Atriz que vive Zinha de Renascer: 'Falar da minha sexualidade é libertador'
Mariana Gonzalez Régio
Colaboração para Universa
07/09/2024 12h00
Samantha Jones está em sua terceira novela e em seu segundo papel no horário nobre na Globo; em "Renascer", recebeu a missão de transformar em feminino um personagem que, na primeira versão da novela, há trinta anos, era masculino.
Zinho foi interpretado por Cosme dos Santos e, neste ano, se tornou Zinha, uma mulher do campo, produtora rural com fortes princípios ecológicos e amor à terra onde nasceu. Para a atriz de 26 anos, a mudança "abre caminhos":
Antes, Zinho era só mais um homem na lida. Agora, por ser uma mulher neste lugar tão masculino, a roça, há caminhos a serem abertos. E isso é importante porque a gente precisa ocupar todos os espaços, sobretudo os espaços majoritariamente masculinos, seja na novela, seja na vida real, fala.
As inspirações para viver Zinha surgiram especialmente durante a preparação para a novela, em fazendas de cacau em Ilhéus, no sul da Bahia, onde conheceu uma produtora rural enquanto aprendia sobre o cultivo de cacau.
"Era muito bonito ver a segurança dela, no meio dos outros trabalhadores, manejando a roça com o facão na mão, sabendo o que estava fazendo. E a Zinha tem muito disso: é uma trabalhadora da terra que, mesmo com tantas questões, está lá no meio dos homens, sem questionar muito esse papel, e não tem nada que diga que ela não está apta para fazer aquilo", lembra.
Sinto que estamos contando uma nova história sobre as mulheres.
"Me recuso a esconder minha sexualidade"
Samantha Jones e Zinha carregam outras características importantes de serem representadas no horário nobre: são mulheres pretas, com seu cabelo natural, crespo e cheio, e que se relacionam com mulheres.
Na novela, a personagem reprime sua sexualidade durante a maior parte da trama, mas vive um processo de descoberta, enquanto a intérprete, que é bissexual, namora há seis anos com a atriz Manu Morelli.
Falar sobre minha sexualidade sempre foi muito natural para mim. Não foi algo que precisei revelar. Na verdade, eu me recuso a esconder, porque essa é a minha vida. Eu respeito muito o tempo de quem não quer ou não pode falar sobre isso, mas, quanto mais a gente fala, mais a gente mostra que é muito natural, muito libertador, defende.
Para Samantha, é importante que existam cada vez mais personagens LGBTQIA+ na televisão aberta, mas especialmente personagens cujas histórias vão muito além da sexualidade, como é o caso de Zinha:
"Fico muito feliz de fazer uma personagem LGBTQIA+, sobretudo porque essa é apenas mais uma característica dela, não é a única e nem a mais importante. Ela é uma trabalhadora do campo, tem uma personalidade muito forte, é uma grande amiga, vive o luto pela perda do pai e o abandono da mãe, e também gosta de mulheres".
"Nunca imaginei que uma personagem LGBTQIA+, da roça, seria tão querida", celebra Samantha, que já está melancólica com a despedida da personagem.
O Brasil tem muita gente como eu, como a Zinha, e essas pessoas precisam se ver representadas na televisão, sobretudo se gostar. Para mim, isso é revolucionário.