'Mereço aquele lugar': Tati Machado festeja 2024 no topo e com 'Saia Justa'
"É Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar"! O verso já clássico de Xande de Pilares poderia facilmente ser a melhor forma de definir o ano de Tati Machado, que se consolidou em 2024 entre os principais nomes da TV.
O grande público pode não se lembrar, mas Tati é figura antiga na telinha, desde o extinto programa "Gente Inocente", apresentado por Márcio Garcia. A garotinha cresceu, virou jornalista e, aos poucos, foi conquistando território nas manhãs da Globo.
Agora, além de ter cadeira cativa no "Mais Você" e no "Encontro", a apresentadora ostenta no currículo as participações no "The Masked Singer Brasil" e a vitória no "Dança dos Famosos". Mas a 'cereja do bolo' veio nesta quarta-feira (7), com a estreia no sofá do "Saia Justa" ao lado de Bela Gil, Eliana e Rita Batista.
O convite para integrar o time coloca a comunicadora à prova em um verdadeiro teste de fogo. A imparcialidade da Tati Machado jornalista dá lugar para uma versão em que suas opiniões são protagonistas.
Em bate-papo exclusivo com Universa, a apresentadora abriu o jogo sobre as transformações, a possibilidade de ser 'cancelada' e a missão de equilibrar os pratos enquanto tantas oportunidades batem à porta.
Você percebe as principais transformações na sua vida pessoal e profissional?
Eu tenho uma imaginação fértil. Isso eu posso te dizer e garantir. Acho que já me imaginei fazendo as coisas que eu tô fazendo hoje, mas nem no meu maior sonho eu imaginaria que seria nessa proporção e recebendo tanto carinho das pessoas, sendo tão estimulada também, sabe?
Outro dia eu fiquei pensando assim: 'será que eu mudei depois que eu virei uma pessoa conhecida'? E aí eu respondi que de alguma maneira sim. Meus assuntos muitas vezes mudaram, minhas referências mudaram também em alguns lugares, mas a minha essência não mudou. Ela segue intacta e isso é uma coisa importante pra mim.
Independente de qualquer transformação que a minha vida aconteça, e eu espero que aconteça cada vez mais, não posso e não vou mudar a minha essência. Porque é ela, de verdade, que eu acredito que tem feito com que eu alcance tantas coisas, sabe? Ter esse pé no chão, lembrar do passado para valorizar o futuro.
E tem um companheiro em casa, o Bruno [Monteiro, marido de Tati], né? Ele me ajuda demais a lembrar isso, a me reconectar com aquela menina que lá atrás, quando tinha 20 anos, entrou na Globo cheia de sonhos. E é claro que isso tudo tem impacto, né?
Impactou completamente na minha vida. Hoje em dia, eu tô começando a ter um pouco mais de oportunidade de fazer coisas pra minha família. E eu acho que eu tô aqui, tô dando entrevista, na televisão, é por eles. Pra fazer uma transformação na vida deles.
Como você tem feito para conciliar todos esses trabalhos e ainda manter a saúde mental, cuidar de si mesma e as demais tarefas do dia-a-dia?
Eu vivo um dia de cada vez. Por exemplo, essa semana, a minha frustração da semana é que, infelizmente, eu não consegui encontrar o Diego Maia, meu professor [do 'Dança dos Famosos'], pra gente dançar. Mas é engraçado, depois que eu passei pelo 'Dança' acho que sou capaz de fazer meu dia virar 36 horas. Minha vida tá até tranquila do que tava um mês atrás, eu tenho uma rotina agora.
Mas a gente vai cada semana? O bom disso que essa profissão me dá é que não existe marasmo. A semana seguinte nunca vai ser exatamente igual. E eu até gosto disso, porque eu sou muito acelerada, então acaba me dando prazer, você entende? Mas essa semana, eu fui ao cinema!
Já teve momentos em que te preocupou passar um pouco dos limites e ficar por conta de apenas trabalhar?
Eu acho que é um pouco de droga, um pouco de salada, aquela frase que as pessoas usam. Às vezes, eu e o Bruno, a gente só se vê pra dormir literalmente. Então, eu preciso, às vezes, me desconectar. Chegar em casa, conseguir assistir a um filme, uma série. Só que é muito engraçado, porque, ao mesmo tempo, o que consumo como pessoa física, como CPF, também, de alguma maneira, é meu trabalho.
A minha vida o que eu sinto é que ela se mistura. Trabalho e vida pessoal. Eu acho que, principalmente, quando eu consigo dar uma escapadinha, viajar e visitar minha mãe, por exemplo, é o momento que geralmente faço uma pressão comigo mesma de [falar:] 'Olha, daqui você precisa se desconectar um pouco'.
Como foi a experiência de participar do 'The Masked Singer' e o 'Dança dos Famosos'?
O 'Masked' veio num momento que, pra mim, foi muito legal, porque eu me mudei para São Paulo e não foi uma mudança fácil. Teve toda uma adaptação, de não conhecer ninguém, não saber nem em que bairro morar pra falar a verdade.
O programa veio nesse momento de, tipo? 'Nossa, é um programa que é feito em São Paulo'. Então, eu teria uma outra distração aqui na cidade. E é engraçado que em vários momentos da minha vida, no teatro e no 'Gente Inocente', eu sempre tava dançando e cantando. Sempre. E eu, agora, participei de dois programas sobre isso.
O 'Dança' vem num desafio completamente diferente, porque aí eu estou despida, né? Eu estou sem um personagem. O personagem passa a ser quem eu sou. E a verdade é que, no final das contas, eu não sou um personagem. A Tati, que eu tô conseguindo mostrar na televisão, é a mesma Tati que é aqui em casa, onde a gente tá fazendo essa entrevista, entendeu?
E viver aquilo ali foi, realmente, a maior transformação que eu já passei. Sempre quis participar, já tinha trabalhado nos bastidores, que eu sempre falo, mas o quadro me mudou como mulher mesmo. Entendi mais o meu corpo, ganhei uma liberdade corporal muito grande.
Logo no começo, quando eu soube que o Diego seria meu professor, ele perguntou: 'Você quer o quê?' Eu falei: 'Acho que quero ir até a final'. E aí ele falou pra mim assim, 'então a gente vai'. Naquela final eu tava muito feliz. Sem baboseira, qualquer resultado eu estaria feliz.
Eu estaria feliz mesmo, porque eu já tava feliz. Eu tava feliz na primeira semana. É o impacto que teve na minha vida, e eu confesso pra você que eu ainda tô entendendo. Vai fazer um mês agora e eu ainda me pego direto chorando com tudo que aconteceu assim. Com as emoções que eu senti.
E agora você integra o 'Saia Justa', como foi o convite e o processo para assumir o programa com as outras três apresentadoras? Bateu medo?
Acho que a gente sempre se questiona, sabe? Sei que é um sofá que já foi habitado por grandes mulheres, que representam muito o nosso país mesmo. Então, é claro que eu fiquei assustada no sentido de será que eu sou capaz? Será que eu tenho bagagem suficiente? Confesso pra você que eu me perguntei sobre isso, mas logo me respondi, também não demorou muito para saber que eu sou capaz, sim.
Acho que mereço aquele lugar, que posso colocar muito do meu DNA ali também, criar grandes momentos no 'Saia'. O convite veio pelo meu chefe, o chefe da 'Super Manhã da Globo', o Mariano Boni. Eu tava tomando banho, meu telefone começou a tocar e eu não consegui atender de cara. Eu falei: 'Meu Deus! Não atendi meu chefe!'.
Aí eu fui, saí do banho correndo pra fazer essa ligação e eu falei: 'Com certeza, você não vai se arrepender. Pode me colocar aí que eu vou. Tô pro jogo, vambora!' E é o que eu sinto que tenho feito, assim. Surgem oportunidades pra mim e eu agarro elas, agarro de verdade.
Porque eu acho que, assim, eu sou jovem, tenho saúde e sonhos. E o meu sonho é de estar na televisão. Se eu agora posso ocupar esse sofá e pedir licença pra essas mulheres que já estiveram ali, eu vou dar o meu melhor. Eu vou dar o meu melhor. E é o que eu já tô fazendo.
Bom, uma coisa é a Tati fazendo jornalismo e outra bem diferente emite opiniões sobre temas delicados. Você está preparada para possíveis cancelamentos e outros tipos de repercussão?
Preparada a gente nunca tá, mas assim, eu não tô me preocupando com isso, entende? Ali, especificamente, o nosso combinado é estar juntas e unidas em um espaço acolhedor, onde a gente pode mostrar as nossas vulnerabilidades, emitir a nossa opinião sem medo de ser julgada. Pelo menos ali dentro do nosso sofá, onde não existe a dona da razão.
Onde, inclusive, eu posso virar e responder: 'Gente, eu não tenho opinião sobre isso, eu preciso pensar'. Ou posso até mesmo emitir uma opinião e, na sequência, trocar de opinião porque tá tudo bem. É pra ser esse espaço acolhedor e, pensando nisso, eu tô indo sem nenhum medo.
Se vier qualquer tipo de repercussão, a gente vai saber lidar com isso. Porque eu vou estar muito consciente do que eu tô colocando ali. Não vou abrir mão da minha leveza, do meu jeito de ser. E acho que a gente vai tratar sobre temáticas que são importantes e que precisam ser discutidas. Mas eu acho que a gente vai fazer isso de uma forma leve.
O fato de não estar dentro de um padrão estético corporal fez da sua presença na TV um ato político, mesmo que silencioso no início. Hoje, isso já é mais verbalizado por você em outras oportunidades. Como faz para equilibrar esses posicionamentos sem ser resumida a isso apenas?
É porque a gente tem muito costume de ser colocado dentro das caixas, né? Se eu sou uma mulher gorda na televisão, eu falo sobre gordofobia. Então eu acho que eu quero escapar desse lugar. Mas escapar não é me ausentar desse lugar, entendeu? Eu quero mostrar que eu sou uma mulher falando sobre isso sendo engraçada. Chorando também, se for acontecer.
Sou uma pessoa que emite opinião. Eu acho que o que eu quero mais é mostrar que sou uma mulher. E que por acaso eu sou uma mulher gorda. E é isso. Quero representar dessa maneira, mas não me faz escapar de que quando for necessário falar sobre a pauta. Eu estou preparadíssima pra falar sobre isso, porque essa também é a minha vivência.
Eu sei que nós, mulheres gordas e homens gordos, somos poucos ainda na televisão. A gente sabe disso. Então, eu sei muito desse meu lugar de representatividade, que as pessoas me olham nele também. E eu dou muito valor a isso.
Hoje em dia a gente, graças a Deus, debate muito mais sobre isso. Mas eu quero, óbvio, mostrar que eu sou uma mulher falando sobre outros assuntos. E que eu sou gorda. E assim, eu espero no futuro ver muito mais pessoas como eu ali na televisão.
Vou fazer questão de, se forem pessoas que trabalhem comigo ou que estejam perto de mim, de acolher essas pessoas. E estar pronta para somar junto com elas. Porque, com certeza, quando nós conseguimos ser muitos, conseguimos ser muito mais. A gente consegue coisas muito mais grandiosas.
Por conta da sua perda de peso, consequência dos treinos no 'Dança', muitas matérias passaram a olhar para seu corpo de forma objetificada. Questões sobre procedimentos estéticos começaram a ser feitas. Como você tem encarado isso? Sentiu algum tipo de pressão?
Acho que antes de chegar no 'Dança' eu já tava muito consciente do corpo que eu tenho. É claro que quando você trabalha com televisão e as pessoas te veem emagrecer algumas delas vão falar: 'Ah, ela já tá entrando no padrão globo, né?'. Sendo que eu não sou cobrada. Nunca fui cobrada para emagrecer dentro do meu trabalho. Faço questão de reforçar isso.
E, ao mesmo tempo, as pessoas falam: 'Nossa, você tá linda, né? Você emagreceu, você tá linda!'. É muito louco quando vem essa frase junto, né? Essa coisa da estética, da beleza? Ela só é associada quando você está mais magro. E isso reflete, por exemplo, em algumas matérias.
O meu corpo, ele realmente mudou. Eu realmente emagreci. Eu acho que, assim, eu não preciso [falar]... Tá nítido, né? Mas eu ficava cinco vezes por semana treinando incessantemente. Antes, eu estava sem fazer exercício. Então, é claro que o meu corpo, fazendo essa rotina que eu tinha, teria mudanças.
Eu tô satisfeita com o corpo que eu tô agora, mas da mesma maneira que eu tava satisfeita com ele quatro meses atrás. Porque eu tenho, hoje, uma consciência de que esse meu corpo aqui, ele é meu. Ele não é de mais ninguém. E eu acho que sempre reforçando aquela máxima de que a gente não comenta o corpo de ninguém, né? Porque o corpo é do outro.
Ao mesmo tempo, eu entendo a curiosidade das pessoas. As pessoas me perguntam muito quantos quilos eu emagreci. Não é algo que eu me apego. Não vou me apegar à balança. Eu acho que eu me apego ao que eu sou, sabe? E o que eu sou, eu tenho certeza absoluta. Mas vejo muito, claro, essas matérias, as pessoas comentando sobre isso. E eu acho que não vai ser a primeira nem a última vez que isso vai acontecer. E vambora!
Como foi pra você chegar nesse lugar de autoconhecimento tão claro? Teve muita terapia envolvida? Amor da família?
É o misto de tudo! Mas eu fiquei gorda. Virei uma mulher gorda já adulta. Então, não convivi com essas questões da adolescência, mas vivi outras. Mas imagina, você começa a sua vida adulta ali com 19 anos e você vê o seu corpo mudar. Foi impactante, porque é o momento que sexualmente a gente também está mais desenvolvido.
É o momento que a gente começa a falar mais e ter mais consciência sobre a nossa sensualidade. Sobre a nossa sexualidade. Então, eu vivi muito esse momento virando uma mulher gorda. Mas eu sempre tive a certeza de quem eu sou, fora o que a gente está vendo aqui. Fora o que você vê como cartão de visita.
E aí, eu acho que isso foi um grande aliado pra mim. A gente falou muito sobre saúde mental nesse momento de pandemia. E eu acho que foi o momento que eu mais me vi pelada, por exemplo. Porque eu estava mais tempo em casa, não estava na correria do dia-a-dia.
Foi o momento que eu mais me vi no espelho. E eu fiz um trabalho durante a pandemia e que me mudou muito, que foi passar a seguir perfis no Instagram que fossem diversos. Todo tipo de gente, todo tipo de corpo. Isso me transformou muito, porque me muniu de informação. Eu comecei a seguir pessoas que eu conseguia me enxergar no corpo delas.
Isso fez com que eu tivesse uma consciência muito grande. Sobre os nossos corpos e sobre quem a gente é. Então, acho que isso me ajudou muito. Mas, oh, não é sempre fácil, não. Tem dia que eu acordo, me olho e já falei: 'Será que se eu emagrecesse? Será que isso aqui não está muito legal?'. É humano, né?
Então, não é 'Tati Machado, a mais resolvida com o seu corpo'. Eu acho que não é assim, a gente não é 100% seguro em tudo. Tem dias e dias e eu soube respeitar isso. Até no dia que eu não estou 100% bem e está tudo certo.