Irmãos, amigos que dividem apê... Vocês não parecem um casal? Mude já isso!

A paixão entre um casal, segundo estudos, dura em torno de dois anos. Depois disso, entra em cena o companheirismo — e, então, surge um novo formato de relacionamento que precisa ser olhado de perto e com cuidado.

Quando ainda namoram, as pessoas separam um tempo especificamente para curtir o relacionamento, e isso inclui o sexo. Quando passam a morar juntos, a urgência de aproveitar aquela oportunidade desaparece. A frequência pode diminuir, isso é normal, mas nunca desaparecer.

A impressão é que tudo contribui para que o erotismo da relação sofra um abalo considerável: boletos infinitos para pagar, expediente massacrante no trabalho, demandas domésticas, cuidados com os filhos, trânsito, compromissos com a família, cansaço e estresse em níveis alarmantes... Como chegar em casa no fim de um dia exaustivo e ter forças, fôlego e energia para transar?

O problema é que, diante de tanta correria, a intimidade, a cumplicidade e o simples prazer de estar junto também ficam prejudicados. Quando se dão conta, homens e mulheres deixaram de ser casais e se transformaram em gestores de crise, sócios na administração da casa, colegas dividindo um apartamento ou um escritório.

Vários fatores da rotina de uma relação conjugal podem fazer com que o par se aproxime mais como amigo e se afaste enquanto verdadeiro casal. Dividir as tarefas da casa, a educação dos filhos e as despesas não caracteriza duas pessoas como sendo um casal. É necessário que exista uma ligação emocional e sexual entre elas.

Atenção às relações longas

O distanciamento é mais comum entre os casais que estão juntos há muito tempo. No início de um casamento, o casal ainda está na fase de descoberta sobre o outro, mesmo que já venham de um namoro relativamente longo. A novidade de viver sob o mesmo teto tende a ser excitante e ambos estão mais cheios de energia e desejo. São mais românticos e, por isso, também fazem mais surpresas um para o outro, alimentando a relação.

Com o tempo, o surgimento de papéis diferentes podem causar ruído na convivência. Normalmente, casais que trabalham juntos conseguem entender melhor as angústias do dia a dia, assim como a carga horária e outras peculiaridades da vida profissional, as dificuldades, os desafios e as necessidades.

Sem contar que é possível trocar ideias e pedir dicas, e isso faz com que os dois fiquem ainda mais unidos. No entanto é importante deixar claro o papel desempenhado por ambos em cada ambiente, ou seja, fora do trabalho eles são um casal e precisam agir como.

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Funções de pais não podem se sobrepor às de casal

Os casais que estão juntos há muito tempo têm que ficar mais atentos e começar a observar os sinais de que a relação já não é a mesma para que ela não se perca por completo. Porém, o que determina que isso irá, realmente, acontecer é a forma como o casal vê e lida com a situação.

É preciso prestar atenção, também, às funções de pai e mãe que, em muitos casos, acabam se sobrepondo e até tomando conta dos papéis de homem e mulher. Um casal que trabalha e mora junto, mas tem a sua individualidade mantida ao sair com amigos de vez em quando ou ao continuar a cultivar seus hobbies anteriores, pode não notar essa mudança de paradigma no relacionamento.

No fim, depende muito de qual casal estamos falando e qual a ideia de relacionamento que esses indivíduos têm, o que cada um valoriza num relacionamento e como lidam com isso.

Dicas para virar o jogo

A boa notícia é que, com um esforço mútuo e constante dos envolvidos, dá, sim, para reverter a situação. É claro que não é possível recriar a chama apaixonada do início da relação, pois o casal e a própria dinâmica do relacionamento vão se transformando ao longo do tempo. No entanto, os dois podem resgatar a cumplicidade e a intimidade. Veja alguns passo recomendados pelas especialistas:

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1. Desconstrua a visão idealizada de relacionamento

A culpa por não ter um romance digno de cinema caminha ao lado da idealização da vida a dois. É preciso ter senso de realidade sobre qual o ponto da relação no momento. A visão calcada em expectativas de casal sempre feliz impossibilita ambos olharem o relacionamento como algo que pode ser melhorado.

2. Aperfeiçoe diariamente a relação

Gostar da sensação de estar com alguém é ótimo, mas não é o suficiente para uma relação dar certo. É responsabilidade de cada um aperfeiçoar diariamente a relação, encontrando-se um no outro, descobrindo objetivos comuns, sem esquecer-se de levar em conta as diferenças de pensamentos — ou seja, respeitando a individualidade do outro. O diálogo e o respeito são requisitos básicos.

3. Equilibre amizade e sexualidade

Um relacionamento alterna fases mais quentes com outras mornas. Em uma relação conjugal, é claro que a amizade não deve ser descartada, pois é uma peça fundamental. No entanto, quando o sexo deixa de ser prioridade, pode ser um alerta para a entrada da relação num campo neutro demais.

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4. Não deixe o desejo morrer

É preciso criar estratégias para que o desejo sempre aconteça. Mudar a rotina, tirar um tempo para curtir a dois, trocar mensagens mais quentes durante o dia, tudo isso pode contribuir para ajudar nesse sentido.

5. Volte a namorar, pelo menos de vez em quando

O fato de estar casado não deve acabar com o namoro, beijos, abraços, carinho, mãos dadas, telefones, mensagens, e-mails e demonstração de amor. É importante que o casal disponha de momentos a sós, principalmente quando a família já compõem filhos. Saiam para jantar sozinhos, estiquem para um cinema ou teatro, durmam uma noite fora de casa...

6. Converse abertamente sobre o que foi deixado de lado nesse tempo juntos

A partir daí, é importante retomar o que notar que foi perdido e renovar em alguns pontos também. Os dois precisam estar abertos a mudanças e novas ideias, dialogar, mostrar empatia um com o outro, ter bom humor, procurar sempre cultivar o otimismo e ver o lado bom do par e das situações.

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7. Encontre novos objetivos

Pode ser reformar a casa, trocar de carro, fazer uma viagem juntos, começar a praticar exercícios, descobrir um hobby, não importa. Traçar missões e sonhos em comum cria a sensação de ter com quem contar e de fazer a relação evoluir, não ficar estagnada.

Fontes: Ellen Moraes Senra, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental; Joselene L. Alvim, psicóloga clínica e especialista em neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo); Marina Prado Franco, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo); e Raquel Fernandes Marques, psicóloga

*Com matéria publicada em 25/02/2020

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