Ela engravidou de gêmeos, mas cada um de uma forma: 'Fiquei em choque'

Alana Alves Freitas de Oliveira, 34, esperou 9 anos para finalmente realizar o sonho de ser mãe. E a gestação veio de uma maneira inusitada: além de um embrião por fertilização in vitro, ela também gestou, ao mesmo tempo, outro bebê, fecundado naturalmente.

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A notícia pegou Alana de surpresa. E, perto das 35 semanas de gravidez, José e Theodoro nasceram, em junho deste ano. Hoje, de sonho realizado, a moradora de Cabo Frio (RJ) conta a Universa sua história.

'Gravidez não acontecia'

"Me casei aos 19 anos, em 2009 e, no ano seguinte, tive uma gravidez ectópica [quando o óvulo se implanta em local anormal], que não evoluiu. Em 2014, a gente decidiu tentar engravidar, mas passou bastante tempo e não acontecia. Até que, em meados de 2020, comecei a investigar.

Já sabia que tinha síndrome do ovário policístico desde a adolescência, mas tinha optado por não tomar nenhum anticoncepcional. Tinha muitos problemas de ciclo menstrual, cólica, e sabia que poderia demorar a engravidar, mas não tanto.

Em uma consulta com uma médica de reprodução humana, ela me pediu vários exames que nunca tinha feito na vida e descobri que tinha três pólipos no útero, além das trompas enoveladas.
Alana Oliveira

Isso tudo dificultava a gestação, que já era difícil. Então, fiz uma cirurgia para tirar os pólipos e fiquei torcendo para que, depois disso, conseguisse engravidar, mas não aconteceu.

A médica responsável pela cirurgia, que não era a mesma que me acompanhava, fez a biópsia de um desses pólipos e descobriu que ele poderia ser cancerígeno. Isso foi um choque.

Além disso, essa mesma médica também me desmotivou e tratou o meu sonho de ser mãe como algo banal. Disse que, se eu fosse a paciente dela, recomendaria a retirada do útero. Saí de lá desesperada, sem chão. Tinha desistido da ideia do meu sonho depois de tanto tempo.

Tive uma consulta com a minha médica anterior, a especialista em reprodução humana, que decidiu refazer a biópsia. Nessa reanálise, ela descobriu que meu útero tinha alta propensão para produzir pólipos, mas não havia células cancerígenas. Ela disse que ainda não era para eu desistir desse sonho.

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Fizemos cirurgias e passei por um tratamento de seis meses e ela começou a pesquisar tudo o que podia para me ajudar. Quando terminamos o tratamento, os pólipos tinham sumido e então comecei a enxergar uma oportunidade para a FIV [fertilização in vitro].

'Apareceu uma segunda criança'

Fui à clínica no início de 2023 com a certeza de que daria certo. Fizemos todo o processo e a médica me alertou: 'Não queremos gêmeos porque seria uma gravidez de risco'. Optamos por utilizar apenas um embrião.
Alana Oliveira

Depois de nove dias, veio o primeiro teste: positivo. Mas, logo depois, quando fiz o teste de sangue, deu negativo. Tinha passado pela experiência de um falso positivo e foi muito frustrante porque já tinha criado expectativa, não queria mais tentar.

Meu marido me apoiou e tentei outra vez, mas, quatro dias depois [da nova FIV], tive um novo desafio: caí e quebrei o pé. Não queria tomar medicação porque estava com medo de afetar minha gestação. Fiquei de repouso e, tempos depois, fiz um exame e lá estava ele: o meu bebê, todo bonitinho.

Com sete semanas de gravidez, fiz exames para ouvir o coração dele e foi a maior emoção. Na sala, a médica me questionou quantos embriões eu tinha transferido [para o útero]. Expliquei que foi apenas um e ela ficou rindo, porque apareceu uma segunda criança no meu útero.
Alana Oliveira

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Deu para ouvir o coração dele também e foi a maior emoção da vida, o maior presente que eu poderia ganhar. Ficamos desacreditados e eu só sabia ficar em choque e olhando, muda, para a cara deles.

Bebês passaram 14 dias na UTI
Bebês passaram 14 dias na UTI Imagem: Antonucci Fotografia/Arquivo pessoal

No começo, havia a suspeita de que o embrião tivesse se dividido e que eles fossem gêmeos idênticos. Mas, depois, vimos que eram duas placentas diferentes.

A gravidez inteira ficamos nos questionando e descobrimos que uma gestação havia sido por FIV e a outra, de forma natural. Não conseguimos saber quem veio primeiro.
Alana Oliveira

'Deu certo e estou muito feliz'

Minha gravidez foi tranquila. Houve um receio de que um dos gêmeos pudesse não se desenvolver, mas os dois acabaram evoluindo. Fiz acompanhamento durante todo o tempo e, por volta das 35 semanas, estava muito inchada e com pressão alta. Então, decidiram que era a hora do parto.

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Alana e o marido agora curtem a casa cheia
Alana e o marido agora curtem a casa cheia Imagem: Arquivo pessoal

Eles nasceram e ficaram na UTI. Não foi o que tinha planejado, mas sei que é algo que não se pode controlar. Foram 14 dias muito tensos e, quando pude trazê-los para casa, explodi de alegria.

Sempre tive muita fé para que eles nascessem e tinha a sensação de que isso aconteceria, só não sabia quando. Vi histórias de pessoas que tentavam 10 vezes até conseguir e percebi que não poderia desistir na primeira. Gosto de contar a minha história porque, se uma pessoa está precisando de um sinal para continuar, que ela veja isso.
Alana Oliveira

Agora estou vivendo uma rotina agitada, mas tem sido incrível. Eu e meu marido rimos muito com nossos filhos e estamos curtindo. Esperei 9 anos, mas deu certo e estou muito feliz."

Superfetação

A médica que atendeu Alana suspeita que o caso dela seja um episódio raro de "superfetação". É quando ocorre uma segunda fecundação quando a mulher já está grávida.

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Uma hipótese é que Alana tenha ovulado no momento do preparo do corpo para receber o embrião que já havia sido gerado em laboratório. "Foi nessa transferência de embrião com ciclo natural modificado [um procedimento preparatório para receber o embrião] que ela ovulou, teve relação, engravidou e eu coloquei quase que ao mesmo tempo o embrião de laboratório", diz a ginecologista e especialista em reprodução humana Eleonora Leão Torres, que atendeu Alana.

É necessário uma análise genética para comprovar, mas a hipótese que temos é que ela engravidou desse ciclo natural depois de uma FIV que tinha dado certo.
Eleonora Leão Torres, ginecologista

Não há possibilidade de o primeiro embrião ter se dividido, segundo a especialista. Um dos fatos que sustentam a tese de que Alana é um caso de "superfetação" é que os bebês não são gêmeos idênticos. A ginecologista diz que foi transferido apenas um embrião para o útero de Alana e, caso ele se dividisse, estariam em uma mesma placenta —o que não foi o caso.

A tendência hoje na FIV é justamente evitar gêmeos por ser uma gravidez de alto risco. Portanto, com a FIV, transferimos apenas um embrião. E foi o que fiz. Ele não se dividiu porque, se fosse o caso, aconteceria uma gestação de gêmeos idênticos. E eles não são idênticos.
Eleonora Leão Torres, ginecologista

Ainda faltam estudos sobre "superfetação". A especialista afirma que há poucos casos registrados na medicina sobre "superfetação" e que é necessário mais pesquisas para compreender o fenômeno, que é raro.

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