Vice de farmacêutica, ela superou câncer e caiu no samba: 'Repensei a vida'
Quando a engenheira química Renata Spallicci, 42, foi coroada rainha de bateria da escola paulistana Águia de Ouro, no início de agosto, sentiu passar em sua mente um verdadeiro desfile de campeã.
A paulistana relembrou desde o câncer que descobriu há menos de um ano até os comentários infelizes sobre conciliar sua imagem de fisiculturista com o cargo de vice-presidente da farmacêutica Apsen. A Universa, ela conta sua trajetória:
"Minha coroação como rainha de bateria foi um momento emocionante, carregado de significados profundos para mim. Aquela conquista era um reflexo de anos de dedicação e também de superação, como passar por um câncer.
Desde os cinco anos, eu já dançava e sou bailarina clássica de formação, e o Carnaval sempre foi uma paixão distante, algo que eu só conhecia pela televisão, sem imaginar que um dia faria parte disso. Para mim, era inacessível.
Tudo mudou quando me tornei atleta profissional de fisiculturismo. Eu cursava engenharia química, e com uma rotina intensa de estudos o único horário disponível para treinar era às 22h, na própria academia da faculdade. E foi assim que me apaixonei.
Chegava a acompanhar as competições de quem treinava lá, e decidi competir também. Na minha primeira experiência, conquistei o terceiro lugar, o que me levou a seguir carreira profissional, chegando a competir no Mundial em Londres, onde fiquei em quinto lugar.
Para essas competições, eu mandava fazer os biquínis em ateliês de Carnaval, e foi aí que surgiu a oportunidade de ser musa da bateria da Tatuapé. No ano seguinte, fui apresentada à Barroca da Zona Sul, onde atuei como rainha por três anos.
Mas no primeiro desfile pós-pandemia, comecei a sentir um cansaço extremo e, com a imunidade baixa, decidi cuidar da minha saúde, o que acabou levando à descoberta do câncer.
O diagnóstico veio de forma inesperada, mas com ele, também veio uma paz inexplicável. Como atleta, sempre tive uma saúde impecável, mas sentia que algo estava errado.
Pedi ao médico para fazer exames detalhados e, após uma colonoscopia e uma endoscopia, descobri o câncer no intestino. Passei 11 dias no hospital, entre biópsias e a cirurgia, onde removeram parte do meu intestino.
Embora fosse um choque, senti que havia um propósito maior nisso tudo. Pude repensar a vida, meditar, e ainda observei minhas relações se transformarem, inclusive vendo meus pais, que não se falavam há anos, se reconciliarem.
No ambiente corporativo, minha trajetória nem sempre foi compreendida e marcada por conquistas. Eu sabia que enfrentar o patriarcado seria desafiador, ainda mais sendo vice-presidente, sambista e ex-fisiculturista. Houve momentos de preconceito, e um episódio em particular me marcou.
Certa vez, saí de uma reunião e soube que alguém comentou: 'Fica difícil ver a pessoa se expondo nas redes sociais e depois estar aqui'. Felizmente, uma colega presente na sala me defendeu. Essas situações, mesmo sutis,
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Quero receberAo longo dos anos, me empenhei em criar um ambiente de trabalho mais inclusivo, implementando um programa de diversidade e promovendo debates que incentivassem os homens a participarem ativamente da causa. Hoje, temos 45% de mulheres na gestão, e uma equipe diversa, incluindo jovens neurodiversos e pessoas mais velhas, como uma propagandista de 68 anos.
No fim do dia, trata-se de oferecer oportunidades e, quando buscamos, encontramos as pessoas certas para transformar o mundo ao nosso redor."
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