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Ela engravidou de gêmeos, mas cada um de uma forma: 'Fiquei em choque'

Alana descobriu que estava grávida de gêmeos, mas fertilização in vitro foi com apenas um embrião Imagem: Antonucci Fotografia/Arquivo pessoal

De Universa, em São Paulo

18/08/2024 04h00

Alana Alves Freitas de Oliveira, 34, esperou 9 anos para finalmente realizar o sonho de ser mãe. E a gestação veio de uma maneira inusitada: além de um embrião por fertilização in vitro, ela também gestou, ao mesmo tempo, outro bebê, fecundado naturalmente.

A notícia pegou Alana de surpresa. E, perto das 35 semanas de gravidez, José e Theodoro nasceram, em junho deste ano. Hoje, de sonho realizado, a moradora de Cabo Frio (RJ) conta a Universa sua história.

'Gravidez não acontecia'

"Me casei aos 19 anos, em 2009 e, no ano seguinte, tive uma gravidez ectópica [quando o óvulo se implanta em local anormal], que não evoluiu. Em 2014, a gente decidiu tentar engravidar, mas passou bastante tempo e não acontecia. Até que, em meados de 2020, comecei a investigar.

Já sabia que tinha síndrome do ovário policístico desde a adolescência, mas tinha optado por não tomar nenhum anticoncepcional. Tinha muitos problemas de ciclo menstrual, cólica, e sabia que poderia demorar a engravidar, mas não tanto.

Em uma consulta com uma médica de reprodução humana, ela me pediu vários exames que nunca tinha feito na vida e descobri que tinha três pólipos no útero, além das trompas enoveladas.
Alana Oliveira

Isso tudo dificultava a gestação, que já era difícil. Então, fiz uma cirurgia para tirar os pólipos e fiquei torcendo para que, depois disso, conseguisse engravidar, mas não aconteceu.

A médica responsável pela cirurgia, que não era a mesma que me acompanhava, fez a biópsia de um desses pólipos e descobriu que ele poderia ser cancerígeno. Isso foi um choque.

Além disso, essa mesma médica também me desmotivou e tratou o meu sonho de ser mãe como algo banal. Disse que, se eu fosse a paciente dela, recomendaria a retirada do útero. Saí de lá desesperada, sem chão. Tinha desistido da ideia do meu sonho depois de tanto tempo.

Tive uma consulta com a minha médica anterior, a especialista em reprodução humana, que decidiu refazer a biópsia. Nessa reanálise, ela descobriu que meu útero tinha alta propensão para produzir pólipos, mas não havia células cancerígenas. Ela disse que ainda não era para eu desistir desse sonho.

Fizemos cirurgias e passei por um tratamento de seis meses e ela começou a pesquisar tudo o que podia para me ajudar. Quando terminamos o tratamento, os pólipos tinham sumido e então comecei a enxergar uma oportunidade para a FIV [fertilização in vitro].

'Apareceu uma segunda criança'

Fui à clínica no início de 2023 com a certeza de que daria certo. Fizemos todo o processo e a médica me alertou: 'Não queremos gêmeos porque seria uma gravidez de risco'. Optamos por utilizar apenas um embrião.
Alana Oliveira

Depois de nove dias, veio o primeiro teste: positivo. Mas, logo depois, quando fiz o teste de sangue, deu negativo. Tinha passado pela experiência de um falso positivo e foi muito frustrante porque já tinha criado expectativa, não queria mais tentar.

Meu marido me apoiou e tentei outra vez, mas, quatro dias depois [da nova FIV], tive um novo desafio: caí e quebrei o pé. Não queria tomar medicação porque estava com medo de afetar minha gestação. Fiquei de repouso e, tempos depois, fiz um exame e lá estava ele: o meu bebê, todo bonitinho.

Com sete semanas de gravidez, fiz exames para ouvir o coração dele e foi a maior emoção. Na sala, a médica me questionou quantos embriões eu tinha transferido [para o útero]. Expliquei que foi apenas um e ela ficou rindo, porque apareceu uma segunda criança no meu útero.
Alana Oliveira

Deu para ouvir o coração dele também e foi a maior emoção da vida, o maior presente que eu poderia ganhar. Ficamos desacreditados e eu só sabia ficar em choque e olhando, muda, para a cara deles.

Bebês passaram 14 dias na UTI Imagem: Antonucci Fotografia/Arquivo pessoal

No começo, havia a suspeita de que o embrião tivesse se dividido e que eles fossem gêmeos idênticos. Mas, depois, vimos que eram duas placentas diferentes.

A gravidez inteira ficamos nos questionando e descobrimos que uma gestação havia sido por FIV e a outra, de forma natural. Não conseguimos saber quem veio primeiro.
Alana Oliveira

'Deu certo e estou muito feliz'

Minha gravidez foi tranquila. Houve um receio de que um dos gêmeos pudesse não se desenvolver, mas os dois acabaram evoluindo. Fiz acompanhamento durante todo o tempo e, por volta das 35 semanas, estava muito inchada e com pressão alta. Então, decidiram que era a hora do parto.

Alana e o marido agora curtem a casa cheia Imagem: Arquivo pessoal

Eles nasceram e ficaram na UTI. Não foi o que tinha planejado, mas sei que é algo que não se pode controlar. Foram 14 dias muito tensos e, quando pude trazê-los para casa, explodi de alegria.

Sempre tive muita fé para que eles nascessem e tinha a sensação de que isso aconteceria, só não sabia quando. Vi histórias de pessoas que tentavam 10 vezes até conseguir e percebi que não poderia desistir na primeira. Gosto de contar a minha história porque, se uma pessoa está precisando de um sinal para continuar, que ela veja isso.
Alana Oliveira

Agora estou vivendo uma rotina agitada, mas tem sido incrível. Eu e meu marido rimos muito com nossos filhos e estamos curtindo. Esperei 9 anos, mas deu certo e estou muito feliz."

Superfetação

A médica que atendeu Alana suspeita que o caso dela seja um episódio raro de "superfetação". É quando ocorre uma segunda fecundação quando a mulher já está grávida.

Uma hipótese é que Alana tenha ovulado no momento do preparo do corpo para receber o embrião que já havia sido gerado em laboratório. "Foi nessa transferência de embrião com ciclo natural modificado [um procedimento preparatório para receber o embrião] que ela ovulou, teve relação, engravidou e eu coloquei quase que ao mesmo tempo o embrião de laboratório", diz a ginecologista e especialista em reprodução humana Eleonora Leão Torres, que atendeu Alana.

É necessário uma análise genética para comprovar, mas a hipótese que temos é que ela engravidou desse ciclo natural depois de uma FIV que tinha dado certo.
Eleonora Leão Torres, ginecologista

Não há possibilidade de o primeiro embrião ter se dividido, segundo a especialista. Um dos fatos que sustentam a tese de que Alana é um caso de "superfetação" é que os bebês não são gêmeos idênticos. A ginecologista diz que foi transferido apenas um embrião para o útero de Alana e, caso ele se dividisse, estariam em uma mesma placenta —o que não foi o caso.

A tendência hoje na FIV é justamente evitar gêmeos por ser uma gravidez de alto risco. Portanto, com a FIV, transferimos apenas um embrião. E foi o que fiz. Ele não se dividiu porque, se fosse o caso, aconteceria uma gestação de gêmeos idênticos. E eles não são idênticos.
Eleonora Leão Torres, ginecologista

Ainda faltam estudos sobre "superfetação". A especialista afirma que há poucos casos registrados na medicina sobre "superfetação" e que é necessário mais pesquisas para compreender o fenômeno, que é raro.

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