Da feira pra pele: cosméticos que têm ervilha, uva e até tomate fazem bem?

Já parou para pensar no que tem nos cremes, perfumes e sabonetes que usa? Você pode estar lavando o cabelo ou cuidando da pele com extrato de batata doce, tomate ou restos de uva, por exemplo, sem nem saber. Os chamados 'skinfoods' estão dominando a indústria de cosméticos —e seu corpo agradece.

Em tradução livre, 'skinfood' é alimento para a pele. Logo, a ideia desses produtos é trazer mais benefícios do que uma simples limpeza e hidratação. Por isso, muitos deles contam com ativos de "comida" na fórmula. Tem mistura que leva amora, beterraba e até ervilha.

"Esses produtos estão em alta porque os consumidores percebem seus benefícios. Os alimentos usados como matéria-prima têm alto teor de vitaminas, minerais e antioxidantes, por exemplo", diz Michéle Abduch, diretora de marketing e inovação da Sinter, responsável pela marca de sabonetes e hidratantes Cloy.

"Temos um sérum hidratante corporal com extrato de amora, que faz com que ele seja rico em vitamina C. Além de deixar a pele mais macia, promove a renovação celular", diz Abduch.

Joyce Quenca é cofundadora e diretora de pesquisa e desenvolvimento da Biodiversité e levou sua vontade de ter comida nas fórmulas para o laboratório. Ela está concluindo seu doutorado na USP e o seu foco de estudo é sobre os benefícios de matérias-primas naturais nos cosméticos.

"Temos todos os testes de eficácia da base Plant Based Stick Foundation. Seu fator de proteção solar não está atrelado a nenhum tipo de filtro, e sim, ao que as plantas podem oferecer. E é um FPS 30 feito de forma natural", diz. A base tem semente de castanha do Pará e endocarpo de baru —que tem a maior fonte de vitamina E de forma natural já vista, segundo Quenca. E é 100% à base de planta.

"Fizemos testes em parceria com dermatologistas e cirurgiões plásticos. Recentemente ela foi lançada em uma feira especializada da indústria em Mônaco. É rica em ativos que vão atuar na prevenção do envelhecimento da pele", diz.

Ziel faz produtos a base de uva
Ziel faz produtos a base de uva Imagem: Divulgação

Para a marca de beleza gaucha Ziel, usar "comida" nas fórmulas vai além do benefício ao consumidor. É um estilo de vida. "Nossa raiz é o upcycling. Reaproveitamos os restos de alimentos da indústria alimentícia, como cascas e sementes, nos cosméticos", diz a farmacêutica Ana Lucia Koff, fundadora da marca, que é pós-graduada em engenharia cosmética e pesquisa clínica.

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Segundo ela, o benefício está nos nutrientes que esse descarte tem. "Todo o alimento provém de vegetais, frutas e plantas. São riquíssimos em uma série de moléculas fitoquímicas, desde antioxidantes, óleos, manteigas. Eles têm muita coisa boa para aproveitar", explica. A Ziel produz xampu, sabonetes, hidratantes e condicionadores em barra.

Para Gabriel Diniz, head de educação da Authentic Beauty Concept, antigamente os consumidores sentiriam-se um pouco desconfortáveis ao ouvir falar em produtos naturais. Mas agora eles fazem questão. "As pessoas buscam produtos naturais de origem sustentável, com embalagens recicláveis", diz. Na marca, ele destaca o Cool Glow Cleanser.

"A batata doce oferece emoliência para o cabelo, ajuda a fazer espuma e a pigmentar o xampu de forma natural. Não usamos pigmentos sintéticos na linha de desamarelamento de fios, por exemplo. O que ajuda na uniformização do cabelo sem deixá-lo cinzento", diz.

O consumidor pede

Perfumes O Boticário inspirados em legumes
Perfumes O Boticário inspirados em legumes Imagem: Divulgação

Recentemente, O Boticário fez uma grande campanha focada em levar os consumidores à feira. A ideia era mostrar que as barracas de legumes e frutas seriam inspiração para produtos. Daí nasceu desde creme de pêssego para o bumbum, parte da Linha Pessegura, a perfume de tomate e ervilha, da linha Privée Legumes. A ideia traz combinações, digamos, inusitadas.

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"O 'skinfood' é parte do nosso portfólio há muito tempo. Os alimentos mostram uma vastidão de ingredientes naturais que podem resultar em combinações inéditas, como as pensadas na linha Privée Legumes. E o consumidor gosta, esses produtos são alguns dos nossos sucessos de venda", diz Renata Gomide, vice-presidente de Consumer do Grupo Boticário.

A marca trabalha focada no que o público busca. "Sei que ainda há muito espaço para explorarmos esse território e vemos uma audiência cada vez mais sedenta por novidades que tragam ineditismo", diz.

Linha Choco Fun da Fenzza
Linha Choco Fun da Fenzza Imagem: Divulgação

Mariane Santana, responsável por desenvolvimento de produto da marca de maquiagem Fenzza, diz que as pesquisas da marca mostram que o consumidor tem afinidade com tudo que remete à sua memória olfativa e gustativa. Por isso, eles investem em frutas e chocolate como inspiração para os itens que produzem. "O cheiro ativa a questão sensorial e usamos ativos que trazem benefícios para a pele e lábios", explica.

Faz bem mesmo para a pele?

Segundo a dermatologista Betina Stefanello, coordenadora do setor de cosmiatria da SBD-RJ (Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio de Janeiro), skinfoods foram criadas a partir da premissa do "você é o que você come". "Se quisermos uma pele linda, temos que usar produtos que nos façam bem", explica.

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"A tendência do momento é anunciar que temos 'comida' dentro das fórmulas, mas isso sempre ocorreu. A indústria sempre usou óleo de frutas, vegetais, antioxidantes extraído de árvores", diz.

Yáscara Pinheiro Lages Pinto, dermatologista e chefe da Unidade de Especialidades Médicas do Hospital Universitário da UFPI (Universidade Federal do Piauí) concorda: "Cosméticos são produtos de uso externo, com muito apelo para agradar nossos sentidos. O ideal é que tenham mesmo uma boa quantidade de ativos naturais combinados com ingredientes necessários para preservar a qualidade do produto", diz.

Stefanello explica que o uso dessas matérias-primas comestíveis em produtos ajuda, sim. Principalmente, porque fazem com que nosso corpo consuma uma quantidade de antioxidantes que não conseguiríamos com a alimentação.

"Eles nos trazem benefícios que não conseguiríamos adquirir apenas comendo. Então quem 'come' é a sua pele. Como conseguiríamos tanto antioxidantes se os cremes não existissem?", afirma. Com fórmulas mais tecnológicas, a absorção desses ativos ficou mais fácil, por isso é importante que eles sejam também naturais.

"Quem usa cosméticos deve buscar produtos de boa qualidade, com poucos aditivos químicos (corantes, conservantes ou fragrâncias), pois são substâncias que podem provocar irritação, alergias, manchas e outras dermatites", completa Pinto.

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