"Precisava de mais sexo": elas contam por que estão usando app de traição
"Acabei de trair o meu namorado pela primeira vez. Gozei seis vezes seguidas. Estou me sentindo ótima", conta a paulistana Rute**, terapeuta holística de 42 anos e usuária do Gleeden, um aplicativo de "encontros extraconjugais pensado para mulheres". Você pode nunca ter ouvido falar desse app, mas a plataforma já reúne mais de 12 milhões de perfis cadastrados pelo mundo afora - 850 mil só no Brasil. Durante uma semana a reportagem de Universa testou o app para saber como ele funciona — e não demorou nem 30 minutos para que as mensagens começassem a surgir.
Rute, que está em um relacionamento sério há 1 ano e três meses, afirma que a primeira vez que teve um encontro extraconjugal na vida foi durante a pandemia, com um homem (também comprometido) que encontrou no app. Do total de inscritos, 60% são homens e os outros 40% restantes, mulheres.
"Não sou casada, mas abri meu perfil no app"
A maioria dos perfis do aplicativo não têm foto, ou são imagens que revelam apenas partes do corpo. Os nomes também parecem fake - faz sentido, já que a proposta ali é ter uma relação extraconjugal (com o objetivo de saber como funciona o app, a conta que criei para mim também era). Curiosidade: é quase obrigatório ter na descrição do perfil se você é casado, está namorando ou é solteiro. Você também pode criar um álbum privado com fotos suas, e libera-lo apenas para quem desejar.
Alguns dos usuários, inclusive, incentivam a dar esse passo adiante mesmo sem ter demonstrado interesse. "Você não quer ver minhas fotos? Acessa aí". Entre as imagens que a reportagem teve acesso, não me deparei com nudes. Nenhum homem, inclusive, foi desrespeitoso ou ofensivo. Pelo contrário, houve troca de confidências e muitos contaram o porquê de estarem ali. A maioria na busca por apimentar a vida sexual.
Se o ambiente é seguro, a paquera é livre e os homens são agradáveis, por que a porcentagem de mulheres no aplicativo voltado justamente para o público feminino ainda é menor? A causa disso pode estar no machismo. A traição feminina é vista de um jeito diferente da masculina. Um homem quando trai, falam: 'Ah, é normal, é coisa do gênero, não conseguiu ser fiel'. Já a mulher quando trai é chamada de promíscua, dizem que ela não dá valor para a família.
Universa também ouviu o relato de usuárias do aplicativo para entender como funciona a busca por um parceiro nesse ambiente online e quais são os motivos que fizeram elas abrirem seus perfis.
"Sexo com amante é diferente que com o marido"
Maria** tem 56 anos, mora em Madri (Espanha) e trabalha com vendas. Ela é casada há quase 30 anos com o mesmo homem, pai de seus dois filhos. Em 2014, Maria decidiu se cadastrar no Gleeden.
Meu relacionamento é ótimo, amo meu parceiro e nunca me passou pela cabeça me separar dele ou mudar nossa situação familiar. Havia apenas um problema: eu precisava de mais sexo do que tinha em casa
Assim como Rute, apesar de adorar seu atual relacionamento, Maria também sentia falta de algumas aventuras na vida sexual. "O sexo com meus amantes é diferente do sexo com meu marido. Com eles fico mais desinibida na cama, tento coisas que nem sou capaz de pedir ao meu parceiro — além do que, me sinto desejada".
A terapeuta holística Rute revela que é praticante de BDSM e que tem uma "pegada mais radical" na hora H. "Meu namorado e eu até que nos damos bem na cama. Só que nos vemos uma vez por semana, no final de semana. Estava sentindo falta de transar mais. Eu também sou fetichista e curto BDSM, e ele não gosta dessas coisas", conta. Por telefone, pouco depois de ter transado pela primeira vez com um parceiro que encontrou no aplicativo, ela falou para Universa sobre o encontro.
Disse para ele que tinha uma janela de duas horas no meu dia e decidimos nos encontrar. O sexo rolou no meu escritório.
Rute acredita que não tem como seu namorado suspeitar de suas aventuras secretas. "O cara com quem eu saí também namora e há mais tempo do que eu. Imagino que tenha inventado uma história parecida com a minha", comenta.
A terapeuta diz que não procurou saber detalhes da vida do homem com que traiu seu parceiro. Maria, por outro lado, pensa diferente. "Durante todos esses anos, conheci muitos homens. Gosto de conhecer quem eles são de verdade, me tornar amiga deles, pois assim temos assuntos para conversar e não fica só no sexo".
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Quero receberSegundo dados divulgados pelo Gleeden, 15% das infiéis encontraram nos amantes uma "bela amizade". Seja por carência ou em busca de apimentar a vida sexual, o que não falta no aplicativo é conversa.
Afinal, por que elas traem?
De acordo com uma pesquisa feita pelo próprio Gleeden em março de 2021, 27% do público feminino aponta o sexo como principal impulso para entrar no aplicativo. Mas esse não é o único motivo: 34% das usuárias responderam que trair os companheiros as deixa mais "felizes e vivas".
Será que trair o companheiro pode fazer uma mulher mais feliz? Tanto um homem quanto uma mulher que traem podem ser mais felizes depois do ato. Se a pessoa está em dúvida ou tem medo, pode ser que não.
A traição não é uma passagem nem para a felicidade nem para a infelicidade, vai depender dos valores e das escolhas de quem está traindo. Caso ter um relacionamento extraconjugal vai de encontro aos desejos dela, e aquilo não fere nenhum julgamento moral, a resposta é positiva. Contudo, é preciso ter responsabilidade emocional com os sentimentos do parceiro.
As duas mulheres entrevistadas para esta reportagem nunca falaram para os companheiros sobre os amantes. "Não sei se meu marido também tem amantes, mas acho que não", diz Maria. Já Rute pretende tocar no assunto com o namorado: "Ele não sabe que estou no aplicativo, mas penso em contar para ele porque tenho a pretensão de incluir uma terceira pessoa no sexo".
Quanto à pergunta inicial do texto, se trair faz a mulher mais feliz ou não, Rute e Maria não têm uma opinião formada a respeito. "Não sei dizer se trair me deixa mais feliz, mas estou bem, sem peso na consciência e continuo gostando igual do meu namorado. Agora, meu plano é levar meu amante para a cama com meu namorado", diz a terapeuta.
Uma deslizada, porém, pode estragar os planos de Rute: "Se ele descobrir que estou usando o app há algum tempo, estou f*dida. Acabou o namoro".
Fonte: Sandra Vasques, sexóloga
*Com matéria publicada em 24/02/2022
**Ambas as entrevistadas pediram para não terem seus nomes verdadeiros identificados na matéria
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