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Brasileira casou na Índia: 'Meu marido enfrentou o pai para ficar comigo'

Laís Seguin

Colaboração para Universa

10/07/2024 04h00

Alessanddra Nirrwaan, 46, nasceu em Curitiba (PR) e há dez anos mora em Nagpur, no estado de Maharashtra, na Índia, com seu marido indiano, Bhavesh, 48, com quem teve seu filho Aryan, de cinco anos, e mais três filhos, de 16 e 11, de outros relacionamentos.

Tudo começou no Facebook, onde compartilhavam o interesse por fotografia. Em 2012, Alessanddra, ex-professora de inglês, havia visitado a Índia para explorar locais fotografados pelo profissional Raghubir Singh e iniciou sua transição para fotógrafa profissional. Passando pelo terceiro divórcio, ela decidiu retornar ao país. Desta vez, em busca de autoconhecimento.

Depois da viagem, em 2013, conheceu Bhavesh, viúvo e pai de duas crianças, em um grupo de fotógrafos amadores e profissionais na rede social, e eles trocaram experiências. Com o tempo, se tornaram amigos, por interesses e vivências em comum, já que o caçula dela e a filha mais velha dele tinham a mesma idade — cinco anos na época — e ele tinha também um filho que na época era recém-nascido.

Alessanddra e o marido Bhavesh Imagem: Arquivo pessoal

Contra a família

Por tradição indiana, o pai de Bhavesh tratou de encontrar uma nova esposa para o filho e iniciar os preparativos para que ele se casasse novamente, para que os netos não ficassem órfãos. Em 2014, Bhavesh o desafiou e se declarou para Alessanddra.

Comentei que moraria na Índia, pois gostei muito do país. Bhavesh mencionou o casamento arranjado e disse que nunca havia considerado um relacionamento entre nós, porque eu morava no Brasil. Quando falei sobre mudar para a Índia, ele confessou que estava apaixonado por mim e queria que eu fosse sua companheira, em vez da pretendente arranjada, lembra.

Ambos decidiram tentar um relacionamento, mesmo que isso significasse enfrentar choques culturais, como a necessidade de um casamento. Na Índia tradicionalmente um casal não se relaciona sem ser casado, quanto mais morar junto sem oficializar a união.

Em nenhum momento me passou pela cabeça que, para ficar com ele, eu teria que me casar. Mas como eu também me apaixonei por ele, aceitei. Minha família ficou assustada e preocupada com a situação, mas Bhavesh veio ao Brasil, conheceu todos e ganhou a confiança deles, conta.

No entanto, quando Alessanddra conheceu a família de Bhavesh, no mesmo ano, a irmã dele chegou a dormir junto a ela em um quarto separado, para evitar que eles tivessem qualquer tipo de contato físico antes da cerimônia.

O maior desafio foi a rejeição do sogro de Alessanddra, que insistia em um casamento arranjado para Bhavesh. Sem a bênção do pai, ele foi expulso de casa e excluído da empresa familiar, o que causou dificuldades emocionais e financeiras.

Casar com alguém de uma cultura diferente envolve desafios. Meu sogro nunca aceitou a mim e meus filhos. Quando conheci a família do Bhavesh, o pai dele ficou recluso e não participava das refeições. Ele não estava feliz com o casamento do filho com uma brasileira por causa das divisões religiosas e sociais no Hinduísmo, que ele segue ainda de forma bem conservadora.

Alessanddra e o marido Bhavesh Imagem: Arquivo pessoal

Na Índia, famílias são patriarcais e moram juntas no mesmo imóvel após o casamento, geralmente arranjado e não por amor. Apenas as mulheres se mudam, para passarem a viver com os familiares do respectivo marido. No caso da brasileira, isso não ocorreu e, atualmente, o casal vive em um imóvel alugado.

Alessanddra relata que, enquanto tem uma relação amigável com a sogra, o sogro continua distante e só interage com os filhos do primeiro casamento de Bhavesh. Já o marido mantém um contato limitado com o pai.

Há três meses, soubemos que o pai de Bhavesh está muito doente e ele se dispôs a cuidar do tratamento, e agora eles conversam apenas sobre isso. O hospital é próximo, então meu sogro veio aqui três vezes. Recepcionamos na porta, mas ele não olha para nenhum de nós e finge que não existimos.

Choque cultural

Alessanddra Imagem: Arquivo pessoal

Adaptar-se aos costumes indianos foi desafiador para Alessanddra, especialmente nas dinâmicas familiares e culturais. Ela também teve que se acostumar aos idiomas, clima e a culinária picante da Índia, que contrasta com os hábitos do sul do Brasil.

Foi difícil no início até mesmo aceitar a ideia de comer no chão e com as mãos. Fazer amizades e um círculo social também foi complicado porque quando falamos o mesmo idioma, temos muito mais o que compartilhar e tendemos a ter mais empatia, explica.

Na região onde ela mora, se fala inglês, hindi e marati, e na maioria das vezes preferem falar nas línguas locais. A adaptação foi intensa e levou cerca de dois anos.

Alessanddra também conta que não pode usar uma saia curta, shorts e blusa decotada, por exemplo. O que tornou a adaptação ao clima outro impasse: "Nasci no sul do Brasil, então foi muito difícil me acostumar com o calor da Índia. No norte, é bem frio e neva bastante, mas eu moro no centro do país, onde um dia normal a temperatura média é de 25°C a 35°C e no verão chega a fazer 40°C ou até 50°C.", continua.

Alessanddra em frente ao Taj Mahal Imagem: Arquivo pessoal

Há outras questões significativas em se casar com um indiano. Principalmente em cidades do interior e vilarejos, nas refeições (feitas todas de forma caseira e saudável) a esposa fica em pé servindo a todos e come à mesa depois que todos se alimentam.

Apesar de ser um costume bem diferente, considerado machista por muitas pessoas, eu tentei não vê-lo como uma humilhação, opina.

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