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DIU como 'prova de amor': para elas, contraceptivos viraram arma de abuso

Imagem: Getty Images

Paola Churchill

Colaboração para Universa

26/06/2024 04h00

Quando a arquiteta Julia* conheceu o também arquiteto Arthur* por meio de um aplicativo de namoro, a química foi instantânea. Entre saídas para bares, restaurantes e cinema, um dia, ela o chamou para ir até sua casa. Os beijos foram aumentando, o clima esquentou e os dois foram até o quarto.

"Depois das preliminares, pedi para ele colocar a camisinha. Ele ficou enrolando, enrolando e eu segui insistindo. Meio que a contragosto ele aceitou", conta em entrevista a Universa.

O sexo foi excelente, o problema foi o depois.

A gente estava abraçado conversando depois de transar e ele disse que se quisesse namorar, ia ter que colocar DIU [dispositivo intrauterino usado como método contraceptivo] porque ele não gostava de usar camisinha. Não uso DIU, nem tomo anticoncepcional, acho que desregula os hormônios e não é para mim. Achei uma audácia tremenda, tem alguns homens que ficam de graça falando que camisinha 'aperta' ou 'não é o mesmo'. Uma grande bobagem. Nunca mais saímos depois disso, acrescenta.

O episódio vivido por Júlia* encontrou eco em um debate no X, antigo Twitter, quando Ana*, outra usuária da rede social, contou que seu ex-namorado, Joaquim*, a pressionou a colocar o DIU para que ele "pudesse gozar dentro".

Os dois se conheceram em uma festa da faculdade e o relacionamento começou sem maiores problemas. "No começo, quando ainda estávamos ficando, nem precisava pedir e ele já colocava camisinha. Ele até fazia graça falando que tinha caras que falavam que não sentiam nada e que aquilo era a maior mentira. Ele dizia ser diferente, e realmente era, era pior", disse.

"Tomava pílula do dia seguinte toda semana"

Imagem: Getty Images

Conforme o casal ia ganhando intimidade, Joaquim ia alterando a postura. "Quando começamos a namorar, o comportamento dele mudou totalmente. Ele dizia que por estarmos em um relacionamento, não queria ficar tendo que colocar camisinha, porque significava que não confiava nele. Ele tirava a camisinha sem eu ver e gozava dentro. A gente brigava feio, ele dizia que nunca mais ia fazer aquilo. Era forçada a tomar a pílula do dia seguinte e me fazia mal. Cheguei a desmaiar de dor uma vez. E ele sempre fazia de novo", relata.

Ana* então conta que o então namorado pediu que ela colocasse o DIU. "Não fazia sentido algum, mas Joaquim falava que teríamos mais prazer, os dois. Eu disse que não, não queria ter algo estranho no meu corpo. Até que um dia, enquanto estávamos transando, eu por cima dele parei e vi que ele estava com cara de entediado. Senti um total desprezo da parte dele. Sai de perto e perguntei o porquê disso. A resposta foi que como ele não estava sentindo nada, estava dando sono para ele", contou.

Ela diz que só percebeu como a situação era delicada tempos depois.

Marquei com a minha ginecologista para colocarmos o DIU. Duas semanas depois, estava com o DIU Mirena, que é hormonal. Não demorou uma semana para começar sentir os efeitos colaterais. Eu mal conseguia andar de tanta cólica. E sangrava muito, achei que ia ter uma hemorragia. Alguns dias depois, tirei o DIU e terminei com ele. Não aguentava mais a pressão.

Outro relato apurado por Universa veio da pedagoga Isabella*, que também implantou o DIU após ser pressionada pelo namorado.

Eu era novinha e não entendia muito do funcionamento dos métodos contraceptivos. Achava que não era capaz de transar. Sexo sempre foi um problema, pois fui abusada quando era criança, então tinha dificuldades. Achava que não gostava e ter que ficar tomando remédios, porque ele não gostava de usar camisinha, não era legal e mexia mais comigo.

Ela conta que superou o episódio e hoje vive um novo amor. "Hoje em dia, estou em um relacionamento saudável e tomo pílula anticoncepcional porque quero, não por que me obrigam. Além disso, mudei a relação que tinha com o sexo, agora é saudável e gosto."

"A gente não poderia ter um filho"

Imagem: Getty Images

A Universa também ouviu Renata. A jornalista contou que seu namorado ficou transtornado após um relato de sua sogra.

"Uma vez, a mãe dele disse que sonhou que iria entrar um bebê na família. Nós somos umbandistas, e quando algo assim acontece, a gente leva muito a sério. Mas, ele enlouqueceu, logo assumiu que o bebê ia ser nosso. E a paranoia acabou passando para mim. Comecei a usar um anticoncepcional que é um adesivo, porque a gente não tinha o costume de usar camisinha, pelo anticoncepcional."

A partir daquele momento, a "premonição" acabou afetando a vida do casal.

Minha menstruação não estava atrasada, mas Fernando me fazia fazer exame de gravidez sempre. Acatava porque pensava que se fizesse o teste logo, ele ia parar de perguntar sobre minha menstruação todo dia. Tinha dia que acordava com a mensagem: 'Oi, você menstruou?'. Reclamava toda vez e ele dava uma desculpa torta. Uma vez minha menstruação atrasou um dia, devido ao estresse que ele me colocava. Me mandou tantas mensagens, que estava com uma amiga saindo, parei para comprar um teste, fui no banheiro e mandei o negativo para ele, só para parar com aquilo, afirmou ela.

Segundo ela, os episódios foram se repetindo, até que ela resolveu colocar um basta.

"Mandei um áudio chorando para ele, implorando para ele parar que aquilo estava acabando com meu psicológico, disse que ele estava sendo obsessivo e que eu não ia ficar menstruada se tivesse nervosa daquele jeito. Ele demorou cinco horas para responder, pois disse que 'queria pensar com calma', aquilo me deixou mais ansiosa. Quando menstruei, nunca fiquei tão aliviada de ver sangue. Não necessariamente porque não estava grávida. Mas, porque aquele inferno ia passar. Ficamos um mês mais ou menos sem nem se beijar direito para 'não dar chance para o azar.'"

Renata conta que começou a duvidar da própria realidade. "Ele falava tanto disso, que comecei a me questionar se não estava mesmo grávida, mesmo sabendo como meu corpo funcionava e não ter o menor indício que estava grávida. Não estamos mais juntos, mas nunca vou esquecer o quão maluca, ansiosa e triste fiquei naquela época."

*Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas

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