofreu um AVC em 2017 e desde então permanece acamado, estava muito feliz porque sabia que estávamos organizando um show em homenagem a ele. Várias pessoas estavam reunidas - a Babi, mulher dele, o filho Arlindinho, o Marcelo D2 - e ele contava como gostaria que fosse esse show", lembrou.
Corta para a vida real: precisamente dia 4 de maio, durante a última edição do Festival Feira Preta, que aconteceu no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. "O sonho se realizou nesse dia, exatamente igual", contou Adriana.
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O Festival Feira Preta 2024 reuniu mais de 60 mil pessoas e fez circular mais de 7 milhões de reais. Nada mal para um sonho que começou com um brechó, depois que Adriana perdeu o emprego. "Eu vendia roupa em feira de rua, bijuteria em boteco de samba. Era o que a gente chama de empreendedorismo da necessidade: vender hoje pra comer amanhã", relembrou.
O brechó foi a semente da Feira Preta, que começou com 40 empreendedores na Praça Benedito Calixto, em São Paulo. "Quando fui captar recursos para a feira, a Unilever estava lançando um sabonete para pele negra. Com muito custo, depois de inúmeras ligações, consegui chegar na pessoa do marketing desse sabonete, e ela achou o projeto interessante", lembra Adriana.
Mas não estava convencida de que o investimento valeria a pena: "Vocês já fizeram uma feira?", perguntou a pessoa para Adriana, que respondeu: "Não, nunca fizemos. E vocês? Já lançaram um produto para a população preta? Então vamos aprender juntos". E assim Adriana conseguiu o patrocínio da Unilever. "Era uma quantia relativamente baixa, mas ninguém precisava saber disso. Então eu ia em outras empresas e falava: A Unilever entrou no projeto, você não vai entrar também?"
A partir daí, Adriana perdeu o medo de ir atrás de patrocinadores para os seus projetos. Passou a ir a eventos, encontros e aproveitar todas as chances para se apresentar e contar sobre seus sonhos. "Assim, ia me conectando. O capital social que construí foi ajudando a alçar voos mais altos. O dinheiro acaba, mas as relações, não", falou.
Ela também acha importante citar que, apesar dos muitos sucessos que teve e tem como empreendedora, sua trajetória sempre foi marcada por altos e baixos. "Construir relações, fazer networking e poder falar do seu sonho para mais pessoas abre muitas possibilidades. Eu sempre falo: se você tem um sonho, conte. Em algum momento, alguém vai te ajudar a realizá-lo", disse.
O tema da última edição do Festival Feira Preta foi 'Nossa revolução é ser feliz'. "E eu lembro do Arlindo muito feliz no sonho e pergunto para vocês: qual é o sonho que vocês vão sonhar hoje à noite?", finalizou a empreendedora.