A grávida come, o bebê sente: o que é preciso saber sobre microbiota

A microbiota intestinal - ou flora - tem ganhado destaque e não por acaso, os trilhões de microrganismos (incluindo bactérias) que colonizam o intestino são benéficos para a saúde durante toda a vida. O que poucos sabem é que, ao contrário da ideia de que ela passa a se formar no indivíduo a partir do parto, a microbiota que você tem aí hoje, no intestino, nasceu antes de você. E estamos aqui para debater se um dos fatores que influenciaram a formação dela foi a alimentação da sua mãe.

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Evidências científicas indicam que o ambiente intrauterino não é estéril como se supunha, mas que a transmissão materno-fetal de microorganismos ocorre já na gravidez, contribuindo ativamente para o desenvolvimento da microbiota do bebê, encontrada no couro cabeludo, na boca, nos pulmões, na pele e, principalmente, no intestino.

"Além da formação da microbiota, na gestação ocorrem processos fundamentais que influenciam a saúde e o desenvolvimento do feto, os quais podem ter impacto ao longo da vida", explica a nutricionista e pesquisadora Daniela Bicalho. O elo entre o nascimento da microbiota e a gestação reforça o que é defendido por especialistas - a importância da nutrição nos mil primeiros dias de vida, contando da concepção.

Consequências em gente grande

É essencial empoderar a gestante sobre o papel crucial que desempenha na saúde e no desenvolvimento do seu filho durante os primeiros mil dias de vida
É essencial empoderar a gestante sobre o papel crucial que desempenha na saúde e no desenvolvimento do seu filho durante os primeiros mil dias de vida Imagem: iStock

Parece algo que não vai afetar sua vida adulta? Pense bem. Há grandes chances de um simples desequilíbrio na sua microbiota intestinal estar ligado a problemas que você pode estar enfrentando agora, dos dermatológicos aos de ordem emocional.

"É essencial empoderar a gestante sobre o papel crucial que desempenha na saúde e no desenvolvimento do seu filho durante os primeiros mil dias de vida, fortalecendo sua confiança e habilidades para enfrentar os desafios que surgem ao longo da gestação e do período pós-natal", completa Daniela Bicalho, nutricionista e pesquisadora.

A nutricionista Elaine Pádua, esclarece alguns detalhes sobre a ingestão adequada de nutrientes durante as 40 semanas de gestação. Segundo ela, cada célula é totalmente dependente deles, em especial dos micronutrientes.

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Quanto mais a mãe consumir alimentos coloridos, vegetais, frutas, melhor será o desenvolvimento fetal. Sabemos que ela não só ajuda na formação da microbiota intestinal do bebê como também na definição do número de células de gordura dele. Se elas vão inchar lá na frente, isso irá depender do estilo de vida da criança, mas a gestante pode estar favorecendo a obesidade futura.Elaine Pádua, nutricionista

De onde o gosto vem

O paladar também é uma herança da gestação
O paladar também é uma herança da gestação Imagem: iStock

Mais uma herança da gestação? O paladar. Há teses que acreditam e mostram que as preferências alimentares da criança são precocemente influenciadas pela dieta materna, in utero, através do líquido amniótico. "As células gustativas são formadas na décima sétima semana e o líquido é inalado já no sexto mês de gestação. Sabores e aromas a que o feto foi exposto traduzem-se em efeitos de memória e familiaridade, importantes para a aceitação de alimentos mais tarde", esclarece Elaine.

"Pequenas mudanças positivas na alimentação e no estilo de vida podem ter um grande impacto na saúde e no bem-estar do bebê, e podem ajudar a aliviar a culpa e o estresse associados à maternidade. Ter uma rede de apoio é muito importante nessa fase", recomenda Daniela Bicalho. Está difícil por aí? Procure suporte e acolhimento - seja para ter refeições feitas por um familiar ou alguém para se encarregar do mercado.

O chamado 'intervalo de ouro' é esse momento da gestação tão poderoso para a formação do bebê. Se essa mãe se conscientizar sobre os danos de uma alimentação e estilo de vida inadequados para ela e para o bebê, vai perceber que seu papel é muito importante. Mas é preciso conversar sobre isso de uma forma leve, sem julgar, sem culpar e oferecer condições para que ela possa fazer melhores escolhas. Elaine Pádua, nutricionista especialista em nutrição gentil

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Intestino, o segundo cérebro

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Imagem: iStock

Um estudo científico de 2020, que monitorou gestantes e filhos até os 18 meses, confirmou que a gravidez molda a microbiota intestinal do bebê e trouxe exemplos.

No primeiro grupo analisado, com futuras mamães com dieta rica em fibra alimentar, ômega-3 e polifenois, foi observada maior presença de Ruminococcus, bactéria que produz butirato, biomarcador da saúde intestinal associado a propriedades anti-inflamatórias. No segundo grupo, com grávidas que ingeriam quantidade bem maior de carboidratos, proteína animal e ácidos graxos saturados, foi percebida maior presença de bactérias ligadas ao risco de complicações na gravidez - e seus filhos tinham mais risco de ficarem acima do peso nos primeiros 18 meses.

Portanto, engana-se quem pensa que as consequências são sentidas só lá na frente. Um desequilíbrio na microbiota do bebê pode favorecer as temidas cólicas e até afetar o desenvolvimento cerebral e motor, conforme mostrou um dos primeiros estudos sobre o tema, em 2017, da Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos.

Em 2021, uma nova pesquisa da Universidade Estadual de Michigan em parceria com a Universidade da Carolina do Norte, descobriu que o microbioma intestinal era diferente quando comparavam bebês com fortes respostas de medo e outros com reações mais leves. Vale dizer que a forma como alguém reage a uma situação no início da vida pode ser indicador de saúde mental futura.

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O intestino é considerado o nosso segundo cérebro. Entre os argumentos que defendem a tese está o fato de que o órgão possui seus próprios circuitos neurais e, embora funcione de maneira independente, comunica-se com o sistema nervoso central. Se qualquer uma das partes não está bem, a outra pode sim ser afetada.

Cuidar da microbiota infantil, desde o útero, é aumentar as chances de uma vida saudável em diferentes idades e aspectos. Para isso, não custa lembrar que a composição e o desenvolvimento dela podem ser influenciados por muitos fatores pré-natais: além da alimentação, entram no jogo tabagismo, uso excessivo de antibióticos e obesidade.

Com dois fatores estando diretamente relacionados ao que se come na gestação, fica evidente a importância de toda gestante entender sobre nutrientes como ferro, ácido fólico, cálcio, ômega-3, vitaminas, proteínas; garantindo a ingestão adequada em uma dieta balanceada ou, se necessário, suplementando sob orientação profissional. Em seguida, é interessante olhar para a via de parto.

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