Nas quadras depois dos 40, Carol Gattaz não para: 'sou movida a desafios'

Atleta de alto nível há 26 anos, Carol Gattaz, 43, foi para sua primeira Olimpíadas aos 40 e trocou de time aos 42, quando a maioria dos esportistas estariam pensando em aposentadoria. Mas ela também está cansada de falar de sua idade.

"Estou tentando quebrar esse paradigma. Os anos mudaram e a modernidade ajuda os atletas a superarem as barreiras dos nossos limites. A idade não tem o peso de antigamente. Mas nós, mulheres, sofremos com o etarismo e tendemos a perder espaço para atletas mais jovens por diversos motivos", diz.

Em parceria com O Boticário em campanha contra o etarismo, Carol deseja mostrar que mulheres mais velhas podem ter tanta vitalidade quanto às mais novas e, somado a anos de experiências, elas têm muito a acrescentar aos seus times.

UNIVERSA: Você sente que precisa se provar o tempo todo?
Carol Gattaz:
Depois que passamos de uma certa idade as pessoas ficam curiosas para saber até quando vamos conseguir permanecer no topo.

Muita gente me pergunta quando vou me aposentar. Eu sei que o esporte tem uma carreira curta, que o corpo muda e não é mais o mesmo. Mas amo o que faço e ainda estou produzindo para alguns times, senão eles não me contratariam. Enquanto eu adicionar as equipes e receber propostas, vou continuar jogando.

Claro, também tenho que pensar no meu bem-estar, se estou bem, se tenho dores. Atletas precisam fazer sacrifícios e cuidar do corpo, temos que abdicar de muitas coisas. Cabe a nós, indiferente da idade, saber como e quando vamos parar.

Você acha que homens atletas são tão cobrados quanto mulheres atletas nessa questão da idade?
Acho que sim. O Cristiano Ronaldo, por exemplo, recebeu muitas cobranças na Copa do Mundo. Disseram que ele estava velho, que tinham jogadores melhores, que deviam ter convocado alguém mais jovem? Ele é simplesmente o melhor do mundo. Está ali porque ama, não porque precisa. CR7 já jogou tudo, não tem que provar nada para ninguém.

Você acha que ele quer passar vergonha? Pelo contrário, acho que se ele está ali, com a idade que tem, é porque sente que tem algo a acrescentar para a equipe. E mesmo assim é criticado. Por isso acredito que, no esporte, o etarismo existe para homens e mulheres.

Você completou 40 anos durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, sua primeira convocação. Acredita que conseguiu aproveitar mais essa experiência como veterana do que conseguiria como iniciante?
Com certeza. Com essa idade eu já estava muito mais experiente e sabia o que eu estava fazendo. Era titular da equipe e fiz parte do processo. Por mais que eu não tivesse ido para as Olimpíadas em outros anos, participei de muitos campeonatos com a seleção, só não tinha chegado aos Jogos. Claro que é importante, mas eu já tinha vivido muitos momentos marcantes com a canarinho.

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Acredito que aproveitei muito, não que mais nova isso seria diferente. Mas acho que foi de um jeito diferente, que a maturidade me trouxe.

Carol Gattaz posa com a medalha de prata conquistada pelo vôlei feminino
Carol Gattaz posa com a medalha de prata conquistada pelo vôlei feminino Imagem: Gaspar Nóbrega/COB

Você diz que não pensa em parar. Nem mesmo a lesão [Carol rompeu ligamento cruzado anterior do joelho direito em 2023] fez você pensar em diminuir o ritmo?
Engraçado, mas não. Tinha acabado de conquistar a medalha de prata nos Jogos de Tóquio e no mundial. Não precisava provar mais nada para ninguém, mas ao mesmo tempo, eu tinha um objetivo: estar em quadra em Paris. Antes da lesão, era uma possibilidade real. Eu estava na equipe e sabia que era importante naquele momento. Quando soube da gravidade, fiquei mal. Sabia que ia ser difícil estar nos Jogos Olímpicos. Não consegui e não foi por falta de tentar.

Não paro porque tenho sempre objetivos em minha mente. O meu atual é ganhar títulos com o Praia Clube.

Você estava em Paris a convite do COB. Foi difícil ver os jogos fora da quadra?
Fiquei muito angustiada. Dava vontade de entrar no jogo. Ainda mais porque na minha vez não tinha público e a energia estava muito alta em Paris com a galera. Antes de mais nada, entendi porque não estava jogando. Estar fora também foi uma experiência incrível.

Você fala muito de objetivos, Carol. São eles que te motivam?
Sim. Acho muito vago você caminhar sem saber onde quer chegar. Então sempre tenho foco no que quero conquistar. Toda vez que começo um projeto me pergunto onde eu quero chegar.

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Minha vida, claro, sempre foi o vôlei, então traço objetivos sobre como quero terminar essa temporada. Quais são as conquistas? Como vai estar meu corpo? Somos movidos a desafios e isso nos dá direção.

Nessa longa trajetória, tem algo que você se arrependa de ter feito ou não?
Teve uma época da minha carreira, quando tinha entre 28 e 29 anos, que perdi um pouco o foco. Ao mesmo tempo, ganhei muitos amigos, então não posso só reclamar. Fiquei três anos jogando no Rio de Janeiro e, no primeiro ano, me perdi. A cidade era maravilhosa, com baladas, festas, bares, praias, gente bonita?

Eu estava na seleção, mas desviei um pouco o foco. Dos três anos que fiquei lá, ganhamos 2 campeonatos. Não estava jogando mal, mas como atleta, minha performance poderia ter sido melhor.

Me arrependo da minha falta de foco. Talvez, eu poderia ter sido convocada para as Olimpíadas de Londres, em 2012. Mas como disse, ganhei amigos. A gente perde uma coisa e ganha outra. Infelizmente não podemos ter tudo. Com a cabeça de hoje, faria diferente.

Eu sei que você não quer e não vai parar de jogar tão cedo. Mas tem um plano B para quando estiver longe do vôlei?
Já me perguntaram muito o que eu faria se não fosse jogadora. Se tivesse talento, gostaria de ser cantora. Acho um máximo, amo a Marília Mendonça. Queria cantar como ela, mas obviamente não consigo. Tenho um plano B, sim. Depois de parar quero continuar na comunicação. Gosto muito de TV e redes sociais. Talvez eu trabalhe na gestão de alguma confederação internacional, algo que também gosto muito.

Só sei que quero ter sempre o esporte por perto.

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