Como suas escolhas no app de paquera estão piorando a desigualdade social
Colaboração para Universa
19/09/2024 05h30Atualizada em 19/09/2024 10h42
Aplicativos de paquera ajudaram a aumentar as desigualdades sociais nos EUA. A conclusão é de um estudo dos Federal Reserve Banks de Dallas, St. Louis e da Haverford College divulgado na quinta (12), que demonstrou os apps permitem que as pessoas escolham um parceiro com base em critérios como educação, etnia e dinheiro, por exemplo, o que exclui potenciais "matches" de classes sociais diferentes.
Ainda segundo a pesquisa, norte-americanos têm se casado cada vez mais com pessoas de perfil social parecido e este fator sozinho é responsável em 50% pelo aumento da desigualdade entre os lares do país entre 1980 e 2020. Os pesquisadores atribuem este desequilíbrio à influência dos apps, porque a percentagem de casados que se conheceu online em 1998 era de 2%; em 2008, já era de 20% e, em 2017, o número já alcançava 50%.
Elas olham mais para a idade e eles para a educação
Os pesquisadores foram capazes de demonstrar este processo com dados de uma pesquisa realizada pelo Departamento do Censo dos EUA (semelhante ao nosso IBGE) entre 2008 e 2021, anos em que os sites e aplicativos de relacionamento se tornaram predominantes no país. Na média, mulheres se tornaram mais seletivas ao escolher parceiros de acordo com a idade, enquanto homens escolhem mais e mais com base na educação do parceiro.
Ao comparar estes dados com informações sobre os casados entre 1960 e 1980, percebeu-se um padrão: quem namora procura, cada vez mais, pessoas que ganham o mesmo e tiveram as mesmas oportunidades de estudo. Muitos também ainda se casam com pessoas da mesma etnia, embora o critério racial tenha passado a pesar menos nas escolhas dos casais nos últimos anos.
No entanto, há diferença nos padrões de comportamento dos gêneros nos quesitos estudo e dinheiro: ao contrário do que acontecia entre as décadas de 1960 e 1980, mulheres tendem mesmo a procurar homens com a mesma educação, mas que ganham mais e possuem mais habilidades do que elas. Já os homens ainda selecionam parceiros com menos formação e menor salário porque querem alguém que assuma maior papel doméstico — apesar de a tendência estar em queda.
Parcerias "iguais" criam mundo desigual
Resumindo, quanto mais as pessoas procuram parceiros de mesmo perfil socioeconômico, mais elas criam desequilíbrios ao comparar um casal com outro. Apenas os iguais se atraem no mundo dos aplicativos.
Paulina Restrepo-Echavarría, consultora de políticas econômicas do banco de St. Louis e uma das co-autoras do estudo, explicou em um artigo que apresenta a pesquisa que a formação educacional (35%) e as habilidades (35%) de cada parceiro são os dois fatores que mais impactam a renda de uma casa — e contribuem, portanto, para a desigualdade entre lares. Em seguida, pesam o salário (15%) e a idade dos parceiros (15%).
O estudo ainda determinou que o uso de aplicativos de namoro causou um aumento de 3% no índice de desigualdade de renda do país.
Não está mais fácil conhecer alguém
Namorar também não ficou mais fácil, digamos, com o advento dos aplicativos.
Os pesquisadores compararam o que chamaram de "custo de pesquisa" — que envolve o investimento de tempo e dinheiro nos "dates" até achar o parceiro ideal — em 1960 com o atual. A conclusão é que este custo não diminuiu nos últimos 60 anos. "Apesar do progresso tecnológico e da promessa de uma compatibilidade mais fácil, as habilidades dos indivíduos de processar informações continua a mesma", observa Paulina.
Por isso, por mais que hoje seja muito mais rápido selecionar potenciais parceiros rolando o dedo na tela para a esquerda ou para a direita, o processo de realmente conhecer alguém e considerar uma relação continua o mesmo, esbarrando na consideração mental de critérios muito mais abstratos.