Gravidez muda o relacionamento? Como cuidar e firmar parceria na gestação

Ter um relacionamento saudável da gestação ao puerpério pode ser desafiador. São muitas transformações físicas, emocionais e da configuração da família com um novo membro. Não tem como fugir, há percalços no trajeto entre o resultado positivo e as madrugadas com o recém-nascido, mas conversamos com especialistas para debater o que rola na relação durante a gravidez.

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Embora a gravidez seja um evento fisiológico universal, a forma como se vivencia é sempre singular. Não tem como pensar que todos os casais vão ter dificuldade, mas é importante entender que é um momento de transformação e isso, às vezes, faz com que haja um estranhamento que, com diálogo, é possível de ser contornado.Arielle Rocha Nascimento, psicóloga especializada em gravidez, parto, puerpério, infertilidade e reprodução assistida.

Não é só o corpo feminino que se transforma semana a semana, a psique da pessoa que gesta também. E é fundamental compreender que, se a própria gestante vai estranhar algumas coisas nela, imagine o parceiro ou parceira. O ideal é que o casal tenha a sensibilidade para lidar com as mudanças e muita conversa, até porque o mundo não vai parar em função da gravidez, e aí mora outro perigo.

Não temos controle do mundo

Além de idealizarmos como será ter um bebê com quem amamos e termos que lidar com isso acontecendo não necessariamente como sonhamos, existe um ambiente ao redor, composto por outras pessoas e inúmeras circunstâncias. Podem emergir questões como traição, abandono, separação, desemprego, perda familiar - que dificilmente passaram pela sua cabeça antes.

"São muitas as situações no consultório em que talvez a hora mais esperada de uma vida inteira de um casal, que é a gestação, não acontece como esperada", conta a psicóloga Arielle Rocha.

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Problemas podem se sobrepor à alegria e trazer dor e angústia, o que é extremamente delicado, mais ainda para a gestante, que está em uma fase de vulnerabilidade psíquica. "É importante que quem esteja perto dela esteja atento a isso, permitindo que a gestante possa se preparar para a chegada do bebê. Se ela precisa se preocupar demais, ela não vai conseguir se conectar tanto com essa gestação", explica Arielle.

Mas também não temos controle do mundo, certo? Então, não se cobre caso você esteja passando por uma turbulência e sinta que está com mais dificuldade para se conectar com a gravidez. Lembre-se de respirar fundo, tente criar momentos para ficar mais quietinha e distante de distrações para descansar a cabeça e aliviar as tensões.

"A gestação é um período de recolhimento, de gestar uma nova vida. Não é um momento de 50% e 50%. A mulher já está dando tudo de si para gerar uma nova vida e precisa de apoio para que fique menos sobrecarregada com outras demandas", avalia Maya Eigenmann, neuropedagoga, educadora parental e escritora.

A nova configuração da família

Para evitar o desequilíbrio na família com a chegada de um novo membro, as especialistas reforçam a necessidade do diálogo honesto. Um bom ponto de partida é conversar sobre o que concorda ou discorda, e mergulhar junto com seu par no autoconhecimento, para cada um conhecer melhor os próprios gatilhos e traumas. Assim, é possível trabalhá-los para não projetar feridas emocionais, e ter mais chances de estabelecer uma parentalidade autêntica e honesta emocionalmente.

Se ainda não conversaram corajosamente, é melhor agora do que depois do parto. Tudo pode se tornar mais intenso e um fator que pode pesar é a forma como se deu a gravidez.

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"Se a gestante vem da reprodução assistida, muitas vezes a história que vem junto é de muitas tentativas, perdas, lutos e um certo desgaste emocional e até conjugal. Essa gestação acaba sendo super investida afetivamente, é um casal que quis muito o filho, que está feliz com o resultado do positivo, mas também tem o medo de perder, que pode se sobrepor à própria felicidade", conta a psicóloga Arielle Rocha Nascimento.

A maneira como um casal vive a gestação, a reprodução assistida ou a fila de espera da adoção é crucial; se ele se une mais, fica mais próximo e tem liberdade para dialogar, tende a viver a chegada da criança de uma forma mais leve. "Todo evento na vida de um casal que envolve mudança convoca à comunicação. Se ficar muito difícil se sintonizar com o parceiro, busque ajuda de um terceiro."

Quem cuida de quem cuida do bebê

A gravidez traz muitas novidades para vida do casal e é comum precisar de um tempo para se adaptar
A gravidez traz muitas novidades para vida do casal e é comum precisar de um tempo para se adaptar Imagem: monkeybusinessimages /iStock

É preciso que o casal, especialmente a figura materna, tenham suporte emocional e consigam elaborar todas as mudanças naturais ou o que apareceram de repente e estão difíceis de serem diferidas. A boa notícia é que o apoio pode vir das mais diferentes formas - em conversa com amigas, em rodas de gestantes, em encontros com outros casais ou a sempre recomendada terapia.

Está grávida e vivendo uma verdadeira lua de mel? Sem querer cortar o seu barato, nem sempre os conflitos aparecem de imediato. Mas, vale comemorar, você e seu par estão um passo à frente: quando o casal já apresenta dificuldades de compreensão mútua durante a gravidez, no puerpério (com um bebê chorando e familiares querendo participar) tudo tende a ficar mais tenso.

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Os desafios aumentam, as perdas da vida social ficam mais claras, e essa mulher é tão convocada a mergulhar no momento que de fato o par fica tentando entender onde está a mulher, e também o lugar dele como pai. Mas, se eles podem falar antes sobre isso e têm boa saúde conjugal, vão conseguir se reencontrar em cada momento que se desencontrarem. Arielle Rocha Nascimento, psicóloga

Em relações homoafetivas a mesma dinâmica pode acontecer: um dos dois parceiros ou uma das duas parceiras vai abastecer mais o filho, que precisa dessa figura inicial, e o outro vai estar cuidando de quem cuida mais do bebê no início da vida. A partir do nascimento do bebê, a pessoa que gestou vai estar completamente conectada ao filho e é natural e biológico que isso aconteça.

O par, no entanto, não está sobrando, pelo contrário, tem um papel fundamental - o de oxigenar a figura materna para que ela esteja disponível para o bebê. "O ideal é que a pessoa não caia em um lugar de fragilidade, achando que agora a companheira não pensa mais nela. Não dá para comparar um adulto com um filho", explica Maya Eigenmann.

O principal é ambos entenderem que é preciso cuidar de quem cuida do bebê, simplesmente porque a puérpera não está em condições de ficar se preocupando com a casa.

"É uma tarefa que não cabe nesse momento. Lembrando que a gestação não termina com o parto, existem mais cerca de nove meses de exterogestação, nos quais o bebê é completamente dependente e precisa estar grudado no corpo da mulher que gestou, ou da figura primária de segurança no caso de crianças adotadas. E não é um discurso baseado em ideologias, é comportamento observado na ecologia e na biologia da nossa espécie", explica a educadora parental.

Pode ser um pouco diferente com um casal que está na fila de adoção, por não ter nenhum corpo fisiologicamente gestando, mas há emoções à flor da pele e é preciso abertura para falar sobre a divisão de foco e tarefas. A dinâmica vai ser distinta para cada casal, mas, de forma universal, a pessoa que têm o papel secundário na chegada da criança precisa estar mais atenta ao que acontece ao redor para proteger a figura primária.

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E não é sobre fazer o parceiro ficar participativo, comprar fralda e escolher as roupinhas. Vai além. É preciso conversar sobre medos, emoções, sobre como está se sentindo. Ambos podem e devem fazer isso, sem apontar culpados e buscando fortalecer a união.

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