Filho mais velho de uma relação e bebê de outra? Como minimizar conflitos

Família mosaico, este é o nome do que você vive quando tem um novo relacionamento dividindo casa e rotina com filhos após o divórcio. E, adivinha? Não só seu novo par e o filho de vocês fazem parte dessa família pluriparental, como também podem integrá-la o seu ex, a atual dele e os filhos dela. Quer receber um conteúdo semanal para te ajudar durante a gestação? Se inscreva na newsletter de Materna no box abaixo.

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Soou confuso? Pode parecer estranho, ainda mais quando as inter-relações não vão bem, mas não é modismo, nem gíria, é um termo conhecido na jurisprudência brasileira e em países como Alemanha, apesar de usado em Inglês por lá, "patchwork family". Nos Estados Unidos é a "step-family" (traduzida livremente como "família adotiva"), na França é "família recomposée" (família reconstituída). Não importa como seja chamada, algo é imprescindível para que ela realmente exista: afeto.

Não havendo mais uma moldura que limite o que é ou não família, a afetividade permite a visualização do quadro, até mesmo diante do juiz. Não que se retire de cena os conflitos, minimamente inevitáveis. Afinal, se já é complexo criar um filho em um núcleo familiar convencional, imagine acrescentando novos pedaços nele. Mas há caminhos para dar certo!

Família mosaico é, assim como o mosaico, quando diversos cacos se juntam e formam um painel. Escuto de mães que se separam que se sentem um caco mesmo, despedaçadas -ao menos de início. E o termo é importante justamente por isso. Você acha que fragmentou a família, mas todos seguem sendo uma parte dela, se unem de outra forma para construir uma nova família. Michelle Occiuzzi, terapeuta integrativa especialista em comportamento materno

Michelle vive a experiência não apenas em consultório, mas também em casa. Separada do pai do primogênito, de 14 anos, de forma não amigável no primeiro momento, vive em união estável com o novo parceiro, tem com ele uma filha que completa dois anos e é parte de um lindo mosaico - onde entra também o pai do seu primeiro filho. Em sua terceira união, sabe que há um corte profundos ao juntar os cacos, mas que ele pode cicatrizar.

"Esperava o príncipe encantado da Disney, vendo meus pais em um casamento saudável. Mas vivi um casamento disfuncional e fui a primeira da família a separar. A dor foi tão grande que fiquei um ano sem beijar na boca e, quando beijei, me apaixonei e fui morar junto com um parceiro que não queria ter filhos. Ele criticava o pai do meu, eu não sabia como lidar, me separei novamente. Li, estudei, fiz mais terapia, e encontrei um novo companheiro. Hoje, sou realizada em uma família mosaico. O pai do meu filho tem o papel dele, meu marido também, e sinto que dou aos meus filhos a família que meus pais me deram", conta.

Qual é o segredo para dar certo?

O diálogo entre todas as partes do mosaico é sempre de grande importância
O diálogo entre todas as partes do mosaico é sempre de grande importância Imagem: GettyImages
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Entender que a família não é sua, é dos filhos. Você tem a sua de origem, mas, quando forma uma nova, ela é a do seu filho. E é preciso manter o raciocínio incluindo outras partes. Quando temos filhos, a gente doa essa família para eles, e não cabe a nós dividi-la.

Lembre-se: criança é soma de dois genitores e, se sente que ambos não estão unidos ainda que divorciados, acha que precisa anular 50% de si própria, tendo grandes chances de crescer emocionalmente disfuncional e, no futuro, entrar em relações disfuncionais.

Psiquicamente falando, família mosaico existe quando se percebe que está tudo bem se o papai conversar com o marido da mamãe e vice-versa, que não há necessidade em escolher um lado. E obviamente isso vale igualzinho para casais homoafetivos, sejam eles os primeiros genitores ou os novos pares dessa grande nova família.

Para saber se a colagem está dando certo, a dica é observar se o filho do primeiro casamento consegue dizer para a mãe o quanto ama o pai, contar para o pai o que viveu na casa da mãe ou narrar experiências com padrasto ou madrasta com tranquilidade.

Vejo muito essa questão em consultório e a primeira dica que dou é alinhar as expectativas sobre o papel de cada um, o que se espera do padrasto e da madrasta. E isso precisa estar alinhado com os pais.Maria Silvia Logatti, psicóloga e filósofa

Conflitos podem existir, mas em geral surgem pela falta de diálogo. Quando se decide falar, o clima pode estar tão pesado que ninguém recebe bem a fala do outro. "Não deixe chegar no ponto em que não é mais possível dialogar, dialoguem antes e, se chegar nessa situação, a recomendação é que se procure ajuda profissional, alguém para intermediar a conversa", orienta Maria Silvia.

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É essencial explicar para o filho do primeiro casamento que o espaço dele continua existindo e, mais importante, manter a postura para que os espaços de todos os filhos sejam respeitados. Segundo a psicóloga, o ciúmes vem da percepção de uma perda de espaço ou afeto, já que a família está em transformação acolhendo outro elemento.

Quanto mais natural tratar a chegada, quanto mais envolver o mais velho, quanto mais o pai do bebê que está na sua barriga contribuir com a criação do filho do seu outro casamento, melhor. "Se fosse em uma família tradicional, seria a mesma coisa, ele teria que dar suporte, então ele pode dar atenção e ser o responsável por cuidar do mais velho que não é dele", lembra a terapeuta Michelle.

E, por mais que a nova gestação ou criança traga a sensação de selar essa união - por ser de ambos - é interessante entender que não é preciso um bebê do novo casal para que a família mosaico exista. O que sela o núcleo familiar é tudo que é de ambos dentro dela, não só um filho. "Uma casa pode ser nossa, a educação dos filhos pode ser nossa, só é preciso abrir espaço para o parceiro se sentir parte da casa, da rotina. Se você o envolve nos desafios e pede para ele exercer algumas atividades dessa educação, por exemplo, aí ela se torna de ambos. Mesmo eu tendo um filho do primeiro casamento e você do seu", conclui Michelle.

De azulejo em azulejo

A nova família é composta pelos dois núcleos familiares (sua e do seu ex) quando ambos compartilham a guarda dos filhos
A nova família é composta pelos dois núcleos familiares (sua e do seu ex) quando ambos compartilham a guarda dos filhos Imagem: IStock

Embora o Código Civil determine que o poder familiar não se extingue com a nova união do pai ou da mãe (que o exercerá sem a interferência do novo companheiro), o vínculo afetivo - formado entre filho e o padrasto ou madrasta - pode ser reconhecido de um jeito: na relação construída dia-a-dia. E aí entra levar na escola, participar de festinhas, e outras nuances.

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A nova família é composta pelos dois núcleos familiares (sua e do seu antigo par) quando ambos compartilham a guarda dos filhos. "Para vínculo legal, só é considerada a família mosaico da pessoa que tem a guarda", explica a advogada Claudia Abdul Securato. Mas, para a criança e, dependendo da proximidade entre todos - o genitor sem a guarda faz parte emocionalmente dessa família, assim como seu novo par e filhos.

Namoro vale? Não. Apesar de não haver leis que tenham acompanhado todas as mudanças familiares, dividir o mesmo teto é fundamental. Pode ser complexo determinar quem é essa família, por haver multiplicidade de vínculos, ambiguidade nas funções e interdependência no funcionamento dos "pedaços". Mas, se mora na mesma casa, multiplique amor ao invés de dividi-lo, e estará criando um lindo mosaico!

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