Beleza copia e cola: como as redes sociais estão deixando todo mundo igual

"As pessoas estão muito parecidas. Parece que todo mundo é primo ou que tem o mesmo pai e mesma mãe." A fala é de Juliette, ex-BBB, durante participação no programa "Sem Censura!" da TV Brasil. A impressão dela não está errada. Estamos cada vez mais iguais.

Com a popularização da harmonização facial e preenchimentos dos mais variados tipos, os semblantes ficam cada vez mais parecidos: rosto com maxilar marcado, lábios carnudos, bochechas acentuadas. Criou-se um novo padrão de beleza.

E não tem como evitar: as redes sociais são as grandes responsáveis por isso. "O impacto delas em como as mulheres se comportam em relação à estética é muito grande. Somos constantemente expostas a imagens filtradas, de aparência perfeitas. Mas isso não reflete a vida real", diz a psicóloga Tatiane Mosso, especialista em fenomenologia existencial pela PUC-SP e pelo IFEN-RJ (Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do Rio de Janeiro).

Anitta
Anitta Imagem: Roberto Filho / Brazil News

Segundo ela, como vemos uma versão com curadoria da realidade a sociedade internaliza a ideia proposta do que é "bonito" e passa a usá-la como referência. E com o advento dos filtros, ninguém nunca mais teve pele marcada, manchas ou acnes —pelo menos, não nos vídeos online.

Muitas mulheres acreditam que para serem consideradas bonitas e valorizadas precisam se adequar a esse padrão, o que cria uma relação bem complicada com a autoestima. A gente não pode depender de validação externa para ser feliz. Tatiane Mosso, psicóloga

Para o sociólogo Gabriel Rossi, professor e pesquisador de comunicação e consumo da ESPM, os padrões são cíclicos, mas a influência sempre teve uma mesma fonte: a mídia.

Bianca Andrade
Bianca Andrade Imagem: Lucas Ramos / Brazil News
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"Até os anos 1990, por exemplo, a novela tinha um papel determinante na definições desses padrões de beleza. A TV ainda tem essa importância, a diferença é que as redes sociais criam diferentes padrões para diferentes grupos de pessoas", diz.

Para ele, a demografia e fatores culturais impactam essa escolha por um ideal. "Pode estar relacionado a classe social, ao círculo em que ela vive, a mídia que ela consome. Tudo isso tem grande influência", diz.

Mulheres sofrem mais

Kim Kardashian
Kim Kardashian Imagem: Gotham/GC Images

A homogeneidade estética influencia muito na maneira como as mulheres lidam com suas próprias identidades. Maiores vítimas das pressões sociais, buscar a aparência perfeita pode, muitas vezes, servir como uma máscara para disfarçar outros problemas.

É como se ser igual a todo mundo trouxesse segurança, mas temos que respeitar nossas características únicas. Com tantas mudanças, tem gente que nem se lembra mais qual é a sua 'cara original'. Esses pequenos ajustes vão se tornando parte da gente. Tatiane Mosso, psicóloga

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Luisa Sonza
Luisa Sonza Imagem: Van Campos/AgNews

A especialista reforça: a comparação pode ser boa, contanto que não nos deixemos levar por padrões inalcançáveis. "Às vezes, ela pode servir para inspiração e ser saudável. Mas tentar ser igual aos outros o tempo todo é prejudicial", diz.

E finaliza com uma dica: pense o motivo pelo qual você decidiu fazer mudanças. "Saia do automático e se questione: 'é por mim ou para atender o que os outros esperam de mim?'", conclui.

Como escolher

Se você quer mesmo fazer algum procedimento estético é preciso prestar atenção na hora de escolher um profissional. O cirurgião plástico Alexandre Kataoka, coordenador da Câmara Técnica do CRM -SP (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) e perito do Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo, alerta: não se deslumbre com redes sociais.

"O paciente deve escolher seu médico após muita pesquisa. E, se possível, conhecer pacientes reais desse profissional. Nunca somente por fotos ou publicações de redes sociais. Isso é furada", diz.

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