Como fazer bebê dormir? Após ajudar filho que chorava por 12h, mãe dá dicas
Beatriz Zogaib
25/11/2024 05h30
Como fazer o bebê dormir? Essa é uma das maiores buscas de mães na internet, de acordo com o Google Trends. Assim como outras relacionadas: "sono do bebê", "como fazer o bebê dormir a noite toda" ou "autonomia do sono do bebê". Talita Amaral conhece essa dor de perto. A fisioterapeuta e consultora do sono está acostumada a atender mães desesperadas e, depois que se tornou uma delas, sabe ainda mais do que está falando.
Conheça os conteúdos exclusivos de Materna com acesso ilimitado.
Relacionadas
Vivi a privação de sono, foi muito exaustivo, parecia que não ia ter fim, e isso trouxe ainda mais empatia pelas mães que atendo.Talita Amaral, fisioterapeuta, consultora do sono e mãe do Léo, de 11 meses
A consultora não esperava ter dificuldades -estava confiante para colocar em prática tudo o que vinha trabalhando. "Eu tinha aquela certeza de que ia ser tranquilo, porque já sabia como conduzir, né? Pensava 'eu entendo, eu estudo'. E aí, meu bebê nasceu", conta rindo.
A falta de sono veio logo após o baby blues -transtorno emocional temporário comum no puerpério, caracterizado por tristeza, irritabilidade, choro fácil e alterações de humor, que geralmente começa entre três e quatorze dias após o parto. "Quando ele estava com 20 dias de vida, passei a enfrentar períodos de dez a doze horas de choro consecutivos, todos os dias. Isso me trouxe muito mais empatia pelas mães que atendo. A princípio, tinha calma para lidar, por conta da experiência, mas chegou uma hora em que comecei a ficar desesperada mesmo", lembra.
Ficar sem dormir no pós-parto (com emoções e hormônios à flor da pele) é de fazer qualquer uma achar que não há luz no fim do túnel. Ela só foi aparecendo à medida que Talita aplicava o que sabia, e quando seu filho, Léo, recebeu um diagnóstico. Ele tinha muitas cólicas, desconforto abdominal, refluxo, chegava a regurgitar "jatos", e dividia as noites em seis -mesmo com mãe e pai fazendo de tudo para acalmá-lo.
"Eu já vinha implementando coisas que tinha estudado, pouco a pouco ia ensinando ele a dormir, mas em muitos momentos precisei dar passos para trás e ficar com o meu bebê no colo, como muitas mães que estão passando por esse cansaço excessivo, que não conseguem dormir", admite.
Quando ele estava com quase três meses, os médicos descobriram a alergia à proteína do leite de vaca e o bebê começou o tratamento. "Foi quando realmente consegui colocar todas as minhas técnicas em prática e vendo resultados. E, desde os quatro meses, meu bebê dorme super bem!", comemora, enquanto dá entrevista e Léo, hoje com 11 meses, tira uma das sonecas do dia.
Antes de se tornar mãe e até mesmo consultora, a fisioterapeuta trabalhou com pediatria neonatal, e concluiu especialização em UTI pediátrica e emergências. Hoje, vivendo no Canadá, conta que, vendo a realidade das famílias de perto, sentiu o desejo de ajudar.
As mães saem despreparadas com seus bebês da maternidade. O sono não é uma matéria ensinada nas universidades para pediatras, médicos... Ninguém sabe instruir as famílias. Quando elas têm alta, não recebem orientações sobre isso.Talita Amaral, fisioterapeuta, consultora do sono e mãe do Léo, de 11 meses
Ter estudado fez diferença para não cometer erros que a maioria comete: mães e pais acabam se guiando por referência familiar, isto é, aquilo que foi vivenciado pela própria mãe, irmã, tia, cunhada... "Isso foi me chamando a atenção e despertou a curiosidade de estudar sobre o sono", diz Talita. A experiência com seu filho foi difícil, mas imagina sem as informações adequadas.
Santa rotina do sono
Estudos mostram que, para cerca de 70% dos pais, a maior dificuldade enfrentada após a chegada do bebê é a privação de sono -justamente por ele não dormir bem ou acordar excessivamente na madrugada. Muitos continuam chorando e fazendo das noites verdadeiras maratonas, o que leva às pesquisas constantes e nem sempre confiáveis na internet.
Tem muita informação disseminada errada. Criaram mitos em torno do sono infantil, como se fosse crueldade ensinar o bebê a dormir. Como se você não tivesse amor ou cuidado por ele. E não tem nada a ver com isso.Talita Amaral, fisioterapeuta, consultora do sono e mãe do Léo, de 11 meses
As técnicas são específicas para cada momento. A abordagem junto a um recém-nascido é completamente diferente da realizada com um bebê de 6 meses, por exemplo. "Até os três meses, eles precisam de mais contato, mais colo, do contato pele a pele com os pais. Estão no período de exterogestação, e é preciso tentar reproduzir o ambiente uterino aqui fora", exemplifica a mãe e consultora.
A dica, que ela própria usou, é reproduzir o apertadinho do útero - usando um swaddle, o que no Brasil é chamado de "charutinho". Além disso, é indicado colocar o bebê num bercinho menor, preparar o ambiente do sono e estabelecer uma rotina.
Rotina não é impor horários para dormir. É entender que a necessidade de sono do bebê vai mudando mês a mês. É por isso que as mães entram nesse conflito de que meu bebê nunca dorme. Ninguém explicou que essa necessidade vai mudando, e que precisa ir fazendo ajustes.Talita Amaral, fisioterapeuta, consultora do sono e mãe do Léo, de 11 meses
A rotina para seu bebê de 15 dias não vai funcionar quando ele tiver um mês, e a rotina de um mês não vai funcionar aos três. E ter o conhecimento do que exatamente é estabelecer uma rotina é o que vai mudar o jogo, ou melhor, suas noites.
A rotina é composta por coisas que acontecem durante o dia do bebê e coisas que a gente ensina para ele, ou seja, hábitos. O bebê precisa da hora da interação, do solzinho, das sonecas, das mamadas, do passeio, do banho. E lembre: hora não é necessariamente horário, e sim um período reservado para algo, mais longo ou mais curto, mais cedo ou mais tarde, de acordo com a idade da criança e a realidade da família.
"Óbvio que temos que alinhar a expectativa. Muita gente acha que bebê de um mês tem que dormir a noite inteira. E isso não vai acontecer, ele tem necessidade de se alimentar na madrugada. Precisamos alcançar o melhor sono possível para aquela idade correspondente do bebê", ressalta a consultora.
Levar em conta possíveis alterações fisiológicas e a avaliação médica para um diagnóstico - como aconteceu com o filho de Talita - também é fundamental. Assim como entender que um bebê maior com dificuldade de dormir pode estar com o que é chamado de insônia comportamental. Esse, inclusive, é um diagnóstico.
"Estudos mostram que uma média de 30% sofrem de insônia comportamental. E ela está relacionada a alguns fatores, como a dependência de uma terceira pessoa para poder conduzir o seu sono. E por que é comportamental? Justamente porque está relacionado a comportamentos, que podem ser mudados", explica a especialista.
Como corrigir o sono do pequeno?
Trocando hábitos que geram a dependência ou dificultam o sono, por outros que o ajude a conseguir descansar sem precisar de tanta ajuda, e sem despertar tanto. "É dar a autonomia, caso os pais queiram, porque isso também é importante se pensar. Muita gente acha que autonomia é uma coisa mandatória, e não é. Não tem esse peso absurdo que as pessoas colocam", sinaliza Talita.
Tem bebês que, sem você dar autonomia, vai dormir bem à noite. E outros que dependem da vontade e do gerenciamento dos pais. E nada disso passa necessariamente por deixar chorando, mas por entender como ajudar o bebê a se sentir 100% seguro - o que ele precisa para dormir. "Nosso colo é conforto, sempre. Não importa a idade dos nossos filhos. Eu dou colo para meu filho toda vez que ele precisa. Não é um problema", diz Talita.
O problema é que se disseminou o mito de que ensinar um bebê a dormir é ruim, por conta de métodos que o deixam o chorando. "Não é o que eu trabalho, mas eles têm eficácia comprovada cientificamente, e não traz traumas". Se você, assim como Talita, prefere não aderir a um desses métodos, conhecidos como cry it out, está tudo bem.
Há diversas formas de ensinar o bebê a dormir, como o de extinção gradual - escolhido por Talita, tanto como mãe como quanto consultora - onde se acolhe o bebê sempre que é preciso. "Não existe o melhor método, o melhor é aquele que se encaixa com a realidade daquela família em específico".