Sem libido: veja a solução para principal disfunção sexual das mulheres
Colaboração para Universa*
05/12/2024 19h00
A falta de vontade de transar pode ocorrer em qualquer etapa da vida da mulher e é mais comum do que se imagina, mesmo para quem está no auge da sexualidade. A diminuição da libido é a disfunção sexual que está em primeiro lugar entre as queixas femininas, seguida pela falta de orgasmo e dor na hora do sexo.
Para as mulheres que passam por essa situação, vale lembrar que não existe uma única razão, mas várias que fazem a libido simplesmente desaparecer. Primeiro é preciso avaliar de que forma a autoestima sexual foi construída, ou seja, como a mulher lida com sua sexualidade, se possui hábitos de erotização, por exemplo.
O segundo ponto é analisar se o relacionamento está interessante ou se há algo atrapalhando o sexo, como traição ou hábitos que tornam o coito mecânico. Por último, saber se há ocorrência de depressão, uso de antidepressivos ou anticoncepcionais, ocorrência de menopausa, entre outros.
Em 80% das vezes, o desejo da mulher é responsivo, ou seja, é ativado por um estímulo sexual. Ele costuma ser mais ativo no início da relação, quando há paixão e sedução. Mas em um relacionamento estável ela para de pensar em sexo, pois tem a falsa ideia de que a relação é segura. Além disso, trabalho, filhos, vida doméstica e pessoal atrapalham o desejo.
Motivos da falta de libido
A falta de libido pode ser primária, ou seja, quando a mulher nunca sentiu tesão na vida. Nesses casos, os motivos podem ser uma educação muito rígida e repressora, excesso de timidez, medo de se mostrar para o outro e até um trauma, como um abuso sexual. Já a causa secundária é quando estava tudo bem e o desejo foi se perdendo progressivamente. O termômetro para saber se algo está errado é ver se causa sofrimento para a mulher ou no casal.
As mulheres não foram educadas para terem autonomia sobre o sexo. Cresceram em uma sociedade cheia de tabus e crenças, onde tudo é proibido e feio. Muitas não tiveram uma educação sexual e, em alguns casos, a infância e a adolescência foram marcadas pela privação afetiva. Isso traz danos à vida adulta, pois ela acha que sentir qualquer desejo e vontade é pecado.
Como resolver o problema
O primeiro passo é procurar um ginecologista e eliminar qualquer suspeita de origem fisiológica, como desequilíbrio hormonal, doenças crônicas. É feita também uma análise dos medicamentos e do anticoncepcional que a paciente utiliza.
Como a mulher precisa ser avaliada por uma equipe multidisciplinar, a etapa seguinte é procurar um médico especializado em sexualidade, um psicólogo ou um terapeuta sexual. Por ser um assunto complexo, é preciso identificar as causas de forma geral. Muitas vezes, o ritmo de vida da mulher é tão intenso que ela só quer dormir de tão cansada. E sexo requer energia, senão torna-se mecânico.
Durante o tratamento, há uma orientação sobre os hábitos de erotização do casal. Se a mulher está cansada, será preciso propiciar momentos de relaxamento. O casal deve criar momentos de intimidade a dois, ter momentos de lazer, sair para dançar, tomar um vinho, assistir a uma série erótica, ir a um motel, por exemplo. Ou seja, retomar pequenos prazeres da vida a dois.
A terapia sexual propiciará o direcionamento adequado à mulher e ao casal, para que ambos se reconectem e se reencontrem. No caso da falta de orgasmo ou das dores na hora do sexo, é preciso que haja uma avaliação geral da paciente, muito semelhante a que é feita no caso de falta de libido.
A siririca que liberta
Vale lembrar que o autoconhecimento, por meio da masturbação, também é um grande aliado para uma vida sexual saudável em todos os sentidos. Ao se tocar e se conhecer, é possível explorar seus desejos e, consequentemente, chegar ao orgasmo. Com isso, fica mais fácil mostrar aos parceiros do que gostam.
"Tinha preguiça de transar"
Quando ainda estava casada, a fisioterapeuta Márcia*, 40 anos, percebeu que foi perdendo a libido de forma gradativa. Logo ela, que na época estava com 33 anos, no auge da sua sexualidade.
"Tinha preguiça de transar, não entendia muito bem o que estava errado, mas ficava bastante chateada, pois achava que meu casamento poderia acabar por conta disso. Após ler diversas matérias sobre terapia sexual, fui procurar ajuda", afirma.
Durante o tratamento, a fisioterapeuta descobriu que precisava se conhecer melhor, conversar com o parceiro. As travas no sexo tinham muito a ver com uma educação sexual repressora e com pouca informação, já que sua mãe engravidou muito nova, o que deixou algum tipo de trauma.
"A terapia sexual foi essencial nessa mudança em minha vida e em meus relacionamentos após o término do meu casamento. Eu fui sem saber muito bem o que estava acontecendo, só não tinha ânimo. A terapeuta fez muitas perguntas e muitas delas eu não entendia o fundamento, mas depois ficou tudo muito claro. A terapia faz você ir longe. Me livrei de crenças a respeito da minha sexualidade, minha autoestima melhorou e hoje me sinto mais segura."
*O nome foi trocado a pedido da entrevistada
Fontes: Carolina Carvalho Ambrogini, médica especialista em Sexualidade do ambulatório do Projeto Afrodite da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo); e Sabrina Munno, terapeuta e educadora sexual, com matéria publicada em 09/10/2019