Você não precisa gostar de tudo na gestação e pode até odiar estar grávida

Durante a gravidez é esperado que você tenha aquele momento de filme em que se olha no espelho passando a mão na barriga, com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos imaginando a alegria que vem por aí. Mas nem sempre a gestação é esse momento endeusado, e está tudo bem. Inclusive, se quiser ter companhia para aliviar as angústias da gravidez, se inscreva na newsletter de Materna no box abaixo e receba conteúdos semanais para te acolher durante a gestação.

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Tem quem não goste da barriga ou da sensação de ter um ser humano dentro da barriga e esse estranhamento pode causar dúvidas como: seria você uma séria candidata a menos mãe? Já te avisamos: NÃO.

Não se sentir plenamente feliz enquanto gesta é muito mais normal do que se imagina. E o problema não está na mulher que experimenta angústia, incômodo ou até tristeza. "O problema é a romantização, a idealização de que é um momento tranquilo de se viver, para o qual a mulher já está naturalmente pronta para viver", analisa a psicóloga Arielle Nascimento, especialista em gestação, parto e puerpério.

Quando a experiência da gestação traz conflitos, muitas questões podem emergir, e uma delas é a culpabilização. A gestante se culpa e sente ainda mais dificuldade em aceitar a complexidade que o período naturalmente apresenta. É um momento que você é inundada de hormônios e mudanças físicas que podem realmente não ser prazerosas e está tudo bem não amar passar por tanto.

Mas é claro que se você se sentir que a angústia ou a tristeza estão grandes demais, também não há nenhum problema em precisar de suporte psicológico ou psiquiátrico durante a gravidez.

"Há culturalmente pouco espaço para a vivência da gestação com vulnerabilidade, sendo que a vulnerabilidade psíquica é uma condição da gestação. O suporte medicamentoso pode ser um amparo, mas não é o que a gestante idealizou por não ter espaço para pensar nisso na sociedade. Por isso a importância de falarmos do assunto e abrirmos mais espaço, para que mais mulheres e gestantes possam existir com suas ambivalências, dores, medos e possam encontrar o devido amparo", analisa a psicóloga Arielle Rocha Nascimento, especializada em gravidez, parto, puerpério, infertilidade e reprodução assistida.

Pode acontecer com todas nós

Fernanda Paes Leme espera o nascimento da primeira filha com empresário Victor Sampaio
Fernanda Paes Leme espera o nascimento da primeira filha com empresário Victor Sampaio Imagem: Reprodução/Instagram
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Quer um exemplo de como essa oscilação é comum e pode acometer qualquer uma de nós? Em entrevista ao podcast Mil e Uma Tretas, a apresentadora Fernanda Paes Leme se emocionou ao revelar que, ao começar tratamento com antidepressivo em sua recente gestação da filha Pilar, foi invadida pelo sentimento de culpa. "A primeira vez que fui tomar eu chorei muito, me senti culpada, me senti mal", revelou. Mas contornou o sentimento. "Que bom que fiz isso, que bom que não tive preconceito", concluiu.

É justamente por estar vulnerável que a mulher vai se permitir estar mais sensível para se encontrar com as necessidades que esse bebê tão logo irá apresentar. É quase como baixar suas defesas para captar os sinais do seu filhote, mas não podemos confundir a nova força com onipotência: a mãe não precisa dar conta de tudo, e pode sim receber auxílio, inclusive de medicação, para se sentir mais tranquila diante das incertezas que a gestação traz - desde que orientada por um médico psiquiatra.

Tudo pode ser menos ou mais intenso, não apenas de acordo com cada gestante, mas também do que veio antes dessa gestação, como perdas gestacionais anteriores ou um longo período de tentativas até o positivo. E há ainda gestações de risco, mulheres que precisam ficar de repouso ou que desenvolvem doenças como diabetes, hipertensão, hiperêmese gravídica.

Culpa e impotência na mudança de vida

Evitar comparações, entender que ninguém é perfeita e aceitar que a gravidez é um estado que, embora passageiro, deixará sim mudanças profundas.
Evitar comparações, entender que ninguém é perfeita e aceitar que a gravidez é um estado que, embora passageiro, deixará sim mudanças profundas. Imagem: GettyImages

É um período de ambivalência, de luto e de vida. Um luto pelo corpo e pela vida de antes, que se transforma com a chegada de uma vida. Por isso o sofrimento nessa fase é carregado de contradições. É importante se permitir viver isso.Patrícia Bressan, terapeuta perinatal, certificada em terapia integrativa materno-infantil e psiquismo materno.

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Além da culpa, pode surgir uma verdadeira sensação de impotência como mulher - por achar que não está conseguindo lidar com a gestação como deveria lidar. Segundo a psicóloga Arielle Rocha Nascimento, são muitas as situações que podem levar mulheres grávidas a buscarem suporte emocional, mas um fator que costuma levá-las até o consultório é exatamente a dificuldade em compreender que ela pode experimentar sentimentos negativos.

A terapeuta Patrícia também conta que é comum a mulher expor essa ambivalência nos atendimentos que realiza: elas revelam desde o medo de não dar conta até a sensação de que perdeu a liberdade, ou o fato de se sentir mal com a barriga conforme ela vai crescendo.

"É muito raro uma mulher se sentir 100% feliz estando grávida. Embora eu acredite que isso possa acontecer, o mais comum é encontrar mulheres que, quando começam a elaborar a nova condição, acabam por perceber algum desconforto com a nova identidade", explica.

Um ponto positivo é que cada vez mais mulheres estão enfrentando essas questões abertamente, como se quisessem justamente acabar com o tabu. "Vemos muito isso nas redes sociais, o que tem ajudado as mulheres a olharem para si com mais generosidade e menos cobranças. Mas há muito a desmistificar ainda. Percebo que há muita comparação com amigas, celebridades, familiares", observa Patrícia.

O mais importante para passar por toda essa complexidade emocional é aceitar que está tudo bem, e que nada disso prejudicará a relação com a criança que vai chegar. O primeiro passo é entender o que está sentindo, tentar identificar de onde vem esses sentimentos e como eles afetam a sua qualidade de vida. Depois, o recomendado é encontrar o conforto que a faz se sentir um pouco melhor. Aí entram conversas com o par ou com amigas, sem medo de julgamentos, além de realizar atividades que dão prazer.

Lembre-se: cada uma lida de maneira diferente com esse estado, e chegar a uma relação de amor e ódio com a gestação não significa que haverá prejuízos à maternidade. "Muitas mulheres até irão ter um pós-parto menos difícil, pois já não aguentava mais a gravidez. É fundamental ter consciência que o fato de odiar a gravidez não significa que não vai gostar do filho ou de ser mãe. São coisas diferentes, e é realmente muito difícil passar 40 semanas com incômodos e dores, tanto físicas quanto emocionais", observa Patrícia Bressan.

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E também não esqueça que, se algo causar muita angústia ou sofrimento, é necessário buscar ajuda especializada. Não há vergonha nenhuma nisso.

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