Terapias na gestação: escolha a melhor forma de se afastar da ansiedade
Beatriz Zogaib
18/10/2024 05h30
O momento da gestação é único na vida da mulher e traz diversas mudanças, dúvidas e descobertas que mexem com o psicológico - é claro. Com tal acúmulo mental, a terapia se faz uma ótima escolha para quem consegue ter esse tempo e dinheiro para deitar no divã e acalmar as ansiedades.
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Fazer terapia ajuda a gestante a compreender as transformações e a "desromantizar" a maternidade com suporte emocional. Acha que não é desnecessário? Repense. Universa revelou que 54,2% das mulheres dizem que se sentem ou se sentiram ansiosas na gestação, a maioria diariamente.
E a ansiedade não tratada pode levar a crises ou a quadros de depressão. "Transtornos de ansiedade devem ser tratados durante a gestação porque há uma chance muito grande dessa gestante sofrer demais no puerpério, período de maior desafio para a saúde mental,", explica a ginecologista obstetra Ana Paula Junqueira. Aderir a uma boa terapia antes dessa panela de pressão estourar é o ideal, até mesmo para compreender se é preciso mais suporte, como o de um psiquiatra.
Sintomas depressivos ou de ansiedade são comuns na gravidez, a grande questão é a persistência deles e o quanto eles nos incapacitam.Maria Silvia Logatti, psicóloga existencial e filósofa
Hoje em dia, já se fala até sobre o pré-natal terapêutico/psicológico, que é o acompanhamento da gestante por um psicólogo, psiquiatra ou psicanalista, da mesma forma que se faz com acompanhamento de um obstetra.
Se você ainda não faz nenhum tipo de terapia e sente que a pressão está aumentando, é mais do que chegada a hora de marcar uma consulta. Se atente aos sintomas como tristeza, perda de interesse em coisas que gosta, alteração no sono, cansaço, perda de energia, culpa, medo excessivo.
Como saber qual o tipo de terapia ideal?
A melhor forma é entender sobre as estratégias terapêuticas, buscando a que te deixar mais confortável, e experimentar. Listamos algumas para você conhecer, mas lembre que a escolha é um processo pessoal, tanto do formato da terapia quanto do psicólogo, que também tem que ser alguém com quem você se sinta confortável para se abrir.
- Terapia psicanalítica: do famoso Freud, aqui você provavelmente vai se deparar com o tal divã. A sua fala é o centro do processo e o psicanalista não te diz o que fazer ou como agir, mas faz questionamentos que ajudam a refletir e explorar seus problemas desde a raiz;
- Terapia junguiana: desenvolvida por Carl G. Jung, você responde a perguntas sobre sonhos, e seu inconsciente é uma das principais fontes de análise, que pode incluir técnicas relacionadas à arte;
- Terapia lacaniana: com base nos conhecimentos do psicanalista francês Jacques Lacan, tem métodos para a análise das manifestações do inconsciente;
- Terapia cognitivo comportamental (TCC): ajuda a analisar pensamentos (em especial os automáticos e intrusivos), além de sentimentos e comportamentos - sendo uma técnica com sessões bem estruturadas para tratar de um problema;
- Gestalt terapia: abordagem que propõe a clareza sobre o que a incomoda e, dessa maneira, a realização de mudanças que lhe façam bem.
Sessões cara a cara com psicólogo, psicanalista ou terapeuta não são exatamente sua praia? Você pode aderir a sessões de casal (com o par) ou em grupo - que trazem outra dinâmica. Ou pode buscar terapias que fujam do convencional. É importante apenas entender que elas - apesar de terem benefícios reconhecidos em estudos e por organizações de saúde - não excluem o acompanhamento com psicólogo (treinado para tratar diferentes transtornos) ou psiquiatra (o único que pode prescrever medicações).
Não é psicoterapia, mas é terapêutico
Além de cuidar da cabeça, existem outras terapias que podem beneficiar o bem-estar da grávida durante a jornada de 42ª semanas. É importante entender as diferentes possibilidades terapêuticas e garantir atendimento com um profissionais competentes e habilitados.
Terapia significa tratamento para uma determinada condição - mas não só. Psicólogos e outros especialistas têm desmistificado essa ideia, mostrando que ela é bem-vinda quando está tudo bem (e você vai entender melhor logo abaixo). Há diferentes ganhos, em diferentes cenários, através de diferentes práticas - que podem ir do mindfulness à yoga.
Veja algumas outras opções terapêuticas e o que elas podem fazer por você:
- Sofrologia: desenvolvida pelo médico e pesquisador colombiano Lozano Alfonso Caycedo, estimula a sintonia entre corpo, mente e espírito. Pode ser usada no acompanhamento de transtornos psíquicos, em conjunto ao acompanhamento psicológico ou psiquiátrico (nunca substituindo esses tratamentos), ou para quem deseja auxílio terapêutico voltado para o corpo e o relaxamento. Não é uma terapia "alternativa" ou "esotérica", mas a soma de protocolos terapêuticos que visam ajudar a lidar melhor com as emoções, com o próprio corpo, e com as mudanças que ocorrem na vida - através de técnicas de respiração, relaxamento profundo e visualizações. Na gravidez pode ser usada no acompanhamento de sintomas como ansiedade, medos e angústias. E também como uma preparação para o parto natural;
- Yoga: por mais que a gente costume pensar que se trata de uma atividade física, os benefícios da prática vão além da saúde do corpo, contribuindo também para a saúde mental. Tanto que a ONU (Organização das Nações Unidas) criou o dia internacional do yoga (21 de junho), para incentivar a inclusão de atividade física na vida de mais pessoas. A yoga é uma prática mente-corpo que atua como importante terapia para a maior parte das pessoas, incluindo gestantes: ajuda a melhorar a capacidade de autopercepção, a flexibilidade (física e emocional), o autocuidado corporal? Só esteja atenta para realizar a prática junto a um professor habilitado e especializado em gestantes, pois há posturas que não são adequadas para esse período da sua vida;
- Experiência Somática: o método (com nome original de Somatic Experience), desenvolvido pelo psicólogo e biofísico norte-americano Dr. Peter A. Levine, atua na conscientização das sensações corporais relacionadas às situações traumáticas. A ideia é que a consciência sobre os efeitos de traumas no seu corpo permita que você "renegocie" os sintomas - melhorando sua resiliência, seu equilíbrio emocional e sua vitalidade. Parece um bom plano para gerar uma nova vida de forma mais saudável emocionalmente, não é? No Brasil, a Associação Brasileira de Trauma é a única licenciada a oferecer a formação dentro dessa metodologia, então é essencial buscar profissionais que tenham essa certificação. O interessante é que os mais diversos - como terapeutas, fisioterapeutas, professores de Yoga ou Pilates - podem trabalhar com a Experiência Somática, incluindo-a no trabalho que já realiza;
- Mindfulness: prática de meditação que pode aliviar quadros de ansiedade ou pensamento acelerado. Você pode praticar com auxílio de um terapeuta especialista nessa técnica (psicólogos, instrutores de Yoga, terapeutas integrativos?) ou até mesmo sozinha, com ajuda de aplicativos que ofereçam meditação guiada e semi-guiada. Se escolher tentar sozinha, reserve um tempo para se habituar ao Mindfulness - que é nada mais do que a união de dois termos em inglês: mind (mente) e fullness (de full, que significa cheio, completo) - ou seja, é a prática da atenção plena, da presença total da mente no que estamos fazendo;
- Acupuntura: técnica milenar chinesa na qual agulhas estimulam pontos específicos do corpo, tratando dores, doenças físicas e emocionais, desconfortos como enjoo, ou ainda ajudar a estimular o trabalho de parto ou a mudança de posição de bebês pélvicos. Algumas pesquisas têm revelado os benefícios da técnica para o tratamento da depressão em gestantes, com melhora significativa dos sintomas na aplicação das agulhas com foco no problema (mais uma vez, não se exclui acompanhamento psicológico e psiquiátrico). É importante ser atendida por um acupunturista especializado em gestantes;
- Reiki: a palavra que significa "energia universal" dá nome a essa terapia de origem japonesa, que busca equilibrar as energias, promovendo o reequilíbrio físico e emocional. Ela é feita com a imposição leve ou a proximidade das mãos do terapeuta sobre o corpo do paciente, redirecionando o fluxo de energia e, na gestação, pode acalmar, aliviar desconfortos e dores. Boa sugestão para complementar sua rotina terapêutica, lidar com questões emocionais mais amenas ou ajudar em períodos de pouca energia física.
Teste as alternativas e sinta o que faz melhor para você e seu bebê.