Carol Celico: 'Filho não salva casamento, mas une quando o casal está bem'
Carol Celico
Em depoimento a Luciana Bugni
03/10/2024 05h30
Não era meu plano engravidar naquele momento mas, como havia completado 35 anos, decidi congelar os óvulos para garantir que pudesse fazer isso mais tarde. Passei por todos os ciclos do processo de congelamento, mas, por conta dos hormônios, o período fértil ficou desregulado.
Acabei só percebendo que estava grávida de maneira natural depois de sete semanas. Tomei um susto enorme porque não achei que engravidaria tão facilmente aos 35 anos. Na época, e agora também, depois do nascimento do Rafael, eu estava trabalhando em um ritmo muito forte.
Passado o choque, achei que eu seria aquela mãe de terceira viagem tranquila, que sempre sabe que tudo vai dar certo. Mas faz tanto tempo que tive os dois primeiros filhos que é como se esse fosse o primogênito de novo.
Quando Luca e Isabella nasceram, eu estava em outro período de vida. Tinha mais disponibilidade de tempo, morava fora do Brasil, não trabalhava tanto assim. Claro que os primeiros três meses são muito difíceis, com cólica e outras questões da exterogestação, quando tudo é muito intenso.
Naquela época, eu não tinha tantas informações, não tinha grupo de amigas, não tinha Whatsapp. Fui a primeira a ter filhos e conversava apenas com o pediatra na consulta.
Hoje, abro o feed e é todo de sugestões de bebê: de como amamentar, o que a gente deve fazer... é bom se sentir acolhida, mas é tanta informação que às vezes até atrapalha e junto vem um pouco de estresse e cobrança.
Se não tem um senso crítico aguçado para saber que não deve dar ouvidos a tudo, para dosar bem o que escuta, pode acabar se perdendo.
Desde que Rafael nasceu, a maior dificuldade foi ficar por quase um mês com diagnóstico de candidíase mamária. Foi um mês de caos, visitando mastologista e pediatra e tomando três antibióticos diferentes. Eu detesto tomar remédios, e nada funcionava para combater a inflamação. Até hoje não sabemos o que causou o problema.
Como havia trocado as próteses pouco antes de engravidar, pode ter sido também essa a causa. Ouvi muita gente e isso ajudou a chegar em uma consultora de amamentação - a massagem que ela fez me livrou do problema.
No primeiro mês de vida do bebê, fiz livre-demanda: chorava, eu punha no peito. É uma delícia e resolve tudo para a criança, mas eu não conseguia tomar banho, comer... tirava do peito e ele chorava e acordava. Agora, ele mesmo fez um relógio de três horas. À noite, espaça mais as mamadas e fica dormindo de quatro a cinco horas.
Eu amo amamentar. Fico chateada de não conseguir ficar 100% focada nisso porque tenho que responder e-mail, por exemplo.
E, além disso, tenho dois filhos mais velhos também que demandam atenção.
Como Luca e Isabella tinham viagens marcadas quando Rafa nasceu, pude estar com ele e cuidar do trabalho e da casa de uma maneira mais tranquila. Os grandes não têm ciúme. Mas veem que estão perdendo um pouco do espaço e que eu não estou 100% à disposição para atendê-los a qualquer momento.
Para eles, eu afirmo que não estou perto agora, mas voltarei. É até normal ter um pouco de ciúme. Mas importante entender e respeitar. Como eles já tinham tido irmãs por parte de pai [o ex-jogador Kaká], já sabiam lidar com esse tipo de sentimento.
Depois do parto, eu achava que em 10 dias já ia voltar ao trabalho. A licença maternidade tem quatro meses, mas como eu me daria o luxo de ficar esse tempo todo fora? Deixei muita coisa encaminhada com medo de não render o suficiente nesse período. Tenho 50 funcionários. O filho que mais me dá trabalho é a empresa.
Preciso estar lá. Então, quando Rafael dorme, eu sento no computador e trabalho um pouco. Sei que isso vai prejudicar minhas horas de sono, mas tudo bem.
Preciso disso e faz bem para a minha mente. Toda vez que eu fazia coisas no trabalho, me sentia culpada, mas quero que meus filhos saibam que, quando eu trabalho, volto melhor para eles.
É assim que posso me entregar de verdade. Vou todos os dias até a NIINI e procuro voltar para amamentar em intervalos regulares. Também tiro o leite para deixar reservas para ele.
Foi desafiador criar o Luca aos 20 anos, morando fora do Brasil. Era difícil amamentar, saber se ia conseguir ou não. Com Isabella foi mais tranquilo, porque já estava preparada. No caso do Rafael, outro desafio: ajustar a rotina de trabalho.
São três maternidades completamente diferentes. Meus filhos perguntam quando vamos viajar com o Rafa e eu digo que vai demorar muito. Não quero nem pensar em colocar em um avião.
Se eu pudesse dar um conselho para as mães eu diria para não se culparam tanto. Sei o que fiz com meus filhos e a conexão que terei para sempre. Hoje tenho tranquilidade de saber com quem vou criar vínculo, que vou amá-los pra sempre e vai dar tudo certo.
É até mais gostoso e tranquilo do que foi quando era mais nova e não tão segura. Sei, por exemplo, que devo deixar meu marido fazer as coisas com o bebê para criar laços com ele. Antes eu queria fazer tudo.
Também tenho tentado manter minimamente a rotina de casal e fazer esse encontro acontecer no fim do dia. Atrasar mais o jantar, para podermos comer juntos. Tentar assistir um filme, mesmo que eu durma no meio. Filho não salva casamento, mas une o casal quando o casal está bem.
É assim que se aprende a ver as coisas boas do outro. Seu corpo muda, as roupas mudam, tudo parece estranho e mesmo assim ele encontra uma maneira de te admirar como mãe e como mulher. Admirar o outro ajuda a manter o casal conectado.