Conhece o Ponto K? Misteriosa região no fundo da vagina promete mais prazer
Colaboração com Universa*
23/06/2024 04h00
Quanto mais a sexualidade feminina é discutida e abordada com liberdade, leveza e informação, mais possibilidades de prazer se apresentam para as mulheres. Uma delas é a estimulação do suposto Ponto K, zona erógena próxima ao colo do útero que teria sido descoberta pela terapeuta sexual norte-americana Barbara Keesling em 1998.
Autora de vários livros, como "Faça Amor A Noite Inteira!" e "A Cura pelo Sexo", lançados no Brasil pela Editora Record, Barbara também se referiu à área como "passagem misteriosa", por ter sido pouco explorada até sua divulgação.
O Ponto K seria o ponto da Kundalini — energia vital que todo ser humano carrega dentro de si nos preceitos da tradição hindu e que percorre o corpo como se fosse o movimento de uma serpente. Para liberar essa energia é necessário que o parceiro faça uma massagem cuidadosa e lenta por todo o corpo, principalmente na pontinha da base da coluna — o cóccix. E, depois, concentrar uma atenção especial e demorada à vulva e à vagina.
Como o Ponto K situa-se no fundo do canal vaginal e próximo ao cérvix, o ideal é o parceiro fazer uma espécie de gancho com um ou dois dedos, num movimento para cima e para a frente dele, como se estivesse chamando alguém. Tudo deve ser feito com delicadeza e concentração. Caso contrário, o toque pode ser incômodo ou até doloroso.
É absolutamente necessário que a mulher esteja excitada o suficiente e devidamente lubrificada. Por ficar, em tese, próximo ao colo do útero, é mais difícil estimular o Ponto K sozinha. Uma ideia é usar sex toys com o formato da ponta levemente curvo.
A existência do Ponto K, no entanto, é permeada por dúvidas, críticas e controvérsias. Por falta de pesquisas e estudos comprobatórios, os médicos - ginecologistas, em sua maioria - se mostram reticentes em abordar o assunto. De maneira geral, a ginecologia não reconhece o ponto K e não existe na literatura científica nenhuma publicação científica sobre isso. O órgão efetor do orgasmo na mulher é o clitóris.
Profundo e intenso
No entanto, embora os orgasmos clitorianos sejam mais comuns, algumas mulheres relatam que a estimulação profunda, dentro da vagina, pode levar a orgasmos mais intensos.
Há descrições, mas não consenso sobre sua existência, bem como de alguns pontos erógenos vaginais com inúmeras terminações nervosas e sensíveis a estímulos e pressão. Conforme algumas descrições, o Ponto K se assemelha ao chamado Ponto A - que também carece de comprovação pela ciência.
O mais conhecido e discutido é o Ponto G, identificado pelo ginecologista alemão Ernst Gräffenberg (1881-1957) em 1950 como uma área na parede anterior da vagina capaz de desencadear o orgasmo. Entretanto, suas possíveis propriedades "mágicas" também não são unanimidade entre os experts.
Isso porque o próprio Gräffenberg nunca deixou claro como descobriu esse ponto, que método usou na pesquisa e o que exatamente observou para fundamentar suas conclusões.
Sensibilidade plausível
É fundamental ter em mente que cada mulher é única e, portanto, vivencia o prazer de uma maneira particular. Só o clitóris, por exemplo, tem cerca de 8 mil terminações nervosas. E como tem toda uma parte interna que não conseguimos ver, tem todo um potencial de prazer que se expande por toda a vagina. Mais do que a pressão para tentar identificar um ou outro ponto, o ideal é se dedicar à exploração pessoal de onde, exatamente, há satisfação.
Para acessar novas áreas eróticas é preciso desconstruir a visão ocidental do sexo. Nas práticas do Tantra, por exemplo, tudo é feito com conexão e respeito pelo par. Esse foco no momento do sexo facilita não só a localização do Ponto K, mas proporciona ainda um intenso prazer em conjunto. O foco não é o orgasmo, ele é a consequência. E o meio nem sempre é a penetração.
É importante lembrar que, durante a excitação erótica, acontece a ativação de alguns centros cerebrais que fazem com que o cérebro modifique a percepção da experiência sensorial dos órgãos sexuais e de sensações que, em situações comuns, não são tidas como erotizadas, como uma lambida na orelha ou uma mordida no pescoço. Desse modo, uma bexiga cheia pode ser uma sensação interpretada como prazerosa. Como a parede da bexiga está grudada com a parede anterior da vagina, é perfeitamente possível que qualquer ponto vaginal, quando estimulado, provoque um grau de reflexo na bexiga.
O que seria interpretado como 'vontade de urinar' pelo cérebro não erotizado passa a ser interpretado como 'gostoso' pelo cérebro erotizado. Portanto, cada centímetro da parede anterior da vagina pode receber o nome de uma letra qualquer, pois toda essa parede, quando tocada, pode produzir sensações na bexiga e dar um reforço na sensação erótica total, facilitando o desencadeamento do orgasmo.
Controvérsias à parte, sexo é uma importante ferramenta de autoconhecimento e procurar zonas diferentes de prazer pode ser uma experiência divertida e reveladora se ocorrer sem cobranças, comparações e expectativas.
Fontes: Débora Padua, fisioterapeuta pélvica e sexóloga especializada no tratamento de vaginismo e dor na relação; Deva Geeta, terapeuta tântrica; José Carlos Riechelmann, médico sexologista; Karina Tafner, ginecologista e obstetra; Lúcia Alves Lara, ginecologista e obstetra, especialista em Sexualidade Humana, coordenadora do Ambulatorio de Estudos em Sexualidade Humana da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; e Paula Manadevi, sexóloga e terapeuta tântrica
*Com matéria publicada em 01/08/2020