Autora dá dicas de criação que você gostaria que seus pais tivessem seguido

A escritora best-seller Philippa Perry não tem medo de falar o que pensa, afinal, foram anos de estudo e mais de 1,5 milhão de cópias vendidas. Pela primeira vez no Brasil para uma série de palestras sobre parentalidade, saúde mental e relacionamentos, a britânica - que também é mãe - dá dicas sobre a vida com filhos, em entrevista exclusiva para Materna.

Newsletter

Materna

Conteúdo personalizado com tudo que importa durante a gravidez. Informe seu e-mail e tempo de gestação para receber a newsletter semanal.

Tempo de gestação
Selecione

Ao assinar qualquer newsletter você concorda com nossa Política de Privacidade.

Conheça os conteúdos exclusivos de Materna com acesso ilimitado.

Sua obra de maior sucesso 'O livro que você gostaria que seus pais tivessem lido' nos prende e, já que não dá mais para nossos pais lerem, é normal sentir que é a nossa vez de ler: o peso da responsabilidade e a vontade de não errar está nas nossas mãos. Mas Philippa já começa a colocar as ideias no lugar.

Nós podemos assumir nossos erros e que não sabemos tudo. Seria ótimo se estivéssemos 100% certos sobre tudo o tempo todo, mas não estamos... Philippa Perry, psicoterapeuta especialista em parentalidade e saúde mental

A autora, que escreveu sobre a importância da autocompaixão, explica como praticá-la ao lidar com as responsabilidades esmagadoras de quando se tem filhos. O raciocínio é que é preciso abandonar o ideal de 'pai/mãe perfeito', encarando a parentalidade como um relacionamento de longo prazo, não como uma série de ações impecáveis.

Quando cometer um erro, em vez de dizer 'sou um péssimo pai/mãe', diga: 'Estou fazendo o meu melhor e tive um momento difícil'. Peça desculpas se perdeu a paciência e siga em frente. É esse tipo de autocompaixão que ajuda você a se manter presente para seu filho sem ser sobrecarregado pela culpa.Philippa Perry, psicoterapeuta especialista em parentalidade e saúde mental

Para a autora, o segredo está no diálogo constante com os filhos, e em lembrar do que aconteceu quando éramos crianças. "Temos que pensar sobre quando dizíamos coisas aos nossos pais, nos fechávamos em seguida, e o que isso nos fez".

Abra o diálogo com as crianças

Se uma criança diz 'eu tenho medo disso' e os pais dizem qualquer coisa próxima de 'não seja boba' ou 'não precisa ter medo', o mais provável é que ela não se abra sobre o que sentiu - porque os pais a fecharam. Phillipa sugere que os pais estimulem a conversa e façam mais perguntas e comentários como: 'isso é complicado mesmo', 'o que você acha que poderia fazer?' ou 'que ideias tem para lidar com isso'?

Continua após a publicidade

Assim, permitimos que a criança sinta que pode contar com você para expressar seus sentimentos.

Se seu filho diz que tem monstros debaixo da cama, não olhe e diga que não há. Diga para ele contar sobre os monstros, quais são seus nomes, o que cada um faz? E você saberá mais sobre seu filho.Philippa Perry, psicoterapeuta especialista em parentalidade e saúde mental

Philippa confessa que essa dica mudou sua própria parentalidade. 'O monstro debaixo da cama era geralmente eu mesma, que estava em um humor ruim. Me reconheci quando meus filhos começaram a descrevê-lo. Então consegui dizer 'quando vocês dois estavam jogando coisas um no outro fiquei muito brava, e isso foi bem assustador para vocês, me desculpe por ter gritado', conta.

Encarando o que parece trivial como algo sério aumenta a confiança e faz com que a criança se sinta confortável para contar. Nosso instinto é dizer que está tudo bem, porque queremos os filhos felizes, mas se perguntamos mais e abrimos espaço para o diálogo, eles se sentem vistos e encontram soluções para as próprias questões.

O livro que nos ajuda a fazer diferente dos nossos pais
O livro que nos ajuda a fazer diferente dos nossos pais Imagem: Divulgação

'Você é o espaço seguro do seu filho. Parte disso é conter as emoções dele sem se deixar sobrecarregar. Quando as crianças sentem emoções intensas, em vez de julgar ou querer arrumar, podemos demonstrar curiosidade e aceitação. Não precisa concordar com o sentimento ou resolver a causa, basta dar espaço a ele. Assim, eles aprendem que as emoções não são algo a temer ou evitar; são simplesmente parte de ser humano", reforça. A melhor coisa a fazer para seu filho é atender aos seus pedidos de atenção.

Continua após a publicidade

'Nada é mais importante do que os relacionamentos'

1. No livro The Book You Wish Your Parents Had Read, você destaca a importância de entender as necessidades emocionais de nossos filhos. Qual você diria ser o erro mais comum que cometemos em relação à saúde mental das crianças?

Os pais muitas vezes priorizam que os filhos se comportem de uma maneira conveniente para eles, em vez de investir em uma relação verdadeiramente conectada. Meu conselho é mudar o foco de se preocupar com a saúde mental do seu filho em um sentido amplo e, em vez disso, cultivar o relacionamento com ele, estando genuinamente presente.

Por exemplo, quando você está frente a frente com seu bebê, percebe que ele participa de uma troca, ele espelha você, criando um ritmo. Esse ritmo é a base de como todas as relações funcionam: observar, responder, revezar. É biológico, inato, e é o que nos conecta. Se os pais puderem entrar nesse ritmo natural, entrando no mundo do filho em seu ritmo, acompanhando seus interesses e respeitando quando ele quer espaço, criarão um senso de pertencimento que constitui a verdadeira base da saúde mental.

2. Muitos pais lutam para equilibrar disciplina e conexão emocional. Como podem encontrar o equilíbrio certo entre estabelecer limites e mostrar empatia?

Limites são essenciais porque dão estrutura e segurança às crianças. Mas precisam vir acompanhados de empatia para serem eficazes. Ao estabelecer um limite, reconheça o sentimento da criança: "Eu sei que você quer continuar brincando e é difícil parar, mas precisamos sair agora para buscar seu irmão". Dessa forma, o limite se refere às necessidades do pai, e não a um julgamento sobre a criança. Defina limites expressando o que você precisa, em vez do que é "bom" para a criança.

Continua após a publicidade

E lembre-se, as crianças precisam de tempo para se ajustar, então avisá-las, como "vamos sair em cinco minutos", ajuda-as a se prepararem. Os limites se tornam uma fonte de conexão quando as crianças se sentem respeitadas no processo.

Philippa Perry tem evento no Brasil
Philippa Perry tem evento no Brasil Imagem: Divulgação

3. Qual é o papel da vulnerabilidade na criação dos filhos? Os pais podem ser vulneráveis demais com os filhos?

A vulnerabilidade tem seu lugar na criação, mas não ao ponto de fazer com que a criança se sinta responsável pelas necessidades emocionais do pai. A criança não está lá para cuidar de você. No entanto, reconhecer quando estamos errados ensina os filhos a confiarem em seus instintos, o que é vital para a segurança deles.

Se um pai nunca admite erros, a criança pode sentir que sua própria percepção é falha. Admitir que não sabemos todas as respostas cria um ambiente de honestidade e desenvolve o conforto deles com a vulnerabilidade. É bom ser humano com seus filhos, apenas lembre-se de que vulnerabilidade é diferente de dependência emocional.

4. Quais os motivos mais comuns pelos quais os casais lutam para manter a conexão emocional depois de terem filhos? E que conselho daria a eles?

Continua após a publicidade

A paternidade muda tudo: rotinas, prioridades, a forma como você vê seu parceiro e até a si mesmo. Muitos casais caem no hábito de supor que o parceiro "deveria saber" como eles se sentem. É crucial reservar um tempo para falar sobre mais do que apenas a logística e a criação dos filhos. Pequenos atos conscientes de conexão, mesmo uma rápida conversa ou risada compartilhada, podem manter o vínculo vivo.

Se vocês começaram com uma conexão forte, lembrem-se de que esse vínculo ainda está lá. Conversem abertamente sobre o que mudou. A criação de filhos pode ser física e emocionalmente exaustiva, e depois que os filhos passaram o dia todo agarrados a você, pode ser que você não se sinta pronto para a intimidade. Compartilhe isso de forma honesta para que seu parceiro entenda que não é uma rejeição a ele. Se você não está com disposição para o sexo, pense em outras formas de se conectar fisicamente, como um carinho ou simplesmente segurar as mãos. Mantenha o toque vivo.

5. Como mãe e pais podem cuidar de sua própria saúde mental enquanto também estão presentes e apoiam seus filhos?

No início da minha experiência como mãe, grupos locais foram inestimáveis: grupos pré-natais, encontros de mães e bebês, natação para bebês, grupos de brincadeiras à tarde. Hoje em dia, é mais difícil com tudo indo para o online, pois não há substituto para a interação presencial. Mesmo que você não consiga mais do que alguns momentos de conversa adulta, você está com outras pessoas na mesma fase de vida. Essas conexões apoiam sua saúde mental, modelam comunicação para seus filhos e criam uma pausa natural em seu dia.

6. Quais hábitos mais importantes para manter o bem-estar mental na vida familiar cotidiana, especialmente quando a vida parece caótica?

Pergunte-se: por que a vida parece caótica? Você está tentando controlar demais? Talvez a resposta seja deixar ir, abraçar o fluxo natural das coisas. Ter rotinas pode ser útil, mas não precisam ser rígidas. Deixe a vida acontecer sem se apegar à ideia de perfeição, e talvez você descubra que o caos se transforma em ritmo.

Continua após a publicidade

7. Ao longo de sua carreira como terapeuta e escritora, qual foi a mudança mais profunda que encontrou na forma como a sociedade vê a saúde mental e a paternidade?

Passamos a entender o valor da sintonia emocional na criação dos filhos. Hoje, os pais estão mais focados em entender o mundo emocional do filho e em apoiar o bem-estar mental dele. Mas eu aconselharia a não pensar demais nos rótulos de "bom pai/mãe" e "mau pai/mãe"; esses termos transformam a criação em uma performance. Em vez disso, a criação deve ser relacional, não uma lista de comportamentos ou "deveres".

8. Qual foi um dos insights mais surpreendentes que você teve ao escrever The Book You Wish Your Parents Had Read? Há algo que não incluiu?

Gostaria de ter incluído mais sobre o vício dos pais em telefones e o uso de telas como calmantes. Todos somos atraídos para nossas telas, e isso é natural porque elas são feitas para serem envolventes. Mas quando as crianças nos procuram por atenção, elas precisam de uma conexão real, não da nossa presença distraída. Não é que as telas sejam inerentemente prejudiciais; é que o tempo de tela frequentemente substitui momentos valiosos de brincadeira, conversa e aprendizado no mundo real. Até mesmo brincadeiras como "esconde-esconde" são essenciais porque ensinam presença e capacidade de resposta e constroem o senso de segurança da criança.

9. Se pudesse dar um conselho à sua versão mais jovem sobre saúde mental, relacionamentos e criação de filhos, qual seria?

Nada é mais importante do que os relacionamentos.

Continua após a publicidade

Para conhecer a autora:

A psicoterapeuta e especialista em saúde mental, Philippa Perry, ministrará "A palestra que você gostaria que seus pais tivessem assistido", acontece durante a 6ª edição do G.A.T.E. Academy - Global Access Through Education: maior evento de educação internacional do Brasil, resultado da parceria entre a The School of Life (referência global em educação e inteligência emocional), JK Iguatemi e STB (consultoria em educação internacional). Os ingressos para a palestra já estão à venda e podem ser adquiridos no site

Evento: G.A.T.E. ACADEMY

Data: 28/11, quinta-feira, 10h30, às 12h Local: Teatro Santander - Shopping JK Iguatemi - Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041, Itaim Bibi, São Paulo, SP

Antes, ela participa da 24ª edição do hsm+ - evento que impulsiona o networking entre executivos, CEOs e empreendedores, que acontece nos dias 26 e 27 de novembro, em São Paulo, no Transamérica Expo Center.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.