'Não sou obrigada a voltar com medalhas, mas espero resultados', diz Rebeca
É impossível ouvir a batida de "Baile de Favela" sem se lembrar de Rebeca Andrade, 25. A ginasta é a primeira medalhista olímpica feminina do Brasil e levou duas medalhas para casa nos Jogos de Tóquio, em 2020: prata no individual geral e o ouro no salto. Em 2024, ela tem grande chance de medalha em Paris.
"Sempre dá frio na barriga. É algo gigantesco que acontece de quatro em quatro anos. Nunca é igual e essa será minha terceira. Estou muito ansiosa", disse para Universa.
Além dos jogos, esse ano a vida de Rebeca tem mais uma novidade: ela foi escolhida para ser homenageada pela Barbie, ganhando uma versão da boneca usando sua roupa e penteado preferido em meio às competições. Rebeca está ao lado de mais de 78 mulheres no mundo que entraram para o hall da "Barbie Role Model".
À reportagem, a atleta falou sobre saúde mental, a expectativa para as Olimpíadas e, claro, a surpresa de ter uma versão só sua da boneca mais famosa do mundo.
Universa: Conta para gente, quando você era criança, tinha uma Barbie ginasta?
Rebeca Andrade: Não tinha a ginasta, mas tinha a bailarina. [risos] Foi a minha primeira Barbie, inclusive. Eu era apaixonada por ela. Quando minha tia me deu de presente de Natal, até chorei de felicidade. Pedia muito para a minha mãe e já fazia ginástica na época. E, apesar de bailarina, ela era articulada e dava para fazer os movimentos que eu fazia nos treinos com ela.
E você tinha tempo para brincar?
Sim, quando era criança a rotina era mais tranquila. Só quando comecei a treinar com o Chico Porath e com a Keli Kitaura, lá com meus sete ou oito anos, passei a treinar em dois períodos. Mas também teve esse momento de adaptação. Tinha muitos amigos no bairro onde morava, na Vila Fátima (em Guarulhos, na Grande São Paulo). Até mesmo dentro do ginásio. E estávamos sempre brincando juntos.
Como é ver seu sucesso estourar a bolha do esporte e chegar na Barbie, a boneca mais famosa do mundo?
É uma honra ver que meu trabalho, e o da minha equipe, chegou tão longe. Sozinha, não chegaria nem na metade deste caminho.
Sou muito grata por ter aproveitado todas as oportunidades que apareceram em minha vida. Quando você é criança não sabe o que 'oportunidade' significa e quem teve essa percepção foi minha mãe e meus treinadores. Passei minha vida toda dedicada à ginástica, então me orgulha demais ver até onde chegamos.
Como chegou o convite da Mattel até você?
Quem me contou que queriam fazer uma boneca minha foi meu assessor de imprensa. Comecei a gritar porque fiquei muito feliz e animada.
Eu dizia: 'Meu Deus, vou ser uma Barbie. Bem que minha mãe sempre falou que eu era uma boneca' [risos]. Minha irmã me ajudou a ver qual lookinho e penteado eu ia querer. A Mattel pediu as referências e mandei a do meu colã preferido e expliquei como gosto do meu cabelo e maquiagem. A Barbie ficou perfeita, maravilhosa.
O mundo inteiro sabe do seu talento e coloca muita expectativa para que você volte com medalhas de Paris. Isso te pressiona ou serve como incentivo durante a competição?
Não me sinto pressionada. Então acredito que me ajude. Mas acredito que a ajuda real mesmo não vem das pessoas que querem que eu traga medalhas, e sim, da minha vontade de continuar treinando e alcançar grandes conquistas.
Se não quisesse mais ser ginasta, não estava mais praticando. Sou muito grata e realizada por tudo aquilo que já conquistei, mas ainda quero muito ajudar a minha equipe e estou aqui pra isso. O resultado é uma consequência desse trabalho e do que apresento no dia da competição.
A ginástica é um esporte. Tem dias que você acorda para brilhar e tem dias que você pode falhar. Isso faz parte e tenho muito claro na minha cabeça. O que eu posso garantir é que, quando chego para competir, dou 110% de mim e, errando ou acertando, dei o meu melhor. Sei que não sou obrigada a voltar com medalhas, mas espero resultados excelentes.
Mesmo com tudo o que você já conquistou, ainda sente frio na barriga antes de subir no tablado?
Sempre dá frio na barriga. É algo gigantesco que acontece de quatro em quatro anos. Nunca é igual e essa será minha terceira. Estou muito ansiosa e feliz por viver mais essa experiência. Quero que dê tudo certo.
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Quero receberEstou preparada, treinando e converso muito com a minha psicóloga. Minha família e equipe estão sempre me apoiando. Temos todos o mesmo sonho e objetivo. É muito legal ver todos focados no mesmo que você. Então estou bem animada.
Simone Biles se afastou das competições para cuidar da saúde mental. Como você preserva a sua? Tem terapeutas ao seu lado sempre?
Sim, a todo momento. A minha psicóloga está ali para dar o suporte que eu precisar. Além da ginástica, cuido da minha mente fazendo coisas de que gosto, como ficar com a minha família, meus amigos, meu cachorros, ir à praia e ao cinema. Atividades que são mais tranquilas, porque ao mesmo tempo que o esporte é muito importante, a parte do lazer também é. E assim a gente vai cuidando.
Você já pensou em desistir em algum momento?
Provavelmente, sim. Principalmente depois das cirurgias. A parte mental é muito importante porque a gente vê o quanto a nossa cabeça está forte. A minha psicóloga fez toda a diferença para eu continuar acreditando e confiando em todo o meu potencial. A Aline Wolff está comigo desde os meus 13 anos. Nosso trabalho juntas cresce a cada dia.
Foi bom entender, desde muito jovem, que você não precisa abandonar tudo nos momentos difíceis, porque eles vão existir a vida inteira. Só precisamos entender os processos de cada situação.
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