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Sem parceria: quase 33% das mães solo são casadas ou vivem em união estável

Os maiores desafios apontados pelas mães solo foram falta de apoio financeiro (presente na vida de 46% das mães) e a saga da organização da rotina (resposta de 39% delas) Imagem: Getty Images

Beatriz Zogaib

01/07/2024 04h00

Mãe solo é aquela que, como o nome prevê, está sozinha na criação dos filhos. Mas a bem da verdade é que, infelizmente, nem sempre ela está só de fato, ela pode ter uma parceria, mas não alguém que divide as tarefas de fato. Se você está grávida, sozinha ou acompanhada, te convidamos a se inscrever na newsletter de Materna e receber conteúdos semanais para refletir e ser acolhida em um momento tão transformador. Basta se inscrever no box abaixo.

As mães solo compartilham desafios dos mais complexos e em média apontam sempre dois: a falta de apoio financeiro (presente na vida de 46% das mães solo) e a saga da organização da rotina com bebê/filhos (resposta de 39% delas).

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Os números que desnudam essa realidade foram obtidos em pesquisa feita por Universa, chamada de "Estudo Materna: o que pensam e querem as mães", realizada em dezembro de 2023 com mil mulheres e a metodologia de Mind Miners, plataforma especializada em Consumer Insights.

Um terço da entrevistadas diz ser mãe solo, ou seja, mulheres que criam seus filhos sem um parceiro presente. E quanto mais jovens, mais sozinhas: 38,15% das mulheres entre 18 e 24 anos dizem viver a maternidade sem a companhia do par, enquanto entre 35 e 44 anos esse índice cai para 22,98%.

A diferença talvez possa ser explicada por relacionamentos mais longos ou pela chegada de um novo relacionamento, já que elas podem ter ajuda não apenas do genitor, mas de um outro par: entre os 35 e 44 anos apenas 21,74% são solteiras, separadas/divorciadas ou viúvas, já entre os 18 e 24 anos, o índice de solteiras, separadas/divorciadas ou viúvas sobe para 47,79%.

Até quem não está solteira, está sozinha

Outro resultado relevante encontrado é o de que 32,53% das mães solo são casadas ou vivem em união estável. Sim, elas estão em um relacionamento (muitas vezes com o pai de seus filhos), mas se percebem sozinhas em tarefas diárias que parecem não caber em vinte e quatro horas.

Preparar lancheira, agendar consulta médica, comparecer à reunião da escola, ler o recado que a professora enviou, conferir se o uniforme está lavado, comprar presente para a festa do amiguinho, preparar almoço, dar o jantar, ir ao mercado, controlar o tempo de tela, levar e buscar em atividades... Tudo isso, claro, dividindo espaço na agenda com compromissos pessoais e, muitas vezes, profissionais da mãe.

Em depoimentos obtidos no estudo, recebemos desabafos:

Gostaria que tivessem me falado que a maternidade é difícil. Os cuidados de um filho sempre vão ser da mãe, independente do tamanho da criança. Aline*, 32 anos, de Campo Grande (MS) e que se identifica como sendo de classe B.

"Queria ter recebido mais apoio da família do meu esposo", conta ainda Juliana*, 35 anos, de Pombos (PE), e que se identifica como sendo de classe D/E.

As classes sociais não deixam nenhuma delas imunes à maternidade solo, mas recortes de classe e raça mudam o cenário: o índice de mães solo sobe de 29,11% (na classe A) para 38,10% (classe D/E). Quando falamos de mulheres brancas com filhos e mulheres pretas, saltamos de 24,94% para 31,54%.

Entre os desafios na jornada solo, logo abaixo da questão financeira e da organização da rotina surgem dificuldades em relação a apoio emocional, conciliação entre trabalho e maternidade e a falta da rede de apoio. Cada uma dessas três frentes são responsáveis por 37% das respostas, um empate técnico.

As mães estão sobrecarregadas

A necessidade de uma divisão de responsabilidades mais justa vem sido cada vez mais trazida à tona Imagem: iStock

Os números revelam o que muitos já sabem: as mães estão sobrecarregadas. Por inúmeras razões, algumas mais culturais (como o machismo estrutural), outras mais práticas (como a diferença entre os períodos de licença-maternidade e licença-paternidade), o exercício diário da maternidade grita por socorro. Afinal, um filho é sempre responsabilidade de dois genitores, e nenhum deles precisaria ter que pedir ajuda ao outro.

A pesquisa, portanto, traz a necessidade de uma divisão de responsabilidades mais justa - algo que vem sido cada vez mais trazido à tona, como na prova do Enem de 2023, com o tema de redação "Desafios para o Enfrentamento da Invisibilidade do Trabalho de Cuidado Realizado pela Mulher no Brasil". Ao que tudo indica, há muito o que se discutir e, principalmente, o que mudar - especialmente quando falamos de mães e, mais ainda, quando falamos das que exercem o trabalho de cuidar, educar e até prover sozinhas, algumas vezes mesmo estando casadas.

"Foram 35 anos sem regulamentar a licença-paternidade, ninguém se interessou em colocar isso para a frente, e agora sim. Precisamos falar não só de maternidade, mas de paternidade responsável. É uma mudança cultural, mas gosto de pensar que estamos tratando desses temas", comenta a advogada Cláudia Abdul Ahad Securato.

Interesses X Dificuldades

Outro dado importante é que, por mais exaustas que estejam, as mães buscam por ajuda em fontes de conhecimento - como sites, livros e redes sociais - não para facilitar a vida delas ou para cuidarem de si mesmas. Elas querem saber, na grande maioria das vezes, como cuidar ainda melhor da vida de seus filhos, ou seja, como alimentar melhor ou educar melhor.

Um exemplo é que apenas 13% delas dizem sentir dificuldade em relação à alimentação infantil, mas 45% delas buscam ativamente por esse tema, enquanto 23% delas enfrentam desafios em relação à saúde mental materna, mas apenas 34% buscam conhecimento sobre o tema.

Entenda: há 10% mais mães sentindo dificuldade com a própria saúde mental, mas 10% menos mães buscando dicas sobre o tema, se compararmos com o índice entre dificuldade e interesse em relação à nutrição infantil, por exemplo.

Se olharmos para a diferença dos interesses conforme a classe social, a pesquisa mostra também que, quanto menos poder econômico menos espaço existe para a preocupação com a própria saúde mental. O tema aparece como segundo interesse entre as mães de classe A (atrás apenas de alimentação infantil), enquanto na classe B ele surge em terceiro lugar (atrás de alimentação e desenvolvimento infantil). Na classe C, a saúde mental acaba ficando na quarta posição em nível de interesse - atrás desses dois temas já mencionados e ainda de dicas de cuidados com recém-nascidos.

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