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Nada de tabus - e camisinha sempre: como voltar a transar na terceira idade

Retomar a atividade sexual após um tempo sem um parceiro requer alguns esforços e cuidados Imagem: Getty Images

Colaboração para Universa*

17/06/2024 04h00

Volta e meia nos deparamos com reportagens fofas sobre mulheres e homens da terceira idade que reencontraram uma antiga paixão da juventude ou que, depois de perdas e decepções, acharam alguém especial que lhes devolveu a fé no amor. Da mesma maneira que nunca é tarde para aproveitar as delícias de um relacionamento afetivo, viver a sexualidade em sua plenitude também não é uma questão apenas de faixa etária.

Assim como casais há muito tempo juntos precisam se reinventar na cama à medida que envelhecem, retomar a atividade sexual depois de tempos sem um parceiro requer alguns esforços e cuidados para que os momentos de intimidade sejam gostosos.

Preservativo não deve ser dispensado

Na era pós-Viagra, houve um aumento de contaminação por mulheres idosas pelo vírus HIV. A possível explicação foi a exposição dos seus parceiros em relacionamentos extraconjugais sem a devida proteção. Muitos homens e mulheres que hoje estão na terceira idade não foram acostumados nem orientados sobre a importância de métodos preventivos de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e acabam ignorando essa proteção. E, ainda que esteja numa fase próxima à menopausa, se a mulher ainda menstrua é possível ser surpreendida como uma gravidez indesejada.

Mente sã, corpo são

Retornar a vida sexual envolve conhecimento do corpo e da mente. Assim, praticar uma atividade física (aeróbica, em especial) com regularidade, evitar excesso de bebidas alcoólicas e o tabagismo, manter uma alimentação balanceada, lidar os problemas da vida de maneira assertiva e ter uma vida ativa socialmente, com amigos e parentes, são práticas que influenciam beneficamente a saúde global, e, portanto, a sexual incluída, nessa faixa etária.

Consultas ao ginecologista são obrigatórias

A baixa nos níveis dos hormônios sexuais durante o climatério - fase que antecede a menopausa - pode impactar diretamente na libido, causando a diminuição do desejo. Além disso, essa queda hormonal também promove um afinamento da parede vaginal e perda da umidade local. A lubrificação fica prejudicada, o que pode causar dor e desconforto durante a penetração. Para contornar esse problema, a reposição hormonal oferece os melhores resultados. Se a mulher tem alguma contraindicação ou simplesmente não a deseja, uma opção é a aplicação intravaginal de hormônio, que também melhora muito as condições da mucosa vaginal.

Lubrificante: item indispensável

Além das recomendações do ginecologista, é importante que a mulher use lubrificantes íntimos durante o sexo. Os mais recomendados são as versões à base de água, que reduzem o atrito sem interferir no prazer e não têm o risco de rasgar a camisinha.

Cheque o estado da sua saúde com o médico

É fundamental consultar um médico - um clínico geral ou um geriatra, de preferência - antes de reiniciar a vida sexual na terceira idade. Primeiro, para avaliar as condições gerais de saúde e averiguar se a ingestão de alguns medicamentos pode interferir na libido.

A diabetes, por exemplo, pode ocasionar infecções genitais e urinárias com mais frequência. Já os antidepressivos costumam afetar o desejo. É válido ressaltar que, nessa fase da vida, hormônios sexuais como estrogênio e testosterona, que também possuem função anti-inflamatória, estão em declínio, o que torna o organismo mais suscetível a doenças.

A mulher deve aproveitar a consulta não só para pegar guias médicas para se submeter a um check-up, mas para tirar todas as dúvidas. O ato sexual envolve uma alta carga de atividade física aeróbica e o corpo tem que estar preparado para essa carga. O trabalho cardíaco aumenta muito durante a transa e a pressão arterial sofre alterações. Possíveis problemas ortopédicos precisam ser avaliados, já que certas posições sexuais podem causar desconforto e dor.

Fisioterapia pélvica é uma boa ideia

A área pélvica, onde ficam músculos perineais, que participam ativamente do ato sexual, pode apresentar flacidez no climatério e menopausa. O tratamento é feito através de exercícios de fortalecimento e coordenação com auxílio de equipamentos como eletroestimulador, cones (pesos vaginais) e o biofeedback, aparelho que parece um videogame e que faz a leitura dos músculos do assoalho pélvico. As técnicas fisioterapêuticas proporcionam às mulheres idosas uma conscientização da musculatura envolvida no sexo, facilitando a intensificação do prazer e a obtenção do orgasmo.

Xô, crenças e tabus!

Infelizmente, o sexo na terceira idade ainda é encarado com pudor, preconceito e desconhecimento. Muitas vezes o assunto é tratado como se o envelhecimento viesse junto ao celibato e à assexualidade. Sendo assim, os idosos podem ficar reféns de crenças como "não tenho mais idade", "não devo mais pensar nisso" ou até mesmo encarar a sexualidade como algo desnecessário e sem importância.

Porém, na realidade, o sexo pode ser vivido de forma ativa e feliz nessa faixa etária. O ato em si não se torna necessariamente melhor ou pior, embora mude e amadureça. Apesar da idade, toda relação sexual é semelhante, não sendo algo restrito aos mais jovens. Muitas pessoas mais velhas continuam transando e o tema deveria ser mais falado e tratado com maior naturalidade.

As dificuldades sexuais surgem em todas as idades. O adolescente quer provar que sabe tudo, o jovem deseja provar que é experiente, o adulto precisa provar que é o melhor e o idoso gostaria de provar que ainda pode.

Todo mundo deveria se conscientizar de que sexo é uma experiência maravilhosa e atemporal e que muitos só vão permitir o prazer depois de mais velhos - às vezes, bem mais velhos. Não importa, pode ser bom em qualquer época. Porém, nenhuma mulher é obrigada a ter vida sexual só para agradar ou dizer que "ainda está na ativa". É preciso ter desejo real, respeitar seu tempo e suas limitações e, acima de tudo, confiar no parceiro para vencer uma ou outra dificuldade e encarar os contratempos com leveza.

Penetração não é tudo

O sexo pode ser vivenciado através do tato, do cheiro e do paladar. Fazer massagens, brincar com frutas ou bebidas, dançar sem roupa no quarto e ficar na cama apenas trocando carícias são experiências bem prazerosas. Sexo envolve criatividade e explorar possibilidades. Há várias coisas que podem ser extremamente sensuais e levar um casal ao orgasmo, sem que isso envolva penetração. Sexo é parceria.

Fontes: Alex Meller, urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP); Aline Saramago, psicóloga do Rio de Janeiro; Mônica Lopes, fisioterapeuta pélvica do Rio de Janeiro (RJ); e Roberta França, médica especializada em geriatria, do Rio de Janeiro (RJ)

*Com matéria publicada em 04/06/2019

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