'Me apaixonei de verdade por cantor do BTS e virou dependência emocional'
É possível se apaixonar de verdade por um ídolo?
Larissa Coelho, 22, estava com quase 17 anos quando percebeu que tinha sentimentos românticos reais por um dos integrantes da boy band coreana BTS.
"Era o começo da pandemia. Eu passava muito tempo fechada e sozinha no meu quarto. Foi quando comecei a olhar para V [nome artístico de Kim Tae-hyung, integrante da banda BTS] de uma maneira diferente", disse em entrevista a Universa.
Larissa já era parte do "army", nome das fãs de BTS, e tinha visto posicionamento em que os próprios cantores diziam que não era para as fãs pensarem neles de forma romântica. Não adiantou.
"Me apaixonei de verdade e virou dependência emocional", resumiu Larissa em um vídeo no TikTok, em que conta essa história.
Ela percebeu que esse amor estava maior do que deveria quando se aproximou de um jovem na vida real.
"Quando eu estava com esse menino, gostava dele. Mas a sensação que eu tinha era que estava tampando um buraco que pertencia ao V", disse.
'Amor platônico existe'
No TikTok, o vídeo de Larissa sobre o assunto passou de 55 mil visualizações. Nos comentários, diversas mulheres diziam que já sentiram o mesmo. A paixão pelos ídolos é mais comum do que se imagina.
É possível se apaixonar por um ídolo porque o ser humano é capaz de muitas coisas. E é também comum que isso se inicie na adolescência. Algumas mulheres seguem com esse amor até parte da vida adulta.
Ana Paula Zanoni, psicóloga e doutoranda pela UFPR em psicologia clínica
Esse sentimento é o famoso "amor platônico". "Sabemos que é uma realidade fantasiosa que começa com uma paixão, um sentimento muito forte e incontrolável." Ocorre o mesmo quando nos apaixonamos por algum colega da escola, por exemplo, sem nunca ter trocado duas palavras com a pessoa.
Esse tipo de paixão platônica é mais vista em meninas do que meninos.
"Elas são criadas para demonstrarem suas emoções de forma mais aberta. Sem contar que a mídia acaba direcionando os conteúdos sobre ídolos para as meninas adolescentes", explica Larissa Fonseca, psicofarmacologista pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUS-HC).
Mas, segundo a especialista, isso não quer dizer que os meninos não enfrentem a mesma situação. "Eles podem deixar mais guardado para si e não demonstram as desilusões."
No caso deles, a duração pode ser até um pouco maior e se refletir na maneira com que eles criam laços devido a esse sentimento reprimido.
Fonseca diz que quando nos apaixonamos, existe uma inibição do nosso córtex pré-frontal, o que faz com que diminua nossa capacidade de tomar decisões com clareza.
Por isso, temos dificuldade em frear nossos desejos e impulsos. É quase como se estivéssemos bêbados. Você fica cheio de motivação e vontade de mostrar esse amor.
Larissa Fonseca, psicofarmacologista
'Usei todos os tipos de comunicação'
Larissa Coelho fazia isso: ela escrevia cartas para o cantor e até pensou em se candidatar para estudar em uma universidade na Coreia.
Quando eles faziam live de madrugada, eu assistia a todas, independentemente se tivesse de acordar cedo no dia seguinte. Eu usei todos os tipos de comunicação que podia para falar com V. Comecei a estudar coreano para poder, um dia, conversar com ele. Larissa Coelho
Impactos na vida real
Para Zanoni, começar a fazer atividades prejudiciais para o seu dia a dia é um sinal de alerta de que algo precisa ser feito em relação a essa paixão.
"Contanto que ela não impeça outros relacionamentos e não se torne algo obsessivo, em que a pessoa tem dificuldade de trabalhar ou comer, não é grave. Mas temos de considerar todas as circunstâncias."
'Cortei pela raiz'
Larissa percebeu sozinha que aquele sentimento não fazia bem a ela. "Comecei a achar estranho meu comportamento, eu estava me afastando das pessoas, estava sem comer, tinha perdido 10 quilos. Chorava todos os dias, ficava triste quando via uma foto dele."
Ela, então, decidiu tomar uma atitude drástica: tirar tudo o que tinha de BTS de sua vida.
Cortei pela raiz. Não queria chegar a um nível tóxico de não conseguir namorar ninguém por isso. Me afastei completamente: arranquei os pôsteres do meu quarto, parei de escutar as músicas, tirei tudo o que eu tinha deles de vista.
Larissa Coelho
"Ela fez certo. O ideal é que a gente não se alimente de um conteúdo que seja fonte de desilusão. Seja uma pessoa famosa ou não. Se o sentimento não é correspondido, temos de deixar de ver, seguir e ter contato", diz Fonseca.
Para quem é pai de adolescentes e percebe esse comportamento entre os filhos, a especialista dá dicas. A primeira delas é calma. Não é necessário fazer um grande alarde —apenas se essa "paixonite" afetar a vida social dos filhos.
"Na maioria das vezes, esses amores fazem parte do desenvolvimento dos adolescentes, da construção da identidade. Mas se há sofrimento e reflexos no dia a dia, é importante a busca por um tratamento psicológico."
No caso de Larissa, passado esse momento de obsessão, ela voltou a acompanhar a banda depois de seis anos. "Só agora, aos 22 anos, voltei a escutar BTS com paz e tranquilidade."