Rede de apoio não é só família: como construir a sua e garantir ajuda

Quando a mulher tem filhos ela passa a ser uma fonte inesgotável de amor, cuidado, atenção. Mas mães, gestantes e tentantes têm energia esgotável, exatamente por se dedicarem quase que integralmente para gerar e cuidar. Sentem falta de rede de apoio. Isso porque humanos evoluem em comunidade, funcionando no coletivo, não no individual. Se você busca apoio e informação durante a gravidez, participe da nossa newsletter semanal para gestantes, Materna. Basta se inscrever no box abaixo.

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Como sociedade, estamos em um movimento mais individualista, com famílias em núcleos. Não estamos mais em coletivo. Com a estrutura patriarcal e capitalista, a mulher ficou encarregada pela educação e pela criação da criança. Só que isso é completamente insustentável. Essa sobrecarga materna é consequência de uma sociedade completamente disfuncional.Maya Eigenmann, neuropedagoga e educadora parental

Os dados não mentem

Como já contamos em outra reportagem: 47,2% das mães brasileiras têm menos de uma hora por dia dedicada para si. Em contrapartida, 91,7% delas cuidam dos filhos por mais de uma hora diariamente e 41,30% passam de 13 horas dedicando-se a eles.

Para piorar, a pesquisa revelou que 28% das mulheres com filhos são mães solo. E pode piorar: 30,82% das que têm um casamento ou estão em união estável também dizem se identificar como mães solo, ou seja, elas se percebem sozinhas no que tange a parentalidade diária. "Muitas mães que têm o parceiro em casa configuram como uma mãe solo na prática porque não podem contar com ele, e acabam sobrecarregadas ainda com os cuidados deste homem", comenta Maya Eigenmann.

Sempre é tempo de criar sua rede de apoio

Ter ajuda não é fraqueza, é necessário para evitar a sobrecarga
Ter ajuda não é fraqueza, é necessário para evitar a sobrecarga Imagem: iStock
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Para quem ainda não está convencido de que elas estão mesmo sozinhas, as mães solo respondem com clareza: a falta de rede de apoio está entre os principais desafios, ocupando o terceiro lugar, atrás apenas de apoio financeiro e organização da rotina - duas dificuldades que acabam por reiterar a falta de alguém para dividir responsabilidades.

Os números que desnudam essa realidade foram obtidos em pesquisa feita por Universa, chamada de "Estudo Materna: o que pensam e querem as mães", realizada em dezembro de 2023 com mil mulheres e a metodologia de Mind Miners, plataforma especializada em Consumer Insights.

Apoio, segundo o dicionário, é o que serve para amparar, firmar, sustentar (alguém ou algo); auxílio, amparo. Para mães, nem sempre ele vem do par, mas é possível vir do restante da família; mãe, sogra, avó, tia, irmã, cunhada. O importante é ter com quem contar, porque querer dar conta de tudo sozinha é tentar alcançar o inalcançável ou, minimamente, não ter tempo para si e acabar estressada.

Não é saudável, nem para a mãe nem para o filho, porque o certo era estarmos em comunidade. A construção de uma rede de apoio deveria ser priorizada tanto quanto priorizamos o berço, as fraldas, as roupas, a preocupação com a amamentação ou o tipo de parto. E ela é construída até mesmo antes de se pensar em ter um filho.

Maya Eigenmann, neuropedagoga e educadora parental

Grávidas lideram a corrida por apoio: 40% apontam esse desafio antes de qualquer outro. A dica é pensar nele o quanto antes, e chegar no puerpério ou na primeira infância do filho com a rede alicerçada. E não precisa recorrer só a familiares.

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"É essencial começar a pensar em formas da rede de apoio existir e, inclusive, pensar um pouco fora da caixa, porque, às vezes, as pessoas acreditam que a única rede de apoio é a família sanguínea. Mas sabemos que, muitas vezes, essas relações são permeadas por desavenças e discordâncias. Podemos criar laços de amizade seguros, intensos e íntimos com vizinhos e amigos", sugere a especialista.

Para a recém gestante ou a recém família na fila de espera da adoção, uma boa alternativa é outra rede, a internet: olhar grupos de pessoas que estejam na mesma situação e, quando encontrar perfis e comentários de alguém que demonstre estar vivendo algo semelhante, enviar uma mensagem para conversar com essa pessoa. Parece pouco, mas não é, afinal, em grande parte das vezes, é preciso apoio emocional - citado também em terceiro lugar (empatado com a rede de apoio) no ranking dos desafios maternos das brasileiras que levam a maternidade solo.

Pode ser desconfortável fazer esse movimento de busca por auxílio? Pode, mas tem explicação e uma forma de contornar o desconforto. "Tem tudo a ver com a maneira como somos criados. Se a pessoa cresce em um ambiente onde sempre se sente em perigo por causa dos pais, ela acha que as pessoas necessitadas são perigosas e pressupõe que todas sejam assim. E se sou essa pessoa, não vou conseguir criar amizades e muito menos uma rede de apoio quando precisar dela", revela Maya.

Antes mesmo de ter filhos, é importante passar a refletir sobre as relações, se você confia ou não em quem está por perto, se sente segurança ou insegurança, para observar e lidar com essas questões. Assim, quando chegar o momento de precisar de pessoas para ajudar, a chance de ter laços íntimos e seguros com elas é bem maior.

É claro que não vamos criar esses laços de forma calculista, pensando que podem trazer benefícios no futuro. E, na verdade, isso tudo fala de quão difícil é ter amizades realmente significativas. Mas dada essa realidade, se a pessoa nunca parou para refletir sobre a profundidade desse assunto, certamente, no momento em que ela descobre a gestação ou está na lista de espera para adoção, essa reflexão precisa estar muito presente.

Maya Eigenmann, neuropedagoga e educadora parental

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O espaço escolar é ótimo para encontrar conexão com outros adultos que podem se tornar suporte. Ou os parquinhos, onde filhos brincam e mães podem puxar assunto e criar novas amizades. E para quem não encontrar sua rede de forma alguma, mas puder arcar com os custos, uma saída é a rede de apoio paga.

O essencial é entender a demanda e a possibilidade real de cada gestante ou mãe naquele momento.

"Acredito que a rede de apoio não precisa necessariamente mudar com o tempo. Talvez a maneira como ela funciona pode mudar. Se levarmos em consideração uma puérpera, ela vai precisar de ajuda em relação à casa, por exemplo, para não se cansar tanto com esses afazeres e estar mais presente para o bebê. Mas, mais para frente, essa rede de apoio pode receber a criança em casa enquanto a mãe está trabalhando e tem um projeto. As necessidades vão mudando, mas, se existe uma amizade íntima ou confiança, não necessariamente a rede de apoio precisa mudar", observa Maya.

Como saber se quem está ajudando não está atrapalhando?

Sinta onde você fica confortável com seu bebê e sente que realmente recebe ajuda
Sinta onde você fica confortável com seu bebê e sente que realmente recebe ajuda Imagem: iStock

Está aí a polêmica das polêmicas, e a orientação é tentar perceber os sinais invasivos com antecedência, o que nem sempre é fácil. "Por que deixamos chegar até esse momento de atrapalhar a maternidade? Por que não percebemos até então para que a não conseguisse colocar um limite?", questiona a neuropedagoga.

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A identificação de quem de fato ajuda está totalmente conectada com o sentir, então a estratégia é entender como você se sente quando essa pessoa vem ajudar, se fica relaxada e segura quando ela cuida da sua criança ou se fica tensa e apreensiva, o que já seria um sinal de alerta para desentendimentos futuros.

Lembre-se ainda que em uma relação de confiança e de segurança há espaço para troca, e que o famoso pitaco é diferente de conselho. "Precisamos saber colocar limites nesses pitacos. Não é porque estou recebendo ajuda que tenho que aceitar e concordar com palpites. Você pode dizer: 'Agradeço por você me ajudar com o meu filho, por ficar com ele, mas, quanto a essa sugestão que deu, eu já estou bem esclarecida. Muito obrigada'".

Se a relação é baseada em recompensa, isto é, no fato da pessoa querer que a mãe aceite o palpite dela, trata-se de uma relação disfuncional, e aí vale a pena repensar se faz sentido manter o outro como rede de apoio e, se precisar mesmo dessa pessoa, será preciso aprender a colocar limites.

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