Casamentos acabam cada vez mais cedo; o que mudou nos relacionamentos?
Colaboração para UOL, em São Paulo
20/07/2024 04h00
O livro "Amor Líquido", do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, é de 2003, mas se faz atual a cada ano que passa. Na obra, Bauman fala sobre como as relações são frágeis e se tornaram descartáveis. E é exatamente isso que os especialistas entrevistados por Universa constatam nos consultórios de terapia quando o assunto é casamento.
Segundo dados divulgados pelo IBGE em março deste ano, em 2022, 47,7% dos divórcios aconteceram menos de dez anos após o casamento. Outro dado que chama atenção é: houve um divórcio para cada 2,3 casamentos no período.
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Não precisa ser profissional para perceber esse fato, afinal, no seu círculo social deve ter ao menos um casamento que acabou em dois, três e até cinco anos de união, não é mesmo? Mas vamos ao que dizem os especialistas:
Crises acontecem antes
Segundo informações do Instituto Sedes Sapientiae, entre 2000 e 2010, os casais procuravam terapia quando já tinham entre 11 e 20 anos de casado, agora, as queixas chegam com relacionamentos de até cinco anos. Acredita-se que o fim do preconceito com esse tipo de serviço pode ter influenciado, sim, a procura precoce. Mas a tendência do mundo atual, que vende a perfeição, é que as pessoas busquem também a relação perfeita - algo que não existe. Nesse contexto, é natural que a intolerância diante dos problemas vença a urgência da necessidade de uma vida feliz.
Divórcios são mais comuns em casamentos de dois ou três anos
Para os especialistas consultados, se o fim acontece antes de dois ou três anos, foi uma ilusão, uma paixão arrebatadora ou o sonho de se casar maior do que a vontade real de ficar junto.
Um ponto importante que faz os relacionamentos, em geral, durarem, são os planos, além dos sentimentos, claro. Quando o casal passa pelo ritual do casamento e depois pelas datas comemorativas — Natal, Réveillon, aniversários — e até as primeiras férias casados, no segundo ano já não tem o mesmo encanto e aí, no terceiro, diante de qualquer brecha ou insatisfação, termina. Nesses momentos de frustração, os projetos em comum dão grande suporte para a união.
Dificuldade de se colocar no lugar do outro é um problema
As novas gerações não toleram esperar e têm dificuldade de se colocar no lugar do outro. Além disso, a liberdade de se relacionar proporciona esse movimento. O problema é que o custo emocional, que pode ser extremamente desgastante, não é levado em consideração.
Para as especialistas, o significado do casamento mudou da base do amor romântico para algo que se faz apenas enquanto é "confortável e conveniente". E isso reflete uma mudança sociocultural, até mesmo pela aceitação e facilidade do divórcio. Hoje, a sexualidade e a busca pelo prazer e felicidade estão em primeiro lugar.
Fontes: Marcia Barone, psicologa e psioterapeuta; Maria Cristina Romulado, doutoranda na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), psicóloga e terapeuta sexual; Rosa Maria de Macedo, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
*Com informações de matéria publicada em agosto de 2017.